O avanço da inteligência artificial (IA) suscita receios semelhantes aos que acompanharam outras inovações tecnológicas. Dados recentes apontam, contudo, para ganhos económicos expressivos e para a necessidade de adaptação do mercado de trabalho.
Temores que se repetem na história tecnológica
No século XIX, a implementação da eletricidade despertou preocupações sobre incêndios e segurança pessoal. Apesar do ceticismo inicial, as redes elétricas impulsionaram a produtividade e mudaram a vida urbana. Já a computação pessoal, popularizada a partir da década de 1980, foi apontada como ameaça a vários ofícios, mas acabou por criar novas profissões, como programadores e analistas de sistemas.
Os receios associados à IA seguem a mesma linha. Tal como aconteceu com a eletricidade e a informática, especialistas recordam que o medo de perdas imediatas pode atrasar benefícios mais amplos.
Potencial económico da IA
Projeções citadas por consultoras internacionais estimam que a chamada IA generativa poderá acrescentar até 4,4 biliões de dólares à economia mundial em cada ano. O valor resulta do aumento de produtividade verificado em setores como saúde, educação, logística e serviços financeiros, onde o reconhecimento de padrões e a análise de grandes volumes de dados permitem acelerar processos e reduzir desperdícios.
Na prática, a tecnologia funciona como alavanca cognitiva: automatiza operações repetitivas e liberta recursos humanos para tarefas de maior valor acrescentado. O impacto financeiro projectado abrange ainda ganhos indirectos, como a redução de erros e a personalização de produtos e serviços.
Mercado de trabalho: impacto abrangente, não absoluto
Um relatório do Fundo Monetário Internacional, referenciado pela Organização das Nações Unidas, calcula que cerca de 40 % dos empregos em todo o mundo serão impactados pela IA. O documento sublinha que “impacto” não significa necessariamente eliminação de postos, mas alteração nas funções desempenhadas.
Segundo o estudo, as tarefas susceptíveis de automatização incluem actividades rotineiras de processamento de informação. Em contrapartida, cresce a procura de competências analíticas, criativas e de inteligência emocional. A instituição recomenda programas de requalificação para que trabalhadores possam transitar para funções complementadas pela tecnologia.
Mudança de perfil profissional
Com a automatização de processos básicos, actividades que exigem interpretação de resultados, tomada de decisão ética e capacidade de comunicação tendem a valorizar-se. Especialistas consultados em diferentes relatórios salientam que a IA não substitui o pensamento crítico humano nem a empatia, mantendo profissões centradas em inovação e relação com pessoas.
Para empresas, a recomendação passa por investir em formação contínua, planeamento de carreira e cultura de aprendizagem. Já governos são incentivados a desenvolver políticas públicas que apoiem a reconversão profissional e a inclusão digital, reduzindo o risco de desigualdades.
Desafios e responsabilidades
A adoção de IA levanta questões sobre privacidade, transparência algorítmica e equidade. Organizações internacionais defendem regulamentação que assegure utilização responsável da tecnologia. O debate inclui ainda a criação de estruturas de avaliação de risco e mecanismos de auditoria independente.
Analistas concordam que a ferramenta, por si só, não determina resultados positivos ou negativos. O efeito final depende da intenção e da competência de quem a desenvolve e aplica. Por esse motivo, universidades, empresas e entidades públicas discutem modelos de governança que conciliem inovação com salvaguardas sociais.
Conclusão
Os dados disponíveis mostram que a inteligência artificial traz potencial económico significativo e um impacto expressivo sobre o mercado de trabalho. A história sugere que receios iniciais podem ser mitigados por investimento em qualificação e por enquadramento regulatório adequado. A forma como sociedades e organizações enfrentam estes desafios determinará se o contributo da IA resultará em prosperidade ou em novas disparidades.