Parassocial torna-se Palavra do Ano 2025 do Cambridge Dictionary e reflete relações unilaterais com celebridades e IA

Parassocial, adjetivo usado para descrever laços emocionais de mão única entre indivíduos e figuras que não os conhecem, foi eleito Palavra do Ano de 2025 pelo Cambridge Dictionary. A escolha evidencia o destaque que conexões unilaterais alcançaram num contexto de idolatria a celebridades, consumo intenso de conteúdo digital e crescente interação com assistentes de inteligência artificial.
- O termo e seu significado atual
- Raízes históricas do conceito
- Por que a palavra ganhou força em 2025
- Atualização da definição para incluir inteligência artificial
- Riscos apontados por especialistas
- Cambridge destaca outras palavras de impacto em 2025
- Outras escolhas de palavras do ano
- Segundo adjetivo premiado pela instituição
- Perspectivas para o uso do termo
O termo e seu significado atual
De acordo com a definição registrada pelo Cambridge Dictionary, um relacionamento parassocial envolve a sensação de proximidade ou intimidade que alguém nutre por uma pessoa famosa, personagem fictício ou sistema de IA, sem que exista reciprocidade real. Assim, trata-se de uma percepção subjetiva de vínculo que flui em apenas uma direção: o admirador sente-se ligado, enquanto a figura admirada permanece alheia à existência dele.
A amplitude do conceito inclui desde fãs que acompanham cada detalhe da vida de ídolos da música até usuários que tratam chatbots como companheiros, solicitando conselhos ou confidenciando questões pessoais. Em todos os cenários, a identidade admirada não devolve afeto genuíno, pois não possui consciência da pessoa que a segue.
Raízes históricas do conceito
Embora a palavra tenha se popularizado somente em 2025, sua origem remonta ao trabalho dos sociólogos Donald Horton e Richard Wohl, da Universidade de Chicago, em 1956. Ao analisar programas televisivos daquela época, os pesquisadores perceberam que telespectadores referiam-se a apresentadores e atores como se fossem parte de seu círculo íntimo, chamando-os pelo primeiro nome e atribuindo-lhes características de amizade.
O fenômeno, no entanto, não surgiu com a televisão. Desde o século XIX já existiam registros de leitores que desenvolviam forte identificação com autores ou personagens literários, demonstrando que a sensação de familiaridade com figuras distantes acompanha a evolução dos meios de comunicação.
Por que a palavra ganhou força em 2025
Dados de buscas no Google e consultas ao Cambridge Dictionary apontaram picos de interesse ao longo de 2025. Um dos disparadores mais notórios foi o anúncio de noivado entre a cantora Taylor Swift e o jogador de futebol americano Travis Kelce, amplamente coberto pela imprensa em agosto. Muitos fãs reagiram à notícia como se recebessem confidências de uma amiga de infância, ilustrando o caráter unilateral do vínculo. Essa repercussão impulsionou a procura pela definição de parassocial.
Outro momento de visibilidade ocorreu quando o youtuber IShowSpeed bloqueou, em junho, um seguidor que se autodeclarava “parassocial número 1”. O episódio levou a comunidade on-line a debater limites no relacionamento entre criadores de conteúdo e público, reforçando a pertinência do termo.
Atualização da definição para incluir inteligência artificial
Em setembro, o Cambridge Dictionary expandiu oficialmente a entrada para contemplar vínculos estabelecidos com sistemas de IA. A revisão foi motivada por discussões sobre o impacto emocional de softwares como ChatGPT, Gemini, Grok e ferramentas da Meta. Nas interações diárias, usuários recorrem a assistentes virtuais não apenas para tarefas objetivas, mas também para suporte emocional, chegando a descrevê-los como amigos ou até terapeutas improvisados. A extensão da definição reconheceu que a mesma lógica de afeição unilateral se aplica a essas tecnologias emergentes.
Riscos apontados por especialistas
Para a psicologia social, a intensificação de laços parassociais pode gerar expectativas irreais e comportamentos extremos. A professora de psicologia social experimental Simone Schnall, da Universidade de Cambridge, salientou que tais relacionamentos podem induzir o público a crer que conhece e pode confiar plenamente nas figuras acompanhadas, alimentando lealdade exacerbada.
O debate sobre potenciais danos não se limita ao bem-estar individual. O Congresso dos Estados Unidos convocou empresas de IA a definir salvaguardas que protejam menores de idade da formação de vínculos excessivos com assistentes virtuais, demonstrando preocupação institucional com o fenômeno.
Cambridge destaca outras palavras de impacto em 2025
Além de parassocial, o Cambridge Dictionary evidenciou termos que retratam transformações recentes no universo digital:
Slop – conteúdo de baixa qualidade gerado por inteligência artificial, frequentemente distribuído em massa;
Pseudonimização – processo de substituir dados pessoais por códigos anônimos, prática relevante para regulamentações de privacidade;
Memeify – ato de converter um tema, situação ou produto em meme, ampliando sua circulação on-line.
No total, o dicionário incorporou cerca de seis mil novos termos em 2025, muitos relacionados à cultura digital, entre eles “skibidi”, “delulu” e “tradwife”.
Outras escolhas de palavras do ano
A seleção do Cambridge não ocorreu em isolamento. O Collins Dictionary, por exemplo, escolheu vibe coding como sua Palavra do Ano. O termo descreve a prática de programar por meio de sistemas de IA capazes de gerar, ajustar e otimizar códigos a partir de instruções em linguagem natural, sinalizando mais uma tendência marcada pela interação homem-máquina.
Segundo adjetivo premiado pela instituição
A vitória de parassocial traz outra curiosidade: é apenas a segunda vez que um adjetivo recebe o título de Palavra do Ano no Cambridge Dictionary. A primeira ocasião ocorreu em 2016, quando “paranoid” foi selecionada. O fato sugere que a edição de 2025 reconhece não apenas um fenômeno linguístico, mas um traço comportamental que define o “clima” cultural – o zeitgeist – do período.
Perspectivas para o uso do termo
Com a proliferação de plataformas de vídeo curto, transmissões ao vivo e agentes conversacionais cada vez mais personalizados, as relações unilaterais tendem a permanecer em evidência. Celebridades e criadores de conteúdo ampliam a sensação de proximidade por meio de atualizações constantes, enquanto empresas de tecnologia investem em experiências conversacionais capazes de sustentar diálogos longos e emocionalmente carregados.
Esse cenário sugere que parassocial continuará relevante tanto para pesquisadores quanto para o público geral, servindo de lente para compreender comportamentos que misturam entretenimento, tecnologia e vida cotidiana.

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