Simulações apontam desvio de rota do cometa interestelar 3I/ATLAS após encontro com Júpiter em 2026

Simulações apontam desvio de rota do cometa interestelar 3I/ATLAS após encontro com Júpiter em 2026

O cometa interestelar 3I/ATLAS, terceiro objeto proveniente de fora do Sistema Solar já identificado, deverá sofrer uma influência gravitacional relevante de Júpiter em março de 2026, antes de abandonar definitivamente a vizinhança solar. Essa conclusão foi apresentada em estudo disponibilizado no repositório arXiv e faz parte de um conjunto de 500 simulações que buscam reconstituir o passado remoto e projetar o futuro do corpo celeste, que se desloca a cerca de 58 km/s.

Índice

Descoberta e caracterização inicial

O 3I/ATLAS foi detectado em julho por meio do Sistema de Alerta Final de Impacto Terrestre de Asteroides (ATLAS). A alta velocidade observada, incomum para cometas que se formaram no entorno do Sol, indicou imediatamente uma origem externa à nossa estrela. Após análises orbitais preliminares, astrônomos confirmaram tratar-se do terceiro visitante interestelar já registrado, sucedendo o asteroide 1I/‘Oumuamua, observado em 2017, e o cometa 2I/Borisov, descoberto em 2019.

Desde o anúncio da descoberta, o objeto tem despertado curiosidade científica considerável, pois materiais preservados em sua superfície podem fornecer pistas sobre ambientes de formação estelar distintos daqueles do Sistema Solar. Apesar de especulações populares que sugeriram natureza artificial ou risco catastrófico, o estudo ressalta que não existe evidência que sustente tais afirmações.

Objetivo das novas simulações

Os astrônomos Goldy Ahuja, do Laboratório de Pesquisas Físicas de Ahmedabad, e Shashikiran Ganesh, do Instituto Indiano de Tecnologia de Gandhinagar, desenvolveram um modelo dinâmico para rastrear a trajetória do 3I/ATLAS. Utilizando pequenas variações nos parâmetros orbitais — prática comum para estimar incertezas — a dupla executou 500 integrações estatísticas. A abordagem permitiu reconstruir aproximadamente as interações gravitacionais sofridas ao longo de bilhões de anos, além de projetar o caminho que o cometa deverá seguir até deixar o Sistema Solar.

Hipóteses sobre a origem

Não há consenso sobre o ponto de partida do objeto, mas um cenário ganha força entre os pesquisadores: a ligação com o chamado disco espesso da Via Láctea — componente populacional caracterizado por estrelas mais antigas e órbitas inclinadas em relação ao plano galáctico. O padrão de movimento vertical do 3I/ATLAS, identificado nos cálculos, sugere comportamento compatível com corpos associados a esse disco. Caso essa hipótese seja confirmada, o cometa teria sido ejetado do entorno de uma estrela ancestral, possivelmente em seus estágios primordiais de formação planetária.

Modelagens anteriores descritas no mesmo artigo indicam ainda que o visitante não cruzou a região de influência de outras estrelas nos últimos 10 milhões de anos. Isso permite especular, com base apenas nos dados orbitais disponíveis, que ele percorre o espaço de maneira solitária há cerca de 10 bilhões de anos — intervalo superior à própria idade estimada do Sistema Solar, que é de 4,6 bilhões de anos.

Rota dentro da vizinhança solar

Os cálculos de Ahuja e Ganesh apontam que o cometa alcançou o Sistema Solar proveniente da direção da constelação de Sagitário. Depois de atravessar a região planetária, deverá seguir rumo à constelação de Gêmeos, deixando para trás a esfera de influência gravitacional do Sol em 2026. Essa previsão depende de diversos fatores, mas as simulações fornecem um panorama estatisticamente sólido sobre o itinerário provável.

Encontros gravitacionais previstos

Dois corpos do Sistema Solar foram identificados como potenciais agentes de perturbação da órbita do 3I/ATLAS: Marte e, principalmente, Júpiter. A massa do planeta gasoso é mais de 300 vezes a da Terra, e seu campo gravitacional domina a dinâmica de vários objetos que circulam entre as órbitas planetárias. Segundo o estudo, em 16 de março de 2026 o cometa passará próximo ao limite do raio de Hill de Júpiter — região em que a gravidade do planeta ainda prevalece sobre a solar para pequenos corpos.

A aproximação não implica captura nem colisão, mas é suficiente para provocar um ligeiro desvio de rota. A magnitude exata desse desvio dependerá da distância mínima alcançada e das condições físicas do próprio cometa no momento da passagem.

Influência de fatores não gravitacionais

Além de interações com planetas, a trajetória de um cometa pode ser modificada por fenômenos não gravitacionais, como a liberação de jatos de gás e poeira (desgaseificação) e a pressão da radiação solar. Os pesquisadores testaram diversos cenários envolvendo intensidades distintas de aceleração associada ao jato. Concluíram que forças muito baixas não alterarão significativamente o percurso; já emissões moderadas ou fortes poderiam redirecionar o objeto em ângulos apreciáveis. A quantificação desses efeitos requer observações adicionais para avaliar o nível de atividade do núcleo quando o cometa se aproximar de Júpiter.

Janela de observação com a sonda Juno

O estudo também avaliou oportunidades de acompanhamento em alta resolução. A sonda Juno, da NASA, que orbita Júpiter desde 2016, estará alinhada de modo favorável entre 9 e 22 de março de 2026. Nesses dias, a nave ficará próxima da linha imaginária que une o planeta ao 3I/ATLAS, oferecendo posição privilegiada para coleta de dados. Imagens de alta qualidade e medições espectroscópicas dessa perspectiva podem refinar parâmetros orbitais e revelar características da composição do cometa.

Importância científica

Estudar um visitante interestelar fornece acesso direto a materiais formados em condições distintas das encontradas no interior do Sistema Solar. A confirmação de que o 3I/ATLAS pode ter se originado em um sistema planetário antigo — possivelmente expulso de um disco primordial ou de uma exonuvem de Oort — amplia a relevância do objeto. Amostras de poeira e gelo que não sofreram ação prolongada da radiação solar poderiam preservar assinaturas químicas de estágios iniciais da galáxia, permitindo comparação com os constituintes dos cometas nativos.

Limitações e próximos passos

Apesar do grande número de simulações, os autores reconhecem lacunas. Pequenas incertezas nos elementos orbitais propagam-se rapidamente em escalas de bilhões de anos, dificultando a determinação exata do local de origem. Outro ponto crítico é a atividade física do cometa: sem dados observacionais contínuos, torna-se difícil estimar o nível de desgaseificação que ocorrerá quando ele se aproximar do periélio ou passar perto de Júpiter.

Para reduzir essas incertezas, campanhas de monitoramento em solo vêm sendo organizadas desde 2025, ano em que o 3I/ATLAS já esteve ao alcance de telescópios amadores e profissionais em dias específicos. Registros fotográficos obtidos na Áustria, em 19 de novembro de 2025, e em Porto Rico, em 17 de novembro do mesmo ano, evidenciam que o objeto exibe cauda tênue mas discernível, sinal de atividade cometária típica.

Panorama até a saída definitiva

Considerando o conjunto de dados atual, o visitante deverá acelerar gradualmente à medida que se afasta do Sol, reduzindo a influência gravitacional da estrela e do regime planetário. Depois do encontro com Júpiter, qualquer variação de rota será incorporada ao vetor de saída rumo à constelação de Gêmeos. Quando o cometa ultrapassar a heliopausa — região onde termina a influência do vento solar — seguirá viagem pelo espaço interestelar sem previsão de retorno.

Os próximos meses serão decisivos para refinamentos. Observações no infravermelho, espectroscopia de emissão e astrometria de alta precisão poderão esclarecer o nível de atividade, melhorar a solução orbital e, consequentemente, definir com mais rigor o efeito do encontro com Júpiter. Assim, o caso do 3I/ATLAS consolida-se como uma oportunidade única de compreender processos de ejeção de pequenos corpos em sistemas planetários e a influência de gigantes gasosos em rotas cometárias, seja dentro ou fora do Sistema Solar.

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