Xi Jinping exibe poder militar ao lado de Putin e Kim em desfile em Pequim

Três líderes sob sanções marcam presença em Tiananmen

O presidente chinês, Xi Jinping, recebeu esta quarta-feira, em Pequim, os dirigentes da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e da Rússia, Vladimir Putin, para assistirem ao desfile que assinalou os 80 anos da vitória chinesa sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial. O encontro, realizado na Praça Tiananmen, reuniu mais de 20 chefes de Estado, mas o destaque recaiu no posicionamento de Xi entre dois dos líderes mais visados por sanções internacionais.

Logo no início da cerimónia, Xi cumprimentou Kim com um aperto de mão prolongado, saudou Putin em seguida e encaminhou-se para a tribuna, mantendo os dois convidados mais próximos. A imagem suscitou reação imediata do presidente norte-americano, Joe Biden, que, através da rede Truth Social, acusou os três dirigentes de conspirarem contra os Estados Unidos.

Desfile militar evidencia novas armas hipersónicas

Depois de uma salva de 80 tiros de canhão, tropas marcharam pela avenida Chang’an, seguidas de veículos blindados e material de última geração. Entre os equipamentos exibidos estavam um míssil nuclear com capacidade de lançamento por mar, terra e ar, projéteis hipersónicos anti-navio, sistemas laser de defesa contra drones, bem como submarinos e aeronaves não tripuladas usadas em operações de reconhecimento.

Xi percorreu toda a formação num veículo aberto para inspecionar as tropas antes do início da parada. Nas bancadas, cerca de 50 000 espectadores, incluindo veteranos de guerra, assistiram em silêncio ao desfile, transmitido em direto pela televisão estatal para milhões de lares chineses.

Simbolismo histórico e mensagem geopolítica

A presença conjunta de Xi, Putin e Kim no topo do Portão da Paz Celestial evocou a fotografia de 1959, tirada no mesmo local, onde Mao Zedong recebeu Kim Il-sung e Nikita Khrushchev. À época, a União Soviética liderava a relação tripartida; hoje, o papel dominante cabe a Pequim. Analistas observam que Pyongyang depende do apoio económico chinês, enquanto Moscovo procura legitimação internacional após a invasão da Ucrânia.

No seu discurso, Xi salientou que a humanidade enfrenta novamente «a escolha entre paz e guerra» e afirmou que a China «não se deixa intimidar por nenhum agressor». O líder garantiu ainda que «o renascimento da nação chinesa é imparável», sublinhando o investimento contínuo na modernização das forças armadas.

Ausências ocidentais e desafios internos

Vários países europeus optaram por não enviar representantes ao evento, num momento em que procuram soluções para o conflito na Ucrânia. A ausência ocidental contrasta com a participação de nações asiáticas e africanas, reforçando a imagem de um bloco liderado pela China que pretende contestar a ordem internacional dominada pelos Estados Unidos.

O desfile ocorre num contexto de abrandamento económico, crise imobiliária, envelhecimento populacional e elevado desemprego jovem na China. Observadores sustentam que a demonstração de força pode servir para alimentar o orgulho nacional e desviar a atenção de problemas internos.

Taiwan permanece no horizonte

Nas ruas adjacentes ao percurso, cidadãos chineses acompanhavam o sobrevoo de aeronaves militares. Alguns expressaram confiança de que Pequim reunificará Taiwan até 2035. A ilha, autogovernada desde 1949, continua a ser considerada pelo governo chinês uma província a integrar no futuro, não excluindo o uso da força. As capacidades navais apresentadas no desfile são vistas por especialistas como um recado directo a Taipé e aos seus aliados.

Aliança visível, intenções implícitas

Esta foi a primeira ocasião em que Xi, Putin e Kim surgiram publicamente lado a lado. A coreografia do evento conferiu visibilidade a uma parceria que, embora não formalizada em tratado militar, partilha o objectivo de reduzir a influência dos Estados Unidos. A Rússia procura apoio económico e diplomático para prosseguir a guerra na Ucrânia; a Coreia do Norte necessita de ajuda alimentar e tecnológica; a China ambiciona afirmar-se como potência primus inter pares num eixo oriental em expansão.

Com a exibição de armamento avançado, Pequim sinalizou a Washington e aos seus aliados a determinação em alcançar paridade estratégica. Ao mesmo tempo, ofereceu a Putin e a Kim um palco que contrasta com o isolamento que enfrentam noutras capitais. A conjugação destes factores sublinha o alcance geopolítico de um desfile que, embora destinado a celebrar um aniversário histórico, projectou sobretudo as ambições futuras da liderança chinesa.

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