Trio da missão Shenzhou-20 retorna à Terra após semana extra no espaço causada por detritos

Três astronautas chineses concluíram, nas primeiras horas desta sexta-feira, um retorno que havia sido adiado por uma semana. Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie, integrantes da missão Shenzhou-20, pousaram com segurança na área de Dongfeng, na Região Autônoma da Mongólia Interior, às 4h45 pelo horário de Brasília. A permanência prolongada em órbita decorreu de danos sofridos pela cápsula que originalmente os traria de volta, problema atribuído a impactos de fragmentos de lixo espacial.
- O que motivou o atraso na volta
- A estratégia de evacuação adotada
- Sequência do pouso em solo chinês
- Experiência acumulada e recorde ampliado
- Atividades realizadas durante a estada
- Configuração da estação Tiangong
- Repercussões para a missão Shenzhou-21
- Paralelo com outros atrasos em órbita
- Próximos passos do programa tripulado chinês
O que motivou o atraso na volta
O cronograma inicial previa a reentrada da tripulação em 5 de novembro. Contudo, no procedimento preparatório para o desacoplamento da estação Tiangong, técnicos identificaram pequenas rachaduras na janela de visualização da nave Shenzhou-20. A Agência Espacial Tripulada da China (CMSA) atribuiu as fissuras a colisões com detritos presentes na órbita baixa da Terra. Como consequência, a cápsula foi classificada como insegura para a travessia atmosférica, forçando a permanência dos astronautas a bordo do complexo orbital por mais sete dias.
A estratégia de evacuação adotada
Para concretizar o regresso, a solução encontrada envolveu a utilização da cápsula da missão subsequente. Às 23h14 de quinta-feira, horário de Brasília, Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie deixaram o módulo central de Tiangong e ingressaram na nave Shenzhou-21. O veículo havia sido enviado duas semanas antes para levar outra tripulação ao laboratório espacial, permanecendo acoplado até então. Essa troca de espaçonave permitiu a desacoplagem sem comprometer a integridade dos taikonautas durante a reentrada.
Sequência do pouso em solo chinês
Após cerca de seis horas de voo autônomo, a Shenzhou-21 atravessou a atmosfera terrestre e abriu seus paraquedas sobre o deserto de Dongfeng. Equipes de resgate terrestres alcançaram a cápsula poucos minutos depois. Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, os três ocupantes foram retirados ainda nos assentos de suporte e demonstraram boas condições de saúde. As imagens divulgadas mostram o comandante Chen Dong erguendo o polegar ao ser transportado para avaliação médica preliminar.
Experiência acumulada e recorde ampliado
Veterano do programa tripulado chinês, Chen Dong completou sua terceira permanência orbital. Somando as missões anteriores, ele já detinha o maior tempo acumulado por um astronauta do país, com 416 dias fora da Terra. A nova contagem, encerrada nesta sexta-feira, elevou o total para 418 dias, estabelecendo um referencial inédito. Para Chen Zhongrui e Wang Jie, por sua vez, a Shenzhou-20 representou a primeira experiência no espaço.
Atividades realizadas durante a estada
Desde o lançamento da missão, em 24 de abril de 2025, o trio conduziu experimentos científicos, ações de divulgação e quatro caminhadas espaciais. Entre as tarefas concluídas nas saídas extraveiculares estiveram a instalação de escudos adicionais contra detritos e a fixação de novos equipamentos no exterior da estação. Essas operações exigiram coordenação com o controle em solo e contribuíram para aumentar a capacidade defensiva de Tiangong contra o mesmo tipo de fragmento que provocou o recente incidente.
Configuração da estação Tiangong
O laboratório orbital chinês possui 55 metros de comprimento distribuídos por três módulos. A dimensão corresponde a aproximadamente metade da Estação Espacial Internacional. Embora a ocupação habitual seja de três taikonautas, o projeto contempla a acomodação simultânea de duas equipes para facilitar transições de rotina ou respostas a imprevistos. Esse recurso revelou-se decisivo no episódio recente, pois permitiu que a tripulação de retorno utilizasse o veículo recém-chegado sem descontinuar as operações científicas a bordo.
Repercussões para a missão Shenzhou-21
O plano original previa que a equipe transportada pela Shenzhou-21 permanecesse acoplada por seis meses, período típico das estadias de longo curso do programa. Entretanto, devido à necessidade de ceder sua cápsula para o retorno da tripulação anterior, essa nave ficou menos tempo do que o projetado acoplada à estação. Para o futuro retorno dos novos ocupantes, a CMSA enviará a Shenzhou-22 vazia em momento considerado apropriado, garantindo a continuidade do protocolo de segurança.
Paralelo com outros atrasos em órbita
Casos de tripulações que permanecem além do previsto em estações espaciais não são inéditos. Um exemplo citado por especialistas envolve os norte-americanos Butch Wilmore e Suni Williams, que permaneceram cerca de nove meses na Estação Espacial Internacional após uma falha na cápsula Boeing Starliner, em missão originalmente planejada para durar pouco mais de uma semana. Situações desse tipo reforçam, segundo analistas, a importância de se desenvolver um sistema global destinado a missões de resgate de emergência no espaço.
Próximos passos do programa tripulado chinês
Com o retorno bem-sucedido da Shenzhou-20, a China mantém a cadência de voos regimentados desde a inauguração da estação Tiangong. O foguete Long March-2F continua sendo o lançador padrão para cápsulas tripuladas, e a infraestrutura em órbita recebe atualizações periódicas para ampliar a redundância e a proteção contra detritos. A sequência de missões planejadas inclui a chegada da Shenzhou-22, que servirá como veículo de escape para a tripulação atualmente em serviço, e novas cargas de experimentos destinados a expandir o portfólio científico conduzido no microgravidade do laboratório.

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