Zelenskyy reúne-se com líderes europeus antes da cimeira Trump–Putin no Alasca
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, chegou esta quarta-feira a Berlim para encontros presenciais com o Chanceler alemão, Friedrich Merz, e para uma série de videoconferências com dirigentes europeus e norte-americanos. As reuniões antecedem a cimeira prevista para o final da semana, no Alasca, entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o homólogo russo, Vladimir Putin.
Objetivo das reuniões em Berlim
Friedrich Merz convocou sucessivas sessões virtuais ao longo do dia com o propósito declarado de fazer chegar às negociações de Anchorage a posição de Kiev e das capitais europeias, excluídas do encontro bilateral. De acordo com o porta-voz do governo alemão, Steffen Meyer, o formato visa «tornar clara» a postura europeia antes das conversações entre Washington e Moscovo sobre um eventual fim da guerra na Ucrânia.
A agenda delineada prevê, primeiro, uma discussão restrita entre Zelenskyy e vários chefes de governo europeus. Cerca de uma hora depois, o chefe de Estado ucraniano tem marcada uma chamada conjunta com Donald Trump e o vice-presidente JD Vance. Num terceiro momento, participará num contacto com líderes da chamada «coligação dos dispostos», países que se mostraram disponíveis para acompanhar ou fiscalizar qualquer futuro acordo de paz.
Preocupações de Kiev e das capitais europeias
Nas vésperas da cimeira, Zelenskyy afirmou ter mantido mais de 30 conversações com parceiros internacionais e insistiu que não existe qualquer indício de que Moscovo pretenda negociar seriamente. Numa mensagem publicada no Telegram, o presidente reiterou que «é imprescindível manter pressão sobre a Rússia» para garantir uma paz «honesta» e evitar manobras de dissimulação do Kremlin.
Donald Trump tem descrito o encontro de sexta-feira como uma reunião exploratória para avaliar a disposição de Putin. Contudo, comentários recentes do líder norte-americano, sugerindo que Kiev terá de ceder parte dos territórios ocupados, causaram inquietação em várias capitais europeias. Governos da União temem que uma negociação sem a participação ucraniana possa favorecer Moscovo e consolidar ganhos territoriais russos.
Pontos de fricção
Segundo Zelenskyy, Vladimir Putin exige que a Ucrânia abandone os últimos 30 % da região de Donetsk ainda sob controlo de Kiev como condição para um cessar-fogo — proposta que o presidente classificou como «inaceitável e inconstitucional». O dirigente recordou que qualquer renúncia de soberania serviria apenas de plataforma para futuras ofensivas.
Do lado de Washington, a administração Trump, instalada há três semanas, retirou da mesa a possibilidade de adesão ucraniana à NATO e aconselhou a União Europeia e Kiev a assumirem a segurança regional, enquanto os Estados Unidos concentram atenções noutras frentes. Fontes comunitárias receiam que a Casa Branca se satisfaça com um simples cessar-fogo, privilegiando interesses económicos e uma eventual reabilitação internacional de Putin.
Situação militar no terreno
Enquanto decorrem as manobras diplomáticas, as forças russas aproximam-se da cidade de Pokrovsk, um ponto logístico crucial no Donbass. Analistas especializados em fontes abertas alertam que a perda deste centro pode comprometer as linhas de abastecimento ucranianas e fornecer a Moscovo um trunfo estratégico às portas da cimeira.
Em resposta, Kiev atingiu durante a madrugada de quarta-feira a estação de bombagem de petróleo de Unecha, na região russa de Briansk. De acordo com o Estado-Maior ucraniano, drones da Força de Sistemas Não Tripulados e da Direção Principal de Informações provocaram um incêndio significativo na instalação, que alimenta dois oleodutos com capacidade anual de 60 milhões de toneladas.
Expectativas para o Alasca
Trump tem mantido expectativas baixas para a reunião, declarando que pretende apenas «auscultar» Putin. Questionado sobre a inclusão de Zelenskyy nas conversações, o Presidente norte-americano evitou comprometer-se, admitindo apenas a hipótese de um encontro posterior tripartido ou separado entre Kiev e Moscovo.
A União Europeia continua a defender que qualquer entendimento deve envolver a Ucrânia, sob pena de legitimar a ocupação de territórios e encorajar novas ofensivas. Para já, o foco europeu centra-se em Berlim, onde Zelenskyy tenta alinhar posições e garantir que as exigências de Kiev — incluindo garantias de segurança a longo prazo — não fiquem fora da mesa quando Trump e Putin se sentarem frente a frente.

Imagem: Stefanie Dazio and Lorne Cook via globalnews.ca