Poluição do ar em Nova Déli atinge 16 vezes o limite da OMS e autoridades recorrem à semeadura de nuvens

Uma densa névoa de poluentes encobriu Nova Déli na manhã desta segunda-feira (20), elevando a capital indiana a patamares de contaminação atmosférica que superam em 16 vezes o limite diário indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O fenômeno foi registrado por estações de monitoramento que apontaram concentração de 248 microgramas por metro cúbico (µg/m³) de partículas inaláveis do tipo PM2.5 em diversos pontos da metrópole.
- Quem é afetado: a cidade e seus 30 milhões de habitantes
- O que ocorreu: níveis de PM2.5 acima do padrão internacional
- Quando e onde: intensificação no inverno indiano
- Como: fontes de emissão e fatores agravantes
- Por que: decisões judiciais, tradições culturais e limitações técnicas
- Projeções: deterioração prevista e medidas imediatas
- Solução emergencial: teste inédito de semeadura de nuvens
- Consequências para a saúde: dados de mortalidade e grupos vulneráveis
- Comparação direta: limite da OMS versus realidade local
- Efeitos visuais e paralelos em outros cenários
- Próximos passos e monitoramento contínuo
Quem é afetado: a cidade e seus 30 milhões de habitantes
Com população superior a 30 milhões de pessoas, considerando a área metropolitana, Nova Déli figura de maneira recorrente nos rankings de capitais mais poluídas do planeta. O episódio desta segunda-feira impacta moradores de todas as faixas etárias, desde trabalhadores que dependem de deslocamentos diários até crianças expostas em trajetos escolares. O volume de poluentes, por ser fino o bastante para ingressar na corrente sanguínea, representa risco ampliado para quem sofre de doenças respiratórias ou cardiovasculares.
O que ocorreu: níveis de PM2.5 acima do padrão internacional
A medição de 248 µg/m³ de PM2.5 contrasta com o parâmetro de referência da OMS, que recomenda limite diário 16 vezes menor. A diferença evidencia a magnitude da contaminação: partículas passam com facilidade pelos filtros naturais do sistema respiratório humano e adentram tecidos pulmonares. A organização de monitoramento IQAir divulgou os valores que reforçam a gravidade da situação e indicam que o ar respirado na metrópole registrou um dos piores índices do ano.
Quando e onde: intensificação no inverno indiano
O episódio ocorreu no início da estação mais fria do país, período caracterizado por inversão térmica que aprisiona poluentes próximos à superfície. A combinação entre temperaturas mais baixas e estabilidade atmosférica forma uma barreira que dificulta a dispersão de gases e material particulado. Esse padrão se repete anualmente durante o inverno, transformando a camada de neblina densa em elemento visual frequente no horizonte da capital.
Como: fontes de emissão e fatores agravantes
Três vetores principais convergem para a formação do nevoeiro tóxico. Primeiro, a queima de restos agrícolas em regiões vizinhas libera grandes quantidades de fuligem que o vento conduz até a área urbana. Segundo, as emissões industriais, provenientes de fábricas localizadas dentro e nos arredores da cidade, adicionam compostos químicos à atmosfera. Terceiro, o tráfego intenso de veículos movidos a combustível fóssil injeta óxidos de nitrogênio, enxofre e mais material particulado no ar.
Além desses fatores permanentes, a noite de celebração do Diwali — o festival hindu das luzes — contribuiu para o pico atual. Fogos de artifício utilizados durante o evento liberam partículas finas em grande volume, intensificando a turbidez do ar. Embora a Suprema Corte indiana tenha flexibilizado, neste mês, a proibição total de artefatos pirotécnicos, limitando-os aos chamados “fogos verdes”, projetados para emitir menos poluição, anos anteriores demonstraram baixo índice de cumprimento das restrições.
Por que: decisões judiciais, tradições culturais e limitações técnicas
A decisão de autorizar fogos considerados menos poluentes busca reconciliar práticas culturais com metas ambientais. Contudo, a eficácia dessa medida depende de fiscalização e adesão popular. A tradição do Diwali tem forte apelo social, e a supremacia do costume sobre a regulação técnica frequentemente resulta em uso de artefatos convencionais, que geram mais resíduos tóxicos.
Projeções: deterioração prevista e medidas imediatas
A Comissão Governamental de Gestão da Qualidade do Ar informou que a qualidade atmosférica deve piorar nos próximos dias, perspectiva fundamentada nos modelos meteorológicos que indicam permanência das condições de baixa dispersão. Para mitigar o quadro, o órgão recomendou garantir fornecimento contínuo de energia elétrica, objetivo que visa diminuir a dependência de geradores a diesel nos períodos de pico de consumo.
Solução emergencial: teste inédito de semeadura de nuvens
Em resposta à escalada dos índices de poluição, as autoridades planejam realizar a primeira operação de semeadura de nuvens sobre a capital ainda neste mês. O procedimento envolve o disparo de sal ou compostos químicos no interior das formações atmosféricas por meio de aeronaves, com a finalidade de estimular precipitações. De acordo com o ministro do Meio Ambiente de Déli, Manjinder Singh Sirsa, a fase de testes de voo e o treinamento dos pilotos já foi concluída, restando apenas a execução em data adequada.
A expectativa é que a chuva induzida contribua para limpar o ar, arrastando partículas suspensas em direção ao solo e permitindo temporária melhora na qualidade atmosférica. Entretanto, o método depende da existência de nuvens aptas a receber os agentes nucleantes e não substitui ações estruturais de longo prazo.
Consequências para a saúde: dados de mortalidade e grupos vulneráveis
Um estudo divulgado pela revista The Lancet Planetary Health estimou, no ano passado, que 3,8 milhões de mortes ocorridas na Índia entre 2009 e 2019 guardam relação com a poluição do ar. As micropartículas PM2.5, pela capacidade de atingir a corrente sanguínea, estão associadas a doenças pulmonares crônicas, infartos e acidentes vasculares cerebrais.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) acrescenta que a exposição ao ar contaminado eleva o risco de infecções respiratórias agudas em crianças, público que apresenta vias aéreas em desenvolvimento e maior taxa de respiração por quilo corporal. Dessa forma, a população infantil de Nova Déli encontra-se em nível de vulnerabilidade acentuado durante episódios de poluição elevada.
Comparação direta: limite da OMS versus realidade local
Segundo os parâmetros da OMS, a recomendação diária para partículas PM2.5 estabelece valor 16 vezes inferior ao aferido na capital. A discrepância traduz um ambiente onde a respiração normal expõe o corpo humano a concentrações capazes de superar a capacidade de defesa natural dos pulmões, fator que explica o volume de enfermidades associadas à contaminação atmosférica no país.
Efeitos visuais e paralelos em outros cenários
Nas últimas semanas, diferentes regiões do Brasil observaram um céu alaranjado, resultado de partículas oriundas de queimadas e de poluentes atmosféricos. Embora geograficamente distante, o fenômeno visual recorda a tonalidade acinzentada de Nova Déli e reforça a ligação direta entre atividades que geram fumaça — sejam agrícolas, industriais ou festivas — e a qualidade do ar.
Próximos passos e monitoramento contínuo
As autoridades de Nova Déli acompanharão a evolução dos índices de poluição nos dias subsequentes, integrando dados de estações automáticas e projeções meteorológicas. A semeadura de nuvens, prevista para ocorrer ainda neste mês, será avaliada em termos de eficácia, enquanto a manutenção de fornecimento elétrico busca reduzir o uso de geradores a diesel.
Além das ações imediatas, a observação de como se comportarão as emissões provenientes de tráfego, indústria e queimadas agrícolas determinará a necessidade de restrições adicionais. A experiência deste inverno reitera a complexidade da gestão da qualidade do ar em uma metrópole de grande densidade populacional e forte atividade econômica.
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