Rússia dispara mais do dobro de mísseis sobre a Ucrânia desde a posse de Trump

Quem recolhe os dados sobre ataques aéreos na Ucrânia registou uma duplicação do número de mísseis e drones russos lançados desde 20 de janeiro, data da tomada de posse de Donald Trump nos Estados Unidos.

Escalada após a mudança na Casa Branca

Entre 20 de janeiro e 19 de julho, os relatórios diários da Força Aérea ucraniana contabilizaram 27 158 munições russas — mais do dobro das 11 614 verificadas nos seis meses finais da administração anterior. A tendência ascendente já era visível em 2024, mas ganhou velocidade após a vitória eleitoral de Trump em novembro e atingiu o ponto mais alto da guerra.

O pico ocorreu a 9 de julho, com 748 projéteis lançados num único dia. Desde então, esse valor foi ultrapassado em 14 ocasiões. Durante a campanha, Trump prometera encerrar o conflito «num só dia» e afirmou que a invasão poderia ter sido evitada se o Kremlin “respeitasse” o ocupante da Casa Branca. Contudo, os números mais recentes indicam que os apelos de Washington a um cessar-fogo não se traduziram em abrandamento dos ataques.

Pauses nos envios de armas e reforço industrial russo

Críticos acusam a nova administração de enviar sinais contraditórios. Em março e julho, Washington suspendeu temporariamente o fornecimento de munições antiaéreas e outro material militar a Kiev, decisões entretanto revertidas. Durante essas pausas, Moscovo acelerou a produção interna: a inteligência militar ucraniana estima um aumento de 66 % na construção de mísseis balísticos no último ano, alcançando 85 unidades por mês.

Na área dos drones, a fábrica de Alabuga, no sul da Rússia, produz hoje cerca de 170 aparelhos Geran-2 por dia, nove vezes mais do que o previsto inicialmente, segundo declarações do responsável pela instalação. Imagens de satélite revelam a construção de novos armazéns e dormitórios para trabalhadores, corroborando a expansão do complexo.

Ao mesmo tempo, o Congresso norte-americano discute a entrega de mais baterias Patriot à Ucrânia. Cada sistema custa perto de mil milhões de dólares e cada míssil ronda os quatro milhões. O Presidente dos EUA autorizou a venda de armamento a aliados da NATO que, por sua vez, poderão reencaminhá-lo para Kiev, medida que poderá incluir novos sistemas Patriot.

Impacto no terreno e apelos a maior proteção

O aumento de artilharia aérea faz-se sentir diariamente nas cidades ucranianas. Em Kiev, explosões tornaram-se rotina para os habitantes, que passam a noite em abrigos sem saber se acordarão com novo ataque. A penetração de mísseis através da defesa antiaérea tem crescido, agravando o risco para infra-estruturas civis, incluindo hospitais, maternidades e a rede elétrica.

Peritos em defesa como Justin Bronk, do Instituto Real de Serviços Unidos, consideram que as restrições temporárias impostas por Washington deixaram a Ucrânia “mais vulnerável” a drones e mísseis. Já o senador democrata Chris Coons entende que o Kremlin se sente encorajado pela perceção de hesitação dos EUA e defende um reforço contínuo de assistência militar, argumentando que a paz só será alcançada se Moscovo perceber que não pode simplesmente “esperar pelo desgaste do Ocidente”.

Confrontado com a escalada, Trump exigiu publicamente ao Presidente Vladimir Putin um acordo de paz até 8 de agosto. Até ao momento, nenhuma das partes confirmou progressos significativos nas conversações indiretas que decorrem na Turquia, após uma ronda inicial de contactos entre o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio e o ministro russo Sergei Lavrov em Riade, em fevereiro.

Perspetivas e desafios

Com a produção russa em alta e a cadência de disparos em níveis recorde, a Ucrânia enfrenta o desafio de manter o ritmo de interceções, enquanto espera por novos lotes de mísseis antiaéreos ocidentais. O crescente desgaste da população civil e das infra-estruturas acentua a pressão por uma solução diplomática que, até agora, permanece distante.

Especialistas alertam que, sem um compromisso firme de fornecimento contínuo de defesas aéreas, Moscovo poderá prolongar a campanha de saturação, testando a resiliência ucraniana e a unidade dos aliados. A duplicação dos ataques nos últimos seis meses é, para já, o indicador mais palpável de uma guerra que continua a intensificar-se apesar das promessas de rápida resolução.

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Imagem: bbc.com

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