Zelensky rejeita cimeira entre Trump e Putin no Alasca que exclui Ucrânia
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afastou a relevância da cimeira agendada entre Donald Trump e Vladimir Putin, prevista para sexta-feira no Alasca, advertindo que qualquer acordo de paz alcançado sem a presença de Kiev resultará em decisões «mortas» que não trarão estabilidade duradoura.
Zelensky exige participação directa nas negociações
Numa mensagem divulgada na plataforma Telegram, Zelensky reiterou que a integridade territorial da Ucrânia, consagrada na Constituição, «não é negociável». Sublinhou ainda que o país «não premiará» a Rússia pelo que considera actos de agressão desde a invasão de 2022. «Qualquer decisão tomada sem a Ucrânia é, simultaneamente, uma decisão contra a paz. Não funcionará», afirmou.
O posicionamento surge depois de Trump ter confirmado que se reunirá com Putin mesmo que o líder russo recuse dialogar com Zelensky. A possibilidade de Kiev ficar afastada das conversações alimenta receios de cedências territoriais. Fontes governamentais ucranianas admitiram, em reserva, que um pacto que reconheça a incapacidade de recuperar militarmente todos os territórios perdidos poderia ser considerado, mas apenas se Kiev estiver presente na mesa de negociações.
Cimeira no Alasca reforça simbolismo e pressão internacional
A reunião no Alasca, território vendido pelos russos aos Estados Unidos em 1867, carrega forte carga simbólica. O conselheiro de política externa de Putin, Yuri Ushakov, defendeu que a curta travessia do Estreito de Bering facilitaria a deslocação da delegação russa. Analistas recordam que o local pode ser usado por Moscovo para reforçar argumentos históricos sobre cessões territoriais.
Trump declarou que espera discutir «o fim da guerra» e admitiu, sem pormenores, a hipótese de «troca de territórios». Especialistas sugerem que o Kremlin poderá propor a devolução de áreas capturadas fora das quatro regiões anexadas em 2022, mantendo o controlo de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia.
A realização da cimeira em solo norte-americano marca uma quebra com a prática de encontros em países neutros, conferindo visibilidade a Putin após anos de isolamento diplomático. O gesto surge poucos dias depois de Trump ter ameaçado impor sanções adicionais à Rússia e tarifas secundárias a países que comprem petróleo russo, caso o Kremlin não mostrasse abertura para um cessar-fogo.
Manobras diplomáticas contrastam com intensificação dos combates
Enquanto a diplomacia se movimenta, o conflito mantém-se activo em várias frentes. De acordo com o governador regional de Kherson, Oleksandr Prokudin, dois civis morreram e 16 ficaram feridos quando um drone russo atingiu um minibús nos subúrbios da cidade. Na região de Zaporíjia, outras duas pessoas perderam a vida após ataque similar a um automóvel, confirmou o governador Ivan Fedorov.
A Força Aérea ucraniana informou ter intercetado 16 dos 47 drones lançados pela Rússia durante a noite, enquanto 31 aparelhos atingiram alvos em 15 localidades. Foi ainda abatido um dos dois mísseis disparados. Por seu lado, o Ministério da Defesa russo declarou ter derrubado 97 drones ucranianos sobre território russo e o Mar Negro, além de 21 aparelhos adicionais na manhã de sábado.
No terreno, as tropas russas prosseguem avanços graduais, mas dispendiosos em pessoal e equipamento. Apesar das baixas elevadas, Moscovo mantém bombardeamentos regulares sobre infra-estruturas civis ucranianas, agravando a crise humanitária e aumentando a pressão sobre Kiev antes de quaisquer negociações.
Incerteza sobre sanções e próximos passos
A Casa Branca não clarificou se a data-limite imposta por Trump para novas sanções se mantém após o anúncio da cimeira. Observadores consideram difícil prever a evolução da posição norte-americana, apontando mudanças frequentes de tom por parte do ex-Presidente. O investigador Nigel Gould-Davies, do think tank britânico Chatham House, qualificou a situação como um exercício de «cromologia», em referência às tentativas de interpretar sinais pouco claros de Moscovo durante a Guerra Fria.
Para Kiev, a mensagem é inequívoca: qualquer solução que não inclua representantes ucranianos será rejeitada. Resta saber se o encontro no Alasca se transformará num passo real em direcção à paz ou se resultará apenas em novo capítulo de pressões diplomáticas sem alteração no terreno.

Imagem: Samya Kullab And Elise Morton via globalnews.ca