Estudo PayPal aponta desconfiança e crédito restrito como travas para uso de IA em 70% das PMEs brasileiras

Quase todas as pequenas e médias empresas brasileiras já operam com algum recurso digital, mas a ampla adoção não se converte, por enquanto, em confiança plena nas tecnologias disponíveis. De acordo com o levantamento “Panorama PayPal: PMEs e o Comércio Digital no Brasil 2025”, 70 % dos empreendedores ainda não se sentem seguros com as soluções que utilizam, e essa falta de segurança se reflete na hesitação em adotar ferramentas mais complexas, como a Inteligência Artificial (IA). O mesmo percentual — sete em cada dez negócios — não recorre atualmente a sistemas baseados em IA, permanecendo distante de funcionalidades que poderiam automatizar processos ou impulsionar vendas.

Digitalização quase universal, confiança ainda frágil

O estudo mapeia um cenário no qual 99 % das PMEs já fazem uso de pelo menos uma ferramenta digital, seja para vendas on-line, gestão financeira ou relacionamento com clientes. Apesar da digitalização praticamente universal, a confiança nos sistemas permanece limitada. Entre os entrevistados, 72 % atribuem a insegurança a experiências negativas prévias, como falhas de funcionamento, suporte insuficiente ou mesmo perdas financeiras decorrentes de fraudes. O resultado é um paradoxo: a tecnologia está presente, mas não é plenamente endossada pelos seus próprios usuários.

IA fora do radar da maioria dos pequenos negócios

O reflexo direto dessa desconfiança é a baixa penetração das soluções de Inteligência Artificial. Sete em cada dez PMEs ainda não utilizam IA, mesmo em atividades corriqueiras, como automatização de atendimento ou análise de dados de vendas. A restrição de crédito, que atinge proporção idêntica no universo pesquisado, agrava o quadro e reduz a margem de investimento em inovações. Sem financiamento acessível, muitos gestores preferem postergar a adoção de novas tecnologias até que percebam benefícios comprovados ou recebam indicações seguras de provedores.

Motivações e receios que moldam o empreendedorismo

Quando a pesquisa volta o olhar para os estímulos que levam ao empreendedorismo, emergem dois objetivos centrais: liberdade financeira (60 %) e flexibilidade de tempo (47 %). Ainda assim, esses fatores positivos convivem com preocupações constantes. O medo de errar aparece em 55 % dos relatos, enquanto 45 % apontam a burocracia como uma barreira cotidiana e 40 % mencionam insegurança financeira. Esses elementos, somados à desconfiança tecnológica, formam um mosaico de cautela que se reflete em cada decisão de investimento.

Entraves operacionais e desafios de mercado

Além dos medos individuais, há obstáculos práticos que pesam no fluxo de caixa e na competitividade dos pequenos negócios. Segundo o levantamento, 51 % sentem a pressão de concorrer com grandes empresas, que frequentemente dispõem de orçamentos robustos para marketing digital e tecnologia. Paralelamente, 43 % relatam dificuldade para elevar o volume de vendas, e 41 % têm problemas em atrair novos clientes. Em um cenário em que os consumidores se acostumam a experiências de compra mais ágeis, a ausência de ferramentas avançadas — como IA para segmentação ou atendimento inteligente — contribui para ampliar essas disparidades.

Critérios de escolha de fornecedores tecnológicos

Quando o assunto é contratar um provedor de serviços digitais, a segurança figura como aspecto predominante para 49 % dos entrevistados. Em seguida aparecem facilidade de uso (39 %) e custos (33 %). A hierarquia desses critérios indica que as PMEs valorizam, acima de tudo, a confiabilidade de uma solução antes de avaliá-la pelo preço ou pela interface. Esse padrão de escolha reforça a necessidade de credibilidade por parte das empresas de tecnologia que atendem ao segmento.

Insegurança financeira e crédito restrito

A limitação de acesso a crédito atinge sete em cada dez pequenas e médias empresas, conforme revela o relatório. A dificuldade em obter financiamentos inibe investimentos em expansão e em atualização tecnológica, perpetuando a dependência de processos manuais ou ferramentas básicas. Na prática, muitas PMEs acabam em um ciclo de crescimento lento, pois não dispõem de capital para testar recursos de IA que poderiam racionalizar custos ou incrementar receitas.

Nuanças regionais do empreendedorismo digital

Mesmo com forte adoção de canais on-line em todo o país, cada região apresenta especificidades que influenciam as decisões de investimento.

Nordeste: Nesta região, 67 % dos empreendedores iniciam o negócio motivados por liberdade financeira. Porém, carecem de planejamento estratégico para gerar crescimento sustentável, o que reduz a propensão a testes de novas tecnologias.

Sudeste: O receio de perder conquistas já realizadas é mencionado por 52 % dos empresários locais. Para esse grupo, apoio jurídico é apontado como um diferencial na hora de consolidar operações digitais e enfrentar a formalização de novos processos.

Centro-Oeste: Com 60 % dos negócios afetados por insegurança financeira ligada a ciclos sazonais, os empreendedores dessa região demandam suporte logístico e operacional para mitigar flutuações de receita — condição que, muitas vezes, adia a aposta em IA.

Sul: Um total de 49 % busca equilibrar o negócio no longo prazo e enxerga o suporte jurídico como elemento indispensável. A preocupação com estabilidade precede a adoção de tecnologias emergentes.

Norte: A presença digital é quase absoluta, com 97 % utilizando redes sociais. Contudo, 55 % enfrentam dificuldade para formar parcerias, fator que limita a incorporação de ferramentas mais sofisticadas ou a negociação de crédito.

Confiança como alicerce para a próxima etapa de crescimento

Para a direção do PayPal no Brasil, a confiança — seja pessoal, institucional ou tecnológica — tornou-se uma “moeda” essencial para que as PMEs iniciem, escalem e prosperem. Sem credibilidade nas ferramentas e nos provedores que as oferecem, a evolução do setor fica comprometida. Assim, a combinação de segurança digital, acesso a crédito e suporte especializado desponta como conjunto mínimo para que a Inteligência Artificial avance da teoria para a prática no dia a dia das pequenas e médias empresas.