Submarino Álvaro Alberto: Marinha entra na fase nuclear e prevê entrega em 2034

Submarino Álvaro Alberto: Marinha entra na fase nuclear e prevê entrega em 2034

O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) chegou ao ponto de inflexão mais aguardado desde a sua criação. Após concluir o ciclo de construção das unidades convencionais, a Marinha do Brasil iniciou a etapa dedicada ao Submarino Nuclear Convencionalmente Armado Álvaro Alberto, primeiro meio de propulsão atômica planejado no país. A virada de chave ocorreu no Complexo Naval de Itaguaí, no litoral sul-fluminense, durante a apresentação do Almirante Karam (S43) e da mostra de armamento do Tonelero (S42), eventos que selaram o encerramento da fase anterior e liberaram recursos humanos, logísticos e financeiros para o novo desafio.

Índice

Quem conduz o projeto e onde ele acontece

A responsabilidade pela empreitada é da Marinha do Brasil, que mantém parceria técnica com o Naval Group, conglomerado francês especializado em sistemas navais. Toda a construção ocorre no Complexo Naval de Itaguaí, estrutura que reúne estaleiro, base de submarinos e unidade de produção de módulos de casco. A escolha da região foi estratégica: o local concentra infraestrutura preparada ao longo dos anos para absorver atividades de grande porte, além de facilidades logísticas para testes de mar e abastecimento de insumos.

De que avanço se trata

O passo desta semana foi a transição formal da Marinha para a fase nuclear do PROSUB. Ao concluir a produção dos quatro submarinos convencionais da classe Riachuelo — cujo exemplar mais recente é o Almirante Karam — o programa alcançou a maturidade industrial necessária para iniciar um navio de requisitos muito mais complexos. O encerramento do ciclo convencional libera, por exemplo, linhas de montagem, quadros de engenheiros especializados e fornecedores já qualificados.

Cronograma previsto e marcos principais

Segundo o planejamento divulgado pela força naval, o Álvaro Alberto deverá entrar em operação a partir de 2034. O calendário estabelece, como primeiro marco físico, a construção da popa, área que reunirá o equipamento propulsor e parte dos sistemas vitais do submarino. Na sequência virão seções centrais e a proa, até que o casco completo possa ser acoplado aos módulos internos.

O Complexo Naval de Itaguaí foi equipado com oficinas de alta precisão capazes de conformar placas grossas de aço e realizar soldagem em condições controladas. Esse aparato industrial é considerado fundamental para respeitar o prazo de nove anos projetado entre o início dos cortes de chapas e a incorporação definitiva da embarcação ao setor operativo da Marinha.

Desafios tecnológicos destacados pela Marinha

A tarefa mais sensível da construção é o reator de propulsão naval, núcleo que fornecerá energia ao sistema elétrico e aos motores. A equipe brasileira trabalha em um reator de água pressurizada, solução que mantém a água sob alta pressão para impedir a ebulição, mesmo em temperaturas superiores a 300 °C. Esse arranjo é o padrão mais adotado em usinas nucleares terrestres e, por consequência, o mais estudado e com maior base de dados de segurança.

Além do reator, o cronograma contempla o desenvolvimento de sistemas eletromecânicos e de controle, responsáveis por converter a energia térmica em propulsão e monitorar todas as variáveis do processo. O monitoramento exige sensores de radiação, temperatura e fluxo, além de softwares redundantes capazes de responder a variações instantâneas de carga.

Vantagens operacionais da propulsão nuclear

A adoção de um núcleo atômico resulta em autonomia extremamente superior à de submarinos convencionais, limitados pela quantidade de combustível fóssil e pela necessidade de recarregar baterias. Com o reator, o Álvaro Alberto poderá permanecer submerso durante períodos prolongados, aumentando a discrição e reduzindo a previsibilidade de suas rotas.

Outro benefício é a alta densidade energética do urânio enriquecido. De acordo com dados divulgados pela Marinha, uma pastilha do material possui potencial térmico equivalente a aproximadamente uma tonelada de carvão. Consequentemente, o submarino demanda menor espaço para armazenamento de combustível e gera menor comprometimento de peso, permitindo acomodar sensores, armamentos e equipamentos adicionais.

Como o projeto se insere no cenário internacional

Apenas cinco nações — Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido — dominam atualmente a construção de submarinos de propulsão nuclear. Ao concretizar o Álvaro Alberto, o Brasil passará a integrar esse grupo restrito e se tornará o primeiro país do hemisfério sul com capacidade comprovada de projetar, montar e operar tal tipo de embarcação.

Para a Marinha, essa conquista possui caráter de dissuasão estratégica. Submarinos nucleares são considerados ativos de alto valor militar, aptos a cumprir missões de defesa de costa, vigilância de áreas marítimas extensas e reconhecimento de longo alcance. O simples fato de existirem dificulta ações hostis, pois o possível adversário não sabe a posição exata da embarcação e deve redimensionar seu planejamento.

Motivações de soberania e independência tecnológica

O Álvaro Alberto homenageia o almirante que idealizou parte significativa do programa nuclear brasileiro. A escolha do nome reforça o objetivo de reduzir a dependência externa em um segmento considerado sensível. Ao internalizar o conhecimento de design, construção e manutenção, a Marinha cria uma cadeia de suprimentos local, envolvendo universidades, centros de pesquisa e empresas fornecedoras.

Essa base industrial oferece ainda potencial de exportação. Embora o tratado de Não Proliferação Nuclear imponha restrições à disseminação de tecnologias atômicas, componentes não nucleares de alto valor agregado — como sistemas de casco, propulsão convencional suplementar e soluções de controle — podem ser comercializados no mercado global, abrindo novas fontes de receita para o complexo de defesa nacional.

Etapas já concluídas antes da virada de fase

O PROSUB resultou, até o momento, em quatro submarinos convencionais da classe Riachuelo. O primeiro deles já se encontra em serviço, enquanto os demais avançam em diferentes graus de alistamento. Na última quarta-feira (26), o Almirante Karam (S43) foi apresentado no estaleiro fluminense, demonstrando a continuidade do cronograma mesmo após desafios logísticos impostos por obras de grande porte. Na mesma ocasião, ocorreu a mostra de armamento do Tonelero (S42), etapa que precede testes de mar e certificações finais.

Esses resultados cumprem dupla função: entregam capacidade real de patrulha de largas áreas marítimas e validam processos industriais que serão reaplicados, em escala maior, no submarino nuclear.

Próximos passos oficiais

Com a mudança de foco para o Álvaro Alberto, equipes de engenharia darão início à fabricação dos blocos estruturais da popa. Paralelamente, laboratórios de pesquisa continuarão os testes de elementos combustíveis, sistemas de resfriamento e blindagens internas do reator. A Marinha estabeleceu que cada etapa física será precedida por ensaios virtuais e simulações, estratégia que busca antecipar correções de projeto e reduzir a possibilidade de retrabalho.

A partir do momento em que o casco estiver fechado, o submarino seguirá para instalação de cabos, tubos e equipamentos eletrônicos. Na sequência serão executadas provas de cais, testes de choque e inspeções de infraestrutura nuclear. Somente após a certificação completa o navio será autorizado a realizar navegações de teste e, finalmente, a incorporação operacional estimada para 2034.

Importância econômica e social para a região

Embora o anúncio da Marinha se concentre nos aspectos militares, o projeto movimenta uma cadeia de empregos diretos e indiretos na região de Itaguaí. Empresas de metalurgia, soldagem especial, eletrônica embarcada e logística pesada já participam do PROSUB e devem intensificar a produção. O fluxo de investimento em infraestrutura também estimula serviços complementares, como transporte, hotelaria e formação profissional.

Dimensão histórica do empreendimento

O Álvaro Alberto é frequentemente descrito pela força naval como o maior projeto da história da Marinha. A classificação reflete o volume de recursos, o grau de inovação e o simbolismo envolvido. Ao unir a experiência adquirida com submarinos convencionais à ambição de operar um meio de propulsão atômica, o Brasil consolida décadas de pesquisa em energia nuclear e demonstra capacidade de transformar conhecimento científico em aplicação prática de defesa.

Com o cronograma nuclear oficialmente em curso, o PROSUB entra em sua fase mais complexa e, ao mesmo tempo, mais promissora. O desempenho das etapas iniciais em Itaguaí será determinante para que a Marinha cumpra a meta de colocar o Álvaro Alberto a serviço da defesa nacional no horizonte de 2034, marco que posicionará o país entre as nações com maior autonomia tecnológica no domínio naval.

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