Reino Unido lança Atlantic Bastion e reforça defesa naval com embarcações autônomas e IA

Embarcações autônomas ganharam posição de destaque no novo programa de defesa Atlantic Bastion, anunciado pelo Ministério da Defesa do Reino Unido em 8 de dezembro de 2025. A iniciativa reúne navios convencionais, veículos subaquáticos não tripulados, aeronaves de patrulha e algoritmos de inteligência artificial (IA) em uma única rede digital desenhada para identificar, acompanhar e, quando necessário, neutralizar ameaças no Atlântico Norte.
- Por que o Reino Unido aposta em embarcações autônomas
- Como a rede Atlantic Bastion integra embarcações autônomas e meios tripulados
- Principais equipamentos autônomos do programa
- Fases de desenvolvimento, investimento e cronograma
- Participação industrial e colaboração internacional
- Impacto esperado na proteção de cabos e dutos submarinos
Por que o Reino Unido aposta em embarcações autônomas
A decisão de investir em sistemas autônomos decorre do ressurgimento de movimentações russas na região, culminando na recente presença do navio espião Yantar. Autoridades britânicas consideram que a capacidade de resposta rápida oferecida por veículos não tripulados é essencial para proteger cabos e dutos submarinos considerados vitais. Ao dispensar tripulação humana a bordo, essas plataformas conseguem permanecer em áreas de risco por períodos prolongados, reduzindo exposição de pessoal e expandindo a vigilância oceânica.
Como a rede Atlantic Bastion integra embarcações autônomas e meios tripulados
O Atlantic Bastion nasce como parte da Revisão de Defesa Estratégica do Reino Unido. Seu conceito central é o de força naval híbrida, na qual múltiplos tipos de plataformas compartilham dados em tempo real. O elo entre essas unidades é um sistema de detecção acústica alimentado por IA, capaz de absorver sinais subaquáticos, processá-los em poucos segundos e distribuir alertas para toda a frota.
Na prática, navios de superfície, submarinos, veículos não tripulados e aeronaves de patrulha P-8 Poseidon são conectados a uma “rede de alvo” digital. Ao receber indícios de atividade hostil, o sistema classifica a ameaça, sugere cursos de ação e permite que comandantes executem decisões com agilidade. Todo esse ecossistema está sendo encaixado na infraestrutura da Marinha Real Britânica e da Força Aérea Real, garantindo interoperabilidade entre domínios marítimo e aéreo.
Principais equipamentos autônomos do programa
Entre os ativos mais avançados do Atlantic Bastion destaca-se o Herne Extra Large Autonomous Underwater Vehicle (XLAUV). Produzido pela BAE Systems, o submarino não tripulado opera durante várias semanas sem necessidade de recolhimento, transporta carga útil modular e executa missões em águas profundas. A amplitude operacional do Herne inclui vigilância, coleta de dados e entrega de sensores em pontos estratégicos do leito marinho.
Complementando o XLAUV, o planador subaquático SG-1 Fathom foi selecionado por sua autonomia de até três meses. O veículo desliza de forma quase silenciosa na coluna d’água ou próximo ao fundo, enquanto seu sistema interno, guiado por IA, vasculha o ambiente em busca de anomalias. Essa característica é considerada essencial para monitorar extensos trechos de cabos e dutos sem interrupção.
Ao lado dos meios autônomos, a fragata Type 26 figura como plataforma de comando, oferecendo sensores de longo alcance e capacidade antissubmarino convencional. Já o avião de patrulha P-8 Poseidon amplia a detecção a distâncias maiores, usando boias acústicas lançadas do ar que se integram aos algoritmos de análise do Atlantic Bastion.
Fases de desenvolvimento, investimento e cronograma
O orçamento inicial reservado pelo governo britânico soma 14 milhões de libras esterlinas, equivalentes a cerca de R$ 101,5 milhões na cotação da data do anúncio. Esses recursos cobrem prototipagem, ensaios de mar e a primeira etapa de integração de software. Segundo o Ministério da Defesa, o desenvolvimento avança em ritmo acelerado, e a implantação operacional está prevista para começar em 2026. Nessa fase, novos aportes financeiros e a expansão da rede devem ser aprovados, consolidando a presença permanente dos sistemas híbridos no Atlântico Norte.
Embora o programa ainda se encontre em fase de testes, a infraestrutura de comunicação entre unidades já foi instalada em determinados navios e bases aéreas do Reino Unido. Exercícios de interoperabilidade realizados nas últimas semanas validaram a troca de dados acústicos entre um XLAUV, uma fragata Type 26 e uma aeronave P-8 Poseidon, demonstrando redução significativa no tempo total de resposta a contatos submarinos suspeitos.
Participação industrial e colaboração internacional
Vinte e seis empresas sediadas no Reino Unido e em outros países europeus contribuíram diretamente para o desenvolvimento de sensores antissubmarino adaptados ao Atlantic Bastion. Além desse núcleo inicial, outras vinte organizações trabalham em módulos de IA, sistemas de propulsão silenciosa, baterias de longa duração e redes de comunicação criptografadas. Essa configuração reflete o interesse de Londres em manter base industrial diversificada, ao mesmo tempo em que reforça relações estratégicas dentro do continente.
O compartilhamento de tecnologia com parceiros europeus ajudou a acelerar a maturidade de certos componentes, em especial os algoritmos de filtragem de ruído subaquático. Dessa forma, o Ministério da Defesa pretende alcançar a chamada “vantagem de decisão”, isto é, a capacidade de transformar dados brutos em comando acionável mais rápido do que o potencial adversário.
Impacto esperado na proteção de cabos e dutos submarinos
Cabos de transmissão de dados e dutos de abastecimento energético que percorrem o fundo do Atlântico Norte figuram entre as infraestruturas estratégicas mais sensíveis do Reino Unido. O Atlantic Bastion foi arquitetado especificamente para manter vigilância constante nesses ativos, reagindo a qualquer aproximação suspeita. Com a contribuição de embarcações autônomas, a cobertura das rotas submarinas amplia-se, e zonas antes consideradas difíceis de patrulhar recebem monitoramento regular sem sobrecarregar navios tripulados.
Autoridades britânicas destacam que, além de reforçar a soberania sobre águas nacionais, o programa cria um dissuasor tecnológico. A presença de sensores distribuídos e meios autônomos invisíveis à superfície aumenta o risco para qualquer ator que planeje interferir na infraestrutura submersa, elevando o custo de operações clandestinas.
A próxima etapa relevante ocorrerá em 2026, quando a tecnologia híbrida do Atlantic Bastion passará da fase de experimentação para a de serviço ativo, marcando o início de patrulhas operacionais contínuas no Atlântico Norte.

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