Finlândia descobre região com esperança de vida de 83 anos e reacende debate sobre “Zonas Azuis”

Investigadores da Universidade Åbo Akademi identificaram a região finlandesa de Ostrobótnia, no oeste do país, como um possível novo exemplo de “Zona Azul” — termo usado para designar áreas onde se concentram pessoas que ultrapassam os 100 anos.

Expectativa de vida acima da média nacional e global

De acordo com a análise, os recém-nascidos em Ostrobótnia têm uma esperança de vida de 83,1 anos. O valor supera a média da Finlândia (81,6 anos) e fica muito acima da média mundial, estimada em 73,1 anos. Os autores sublinham que o resultado acompanha outros indicadores positivos do país, frequentemente classificado entre os mais felizes do mundo.

Os investigadores associam a longevidade local a um conjunto de factores: serviços públicos sólidos, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, contacto regular com a natureza, baixa desigualdade socioeconómica e um estilo de vida que privilegia alimentação equilibrada, actividade física regular e forte interacção social.

Comparação com as cinco “Zonas Azuis” clássicas

O conceito de Zona Azul surgiu em 2004 e passou a referenciar cinco regiões emblemáticas: Sardenha (Itália), Okinawa (Japão), Península de Nicoya (Costa Rica), Icaria (Grécia) e a comunidade adventista de Loma Linda (Estados Unidos). As semelhanças com Ostrobótnia residem nos hábitos alimentares à base de produtos frescos, na prática constante de exercício moderado e na coesão comunitária.

Além disso, as condições climáticas adversas do norte europeu parecem não afectar negativamente os índices de longevidade, indicando que a qualidade das políticas públicas e dos estilos de vida pode ter maior peso do que o ambiente físico em si.

Críticas à metodologia das Zonas Azuis

Apesar do entusiasmo suscitado, parte da comunidade científica afirma que a teoria das Zonas Azuis é demasiado simplista. Estes especialistas defendem que a longevidade resulta de uma combinação complexa de factores biológicos, genéticos, sociais e individuais, tornando insuficiente apontar apenas o local de residência como explicação.

Também são levantadas dúvidas sobre a fiabilidade dos registos de idade utilizados nalgumas regiões. Um exemplo citado envolve Okinawa, onde uma revisão governamental realizada em 2010 concluiu que 82 % dos alegados centenários já tinham falecido, mas as mortes não tinham sido oficialmente registadas. Este tipo de inconsistência põe em causa a comparação entre diferentes populações.

O que distingue Ostrobótnia

Ao contrário de zonas rurais isoladas, Ostrobótnia inclui cidades de média dimensão com infra-estruturas de saúde modernas. A região beneficia de um sistema de cuidados médicos preventivos, acesso universal à educação e políticas de bem-estar que procuram reduzir desigualdades. Segundo o estudo, tais elementos reforçam comportamentos saudáveis desde a infância.

A dieta local, rica em peixe, cereais integrais, vegetais e frutos silvestres, é apontada como outro factor determinante. Paralelamente, a população mantém rotinas diárias de actividade física leve, como deslocações a pé ou de bicicleta, e valoriza o convívio em família e entre vizinhos, ingredientes que se repetem nas Zonas Azuis tradicionais.

Próximos passos da investigação

Os autores tencionam aprofundar a análise com dados longitudinales para avaliar se o índice de centenários em Ostrobótnia se confirma nos anos seguintes. Planeiam igualmente comparar perfis genéticos e padrões de saúde com outras regiões finlandesas, de modo a isolar variáveis ambientais de factores hereditários.

Para já, o trabalho coloca a Finlândia no centro da discussão internacional sobre envelhecimento saudável. Mesmo que o estatuto de Zona Azul venha a ser formalmente reconhecido, os investigadores alertam que replicar o modelo exige mais do que mudar de endereço: implica adotar políticas públicas abrangentes e promover escolhas individuais consistentes ao longo da vida.

A discussão em torno de Ostrobótnia reforça, assim, a importância de avaliar criticamente as métricas usadas para aferir longevidade, ao mesmo tempo que sublinha o papel do ambiente social e institucional no bem-estar da população.

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