SpaceX atinge 500ª missão orbital com foguete reutilizado e envia satélite Sentinel-6B para monitorar os oceanos

SpaceX concluiu na madrugada desta segunda-feira (17) a 500ª missão orbital conduzida com um foguete já usado anteriormente, reforçando a estratégia de reutilização que marca a atuação da empresa no setor espacial. O feito foi alcançado com a decolagem de um Falcon 9 a partir da Base da Força Espacial de Vandenberg, na Califórnia, às 1h21 pelo horário de Brasília. O lançamento transportou o satélite oceanográfico Sentinel-6B, componente do programa europeu Copernicus responsável por acompanhar, com elevada precisão, as variações do nível dos oceanos em escala planetária.
- Marco histórico de 500 lançamentos com foguetes reaproveitados
- Detalhes da operação com o Falcon 9
- Retorno controlado do primeiro estágio
- Programa Sentinel-6B e continuidade dos registros oceânicos
- Instrumentos científicos a bordo
- Colaboração internacional no Copernicus
- Papel do Starship nos planos de longo prazo
Marco histórico de 500 lançamentos com foguetes reaproveitados
A contagem de 500 missões refere-se exclusivamente a voos orbitais executados pela SpaceX em que o primeiro estágio do foguete já havia voado antes. O número ressalta o avanço obtido pela companhia no domínio de processos de pouso, recuperação e relançamento dos próprios veículos, prática que se tornou rotina operacional. De acordo com a presidente e diretora de operações Gwynne Shotwell, a reutilização abre caminho para transportar grandes cargas e, mais adiante, equipes humanas destinadas a estabelecer presença permanente fora da Terra — objetivo que envolve, no futuro, a Lua e outros destinos.
Embora o megafoguete Starship já tenha realizado 11 lançamentos experimentais, essas missões não entram na estatística dos 500 voos, pois se limitaram a perfis suborbitais. O Falcon 9, portanto, permanece como o principal vetor operacional da empresa enquanto o veículo de próxima geração continua em fase de testes.
Detalhes da operação com o Falcon 9
O foguete destacado para o lançamento do Sentinel-6B realizou seu terceiro voo. Em missões anteriores, o mesmo primeiro estágio transportou lotes de satélites da constelação Starlink. Nessa nova decolagem, o Falcon 9 cumpriu todos os marcos de sequência programada, desde a ignição dos nove motores Merlin até a separação de estágios, garantindo a inserção do satélite em trajetória de transferência rumo à órbita visada.
Cinquenta e sete minutos após deixar a plataforma, o estágio superior liberou a carga útil de 1 440 kg quando o conjunto se encontrava a 1 322 km de altitude. A partir desse ponto, o Sentinel-6B entrou na fase inicial de checagens de subsistemas, etapa que antecede o início pleno das atividades científicas.
Retorno controlado do primeiro estágio
Cerca de nove minutos depois da decolagem, o primeiro estágio do Falcon 9 executou a sequência de retropropulsão, reentrada e pouso, regressando com segurança à própria base de Vandenberg. O sucesso do retorno completou o ciclo de reutilização pela terceira vez para esse booster específico. Cada recuperação bem-sucedida contribui para reduzir intervalos entre missões e acumular dados que orientam manutenções pontuais, fundamentando a estratégia de voos repetidos.
Programa Sentinel-6B e continuidade dos registros oceânicos
O Sentinel-6B prolonga quase quatro décadas de medições precisas do nível do mar. Ele sucede o Sentinel-6 Michael Freilich, colocado em órbita pela SpaceX em 2020, garantindo que não haja descontinuidade nas séries temporais. Segundo informações do programa Copernicus, o nível médio global dos oceanos subiu aproximadamente 10 centímetros nos últimos 25 anos, um indicador essencial para o acompanhamento das mudanças climáticas.
Nos primeiros 12 meses de missão, o novo satélite operará em paralelo ao antecessor para viabilizar a calibração cruzada de instrumentos. Esse procedimento assegura compatibilidade dos dados obtidos por ambas as plataformas e eleva a confiabilidade científica das tendências registradas.
Instrumentos científicos a bordo
Duas cargas principais equipam o Sentinel-6B. O altímetro de radar, desenvolvido pela Agência Espacial Europeia (ESA), mede a altura da superfície oceânica com alta resolução. Já o radiômetro de micro-ondas fornecido pela NASA quantifica o conteúdo de vapor d’água na atmosfera acima do ponto de observação. As informações do radiômetro são empregadas para corrigir variações introduzidas pelo estado atmosférico, refinando a exatidão dos resultados obtidos pelo altímetro.
Colaboração internacional no Copernicus
O satélite é fruto de um esforço conjunto que envolve a Comissão Europeia, a ESA, a NASA, a Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos (Eumetsat), a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) e o Centro Nacional de Estudos Espaciais da França (CNES). Cada instituição assume responsabilidades específicas no financiamento, no desenvolvimento de instrumentos e no processamento de dados. O modelo de governança compartilhada viabiliza a distribuição global dos resultados, permitindo que comunidades científicas, governos e organizações de proteção costeira utilizem as informações para pesquisas e políticas públicas.
Papel do Starship nos planos de longo prazo
Apesar de não integrar a marca de 500 voos, o Starship permanece no centro da visão da empresa para missões tripuladas de maior alcance. O veículo, descrito pela própria SpaceX como o mais potente já construído, deverá transportar grandes volumes de carga e passageiros em viagens destinadas à Lua e, em perspectiva, a Marte. Os 11 ensaios suborbitais executados até agora fornecem dados sobre aerodinâmica, sistemas de proteção térmica e procedimentos de pouso, elementos que futuramente serão aplicados em missões orbitais completas.
Enquanto o desenvolvimento do novo foguete prossegue, o histórico recém-atingido pelo Falcon 9 demonstra a eficácia da filosofia de reutilização. Cada lançamento orbital bem-sucedido com propulsores reaproveitados acumula experiência operacional e consolida práticas que deverão ser transferidas para a próxima geração de veículos.

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