Trump critica mudança climática na abertura de seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, chamando o aquecimento global de “o maior golpe já perpetrado”. A fala contrastou com o alerta de nações insulares que veem o mar avançar e de cientistas que contabilizam mortos em ondas de calor, furacões e enchentes agravadas pelo clima.
O ex-presidente norte-americano afirmou que previsões do Painel da ONU “foram feitas por gente estúpida” e que, se países não abandonarem o “golpe verde”, fracassarão economicamente. Lideranças de Palau e Malawi classificaram a posição como “traição aos mais vulneráveis”.
Trump critica mudança climática na ONU e fala em ‘golpe’
Além de negar a ciência, Trump atacou energias renováveis, chamando a eólica de “piada” e “patética”. Disse ainda que contas de luz europeias triplicaram em relação às dos EUA, embora a Agência de Informação Energética dos Estados Unidos projete alta contínua nas tarifas internas até 2026.
Relatório de julho das Nações Unidas aponta, porém, que solar e eólica são hoje as fontes mais baratas e velozes para novas usinas. A Agência Internacional de Energia Renovável cita vento em terra, painéis solares e hidrelétricas como as três tecnologias de menor custo em 2023.
Trump defendeu ter retirado os EUA do Acordo de Paris porque “só Washington pagava a conta”. Dados do Global Carbon Project mostram que o país responde por 24% do CO₂ humano acumulado desde 1850, enquanto toda a África soma 3%. O pacto de 2015 é voluntário, mas juridicamente vinculante: cada signatário define sua própria meta de corte e contribuição financeira.
Ao exaltar o “carvão limpo”, o ex-presidente citou ordem interna para nunca usar a palavra “carvão” sem o adjetivo “bonito”. Pesquisadores de Stanford lembram que a queima do mineral mata milhões por ano, e que atribuir “pegada de carbono” a indivíduos foi estratégia de petrolíferas para tirar o foco de corporações.
Trump ainda acusou ambientalistas “radicalizados” de querer “acabar com as vacas”. Especialistas ouvidos pela reportagem original negam a proposta: o objetivo é reduzir o metano oriundo do gado e o desmatamento associado.
Para Adelle Thomas, vice-chair do IPCC e natural das Bahamas, a devastação é “vivida e mortal”. Ela recorda o impacto do furacão Sandy em 2012, justamente em Nova York, palco do discurso. “A evidência não é abstrata, exige ação urgente”, disse.
Embora Trump afirme que lixo marinho e “ar sujo de fora” prejudiquem os EUA, a comunidade científica atribui a piora da qualidade ambiental local à suspensão de normas pela própria administração anterior.
No balanço, o pronunciamento reforçou o fosso entre a Casa Branca de Trump e países que enfrentam riscos existenciais provocados pelas mudanças climáticas.
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Crédito da imagem: Global News