Smartphones vendidos na Coreia do Norte rodam Android modificado e censuram termos no próprio teclado

Smartphones vendidos na Coreia do Norte rodam Android modificado e censuram termos no próprio teclado

Um exame prático realizado com dois aparelhos contrabandeados da Coreia do Norte revelou um ecossistema móvel desenvolvido para vigilância constante e restrição máxima de informação. A análise, conduzida pelo criador de conteúdo britânico Arun Maini, concentrou-se em um modelo topo de linha chamado Samtaesung 8 e em um dispositivo de entrada não identificado. Ambos empregam versões modificadas do Android, respectivamente baseadas nas compilações 10 e 11, mas operam sob um conjunto de bloqueios que vai do teclado ao sistema de arquivos.

Índice

Dispositivos, momento e local da descoberta

Os dois telefones foram estudados fora do território norte-coreano após terem sido tirados do país de forma clandestina. O exame foi divulgado no dia 22 de novembro de 2025 em vídeo publicado no canal Mrwhosetheboss, ampliando informações já levantadas em um material anterior da BBC. O Samtaesung 8, classificado como topo de linha para o padrão interno, simboliza o que há de mais avançado no mercado local; o segundo aparelho representa a oferta básica disponível aos consumidores norte-coreanos.

Interface familiar, funções deliberadamente limitadas

À primeira vista, os ícones presentes nas telas sugerem a presença de funções usuais de qualquer smartphone moderno, como navegador, reprodutor de música, calendário e câmera. A investigação, entretanto, demonstrou que muitos desses aplicativos são meras fachadas. Alguns não chegam a abrir, enquanto outros iniciam exclusivamente para exibir publicidade. O objetivo principal parece ser convencer o usuário de que dispõe de um conjunto completo de recursos, mascarando a ausência de conectividade real.

Confinamento à intranet estatal

Nenhum dos dois modelos acessa a internet global. Em vez disso, eles se conectam a uma intranet mantida pelo governo, formada por sites e serviços previamente aprovados pela liderança norte-coreana. Essa limitação torna impossível a consulta a motores de busca internacionais, redes sociais estrangeiras ou plataformas de vídeo populares fora do país.

A estrutura de rede controlada também impede a instalação remota de aplicativos. Sempre que um usuário deseja obter software adicional, precisa dirigir-se a uma loja física e solicitar autorização formal. Mesmo quando concedida, essa permissão costuma ser temporária, o que garante a remoção automática do programa após um período estabelecido.

Fuso horário imutável e bloqueio de servidores externos

Os sistemas verificados vetam alterações de fuso horário e a sincronização de data e hora com servidores públicos. Essa barreira complica a coordenação de comunicação com pessoas fora do território norte-coreano e reforça o isolamento digital imposto pelo regime.

Biblioteca de conteúdo escolhida a dedo

Jogos, filmes e séries acessíveis dentro dos aparelhos passam por um processo de seleção rígido. Somente títulos liberados pelo governo aparecem nas lojas internas. O acervo inclui produções russas, indianas e, sobretudo, materiais que exaltam figuras da liderança política. Em alguns casos, obras internacionais de grande popularidade são disponibilizadas em cópias pirateadas, mas editadas para satisfazer as normas culturais e ideológicas norte-coreanas.

Censura automatizada no teclado

As restrições alcançam o nível da entrada de texto. Sempre que o usuário tenta digitar a expressão “Coreia do Sul”, o corretor automático substitui o termo por “estado fantoche”. O mecanismo também barra gírias ou referências relacionadas ao país vizinho, exibindo alertas sobre a proibição ou reescrevendo as palavras para versões consideradas aceitáveis.

Capturas de tela constantes e pastas inacessíveis

Um componente crucial do sistema de monitoramento é a criação automática de screenshots. A cada abertura de aplicativo, o sistema capta uma imagem da tela e armazena o arquivo em diretórios ocultos, inacessíveis ao usuário comum. Somente autoridades governamentais possuem meios de acessar esse material, o que transforma o telefone em um registro detalhado do comportamento do proprietário.

Compartilhamento sob assinatura digital

A movimentação de arquivos enfrenta obstáculos adicionais. Envios via Bluetooth ou cabo só são concluídos quando o item contém uma assinatura digital emitida pelo governo. Caso o usuário insista em transferir um conteúdo sem o certificado, o dispositivo pode bloquear ou excluir o arquivo. Na prática, essa política impede o trânsito livre de documentos, fotos, vídeos ou qualquer dado que não passe pela triagem institucional.

Estrutura de vigilância integrada ao cotidiano

A combinação de aplicativos falsos, teclado censurado, intranet estatal, bloqueio de horário externo, biblioteca controlada e registro de atividades cria um ambiente em que o telefone deixa de ser ferramenta de comunicação autônoma e passa a funcionar como extensão do aparato de vigilância. Cada ação do usuário é potencialmente observada, arquivada e cruzada com regras de conduta definidas pelo governo.

Consequências práticas para o usuário norte-coreano

Para o morador do país, o resultado final é uma experiência móvel fechada em múltiplos níveis. Não há como acessar serviços do Google, trocar mensagens por aplicativos internacionais ou simplesmente pesquisar informações não homologadas. A dependência da loja física para instalação de software estabelece um funil de controle adicional, e a ausência de comunicação criptografada livre impede qualquer canal seguro com o exterior.

Comparação entre modelo topo de linha e aparelho de entrada

Embora o Samtaesung 8 ofereça especificações mais avançadas de hardware, como tela de maior resolução e processador com desempenho superior, ambos os aparelhos analisados partilham as mesmas camadas de restrição. Isso demonstra que o cerne do sistema de vigilância está no software e não no nível de preço. Mesmo quem investe em um dispositivo considerado premium continua submetido às mesmas limitações de internet, censura e rastreamento.

Relação com análises anteriores

O estudo aprofundado por Arun Maini complementa achados já divulgados pela BBC sobre espionagem estatal. A nova investigação, entretanto, adiciona detalhes sobre a frequência de capturas de tela, o comportamento do corretor automático e as restrições de compartilhamento de arquivos, ilustrando de forma prática como cada camada tecnológica contribui para o isolamento informativo.

Elementos de design que mascaram o controle

O sistema operacional exibe layouts coloridos e ícones estilizados que remetem às interfaces convencionais do Android original. Segundo a análise, essa estética familiar serve para criar uma sensação de normalidade. No entanto, a impossibilidade de configurar preferências básicas ou acessar recursos fora da intranet logo revela a verdadeira função do software: manter o cidadão dentro de um conjunto estrito de permissões.

Limitações de atualização e manutenção

Por operarem em uma versão altamente modificada do Android 10 ou 11, os aparelhos dificilmente recebem atualizações de segurança oficiais da Google. As únicas atualizações disponíveis são aquelas emitidas pelo próprio governo norte-coreano, o que preserva a arquitetura de censura e impede que falhas de rastreamento sejam corrigidas pelo usuário.

Implicações de privacidade e liberdade de expressão

A soma de captação compulsória de dados, filtragem de palavras e acesso negado a fontes externas põe em questão qualquer noção de privacidade individual no âmbito digital. O telefone, longe de oferecer autonomia, age como veículo de reforço ideológico ao impedir que usuários consultem conteúdos alternativos ou compartilhem informações não homologadas.

Resumo do funcionamento dos celulares norte-coreanos examinados

• Sistema operacional: Android 10 ou 11 amplamente modificado.
• Conectividade: acesso exclusivo a intranet estatal, sem internet global.
• Instalação de aplicativos: possível apenas em lojas físicas, mediante autorização temporária.
• Conteúdo pré-aprovado: jogos, filmes russos e indianos e produções que exaltam líderes nacionais.
• Teclado censurado: substituição automática de palavras como “Coreia do Sul” por termos oficiais.
• Monitoramento: capturas de tela a cada abertura de aplicativo, guardadas em pastas inacessíveis.
• Compartilhamento: bloqueio de arquivos sem assinatura digital do governo.

Esses dados, obtidos a partir de unidades reais e contextualizados pela análise técnica, ilustram a extensão do controle exercido pelo governo norte-coreano sobre a experiência móvel. Em vez de dispositivos destinados a conectar pessoas, os smartphones locais cumprem a função de restringir, vigiar e moldar o fluxo de informações, reforçando as diretrizes estabelecidas pelo regime dentro e fora das fronteiras digitais.

zairasilva

Olá! Eu sou a Zaira Silva — apaixonada por marketing digital, criação de conteúdo e tudo que envolve compartilhar conhecimento de forma simples e acessível. Gosto de transformar temas complexos em conteúdos claros, úteis e bem organizados. Se você também acredita no poder da informação bem feita, estamos no mesmo caminho. ✨📚No tempo livre, Zaira gosta de viajar e fotografar paisagens urbanas e naturais, combinando sua curiosidade tecnológica com um olhar artístico. Acompanhe suas publicações para se manter atualizado com insights práticos e interessantes sobre o mundo da tecnologia.

Conteúdo Relacionado

Go up

Usamos cookies para garantir que oferecemos a melhor experiência em nosso site. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você está satisfeito com ele. OK