VeriWatch: monitoramento de grávidas imigrantes pelo ICE gera atrasos em emergências médicas

O VeriWatch, smartwatch adotado pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) para vigiar pessoas inscritas no programa Alternativa à Detenção (ATD), vem impactando diretamente a assistência prestada a mulheres imigrantes grávidas. Relatos de hospitais indicam pânico, atrasos em cirurgias e receio de violações das regras de monitoramento justamente nos momentos mais críticos do parto.
- O que é o VeriWatch e como funciona o rastreamento
- Alcance do ATD e adesão atual ao VeriWatch
- Impacto do VeriWatch em partos de emergência
- Consequências para a saúde além do parto
- Precedentes envolvendo outros perfis monitorados
- Resposta das autoridades e lacunas de informação
- Expectativa para novos posicionamentos
O que é o VeriWatch e como funciona o rastreamento
O VeriWatch foi desenvolvido pela BI Inc. como um dispositivo de rastreamento contínuo menos visível que a tornozeleira eletrônica tradicional. Ainda assim, ele mantém exigências rigorosas: a remoção só pode ser executada por agentes do ICE ou da própria BI, e qualquer alteração não autorizada pode ser interpretada como tentativa de fuga. Além do relógio, o ATD impõe reconhecimento facial periódico por aplicativo, presença física para checagens regulares e, em alguns casos, tornozeleiras eletrônicas impossíveis de retirar sem autorização prévia.
Alcance do ATD e adesão atual ao VeriWatch
O programa ATD já chegou a monitorar quase 370 mil pessoas. Atualmente, cerca de 180 mil seguem sob supervisão ininterrupta. Entre elas estão gestantes que, mesmo em situação de emergência obstétrica, permanecem vinculadas ao relógio. O objetivo declarado é garantir comparecimento a audiências migratórias e evitar evasões. Na prática, porém, profissionais de saúde relatam que as exigências tecnológicas têm criado novos obstáculos, sobretudo nas salas de parto.
Impacto do VeriWatch em partos de emergência
Em um hospital do Colorado, uma mulher em trabalho de parto agendado para cesariana entrou em pânico ao descobrir que o VeriWatch precisaria ser retirado para o procedimento cirúrgico. Ela temia que a retirada inadvertida fosse encarada pelo ICE como descumprimento das regras, o que poderia resultar em detenção ou até em perda da guarda do recém-nascido. O relógio só foi removido após comunicação com as autoridades, processo que gerou atraso classificado pelos profissionais como crítico. Na obstetrícia, uma cesariana realizada alguns minutos antes de uma complicação pode ser decisiva para a saúde materna e fetal.
Outro relato descreve o alarme sonoro do smartwatch enquanto uma gestante de nove meses era atendida em plena sala de parto. O dispositivo apitou quando a bateria ficou fraca, criando tensão adicional num momento em que equipe médica buscava manter o foco em sinais vitais e contrações. Segundo funcionários, a paciente demonstrou apreensão de ser punida caso não recarregasse imediatamente o relógio.
Consequências para a saúde além do parto
Os efeitos do VeriWatch extrapolam as emergências obstétricas. Hospitais e centros voluntários em Chicago registraram redução de 30 % na presença de pacientes imigrantes para consultas regulares e na retirada de medicamentos prescritos. A vigilância intensa e o receio de violações técnicas — como falhas de bateria ou perda de conectividade — desencorajam idosos, gestantes e portadores de doenças crônicas a buscar atendimento preventivo.
Sem acompanhamento consistente, condições controláveis podem agravar-se. Profissionais relatam piores resultados clínicos em grupos monitorados quando comparados a pacientes não inscritos no ATD. Embora o estudo detalhado de morbidade não esteja disponível, o padrão observado inclui pré-natal iniciado tardiamente, intervenções de emergência mais frequentes e períodos pós-operatórios prolongados.
Precedentes envolvendo outros perfis monitorados
Gestantes não são as únicas afetadas pela rigidez dos dispositivos. Em 2025, um homem que apresentava recomendação médica para retirar a tornozeleira eletrônica buscou orientação do ICE antes de um procedimento de saúde. Em vez de obter autorização para remoção, acabou detido. O episódio reforçou entre imigrantes a crença de que qualquer solicitação relacionada ao equipamento pode levar à custódia imediata.
Casos semelhantes, ainda que não quantificados, foram relatados em diferentes estados. O denominador comum é a dificuldade de conciliar protocolos médicos com as condições impostas pelos dispositivos de vigilância. Quando há incompatibilidade entre tratamento e rastreamento, a tendência é adiar ou evitar a ida ao hospital, atitude que eleva o risco de complicações.
Resposta das autoridades e lacunas de informação
Procurados sobre os relatos de pânico, atrasos e resultados clínicos adversos, ICE e BI Inc. não responderam. Profissionais de saúde destacam a necessidade de orientações claras para situações de emergência, de modo que a remoção temporária do VeriWatch não gere penalidades. Enquanto isso, equipes médicas mantêm protocolos internos para acionar agentes responsáveis sempre que um procedimento exige a retirada do dispositivo, mas o contato nem sempre ocorre com a rapidez que o estado clínico do paciente exige.
Expectativa para novos posicionamentos
Até o momento, não há indicação oficial de revisão das regras do ATD nem previsão de ajuste nos procedimentos de remoção do VeriWatch em ambiente hospitalar. Profissionais de saúde aguardam explicações formais do ICE e da BI Inc. sobre a compatibilização entre monitoramento migratório e a urgência inerente aos cuidados obstétricos.

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