Oscar 2026: “O Agente Secreto” e “Apocalipse nos Trópicos” colocam o Brasil na lista de elegíveis

Dois longas-metragens brasileiros apareceram nas relações oficiais de elegibilidade divulgadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood para a temporada do Oscar 2026. “O Agente Secreto”, dirigido por Kleber Mendonça Filho, foi confirmado na lista de Melhor Filme Internacional; já “Apocalipse nos Trópicos”, de Petra Costa, integra o rol de produções que podem concorrer a Melhor Documentário e, teoricamente, também a Melhor Filme, categoria em que documentários nunca foram indicados.
- Publicação das listas de elegibilidade
- “O Agente Secreto” representa o Brasil na corrida a Filme Internacional
- “Apocalipse nos Trópicos” tenta vaga entre Documentários
- Etapas de seleção e calendário até a cerimônia
- Panorama das listas internacionais e documentais
- Implicações para o cinema brasileiro
Publicação das listas de elegibilidade
A Academia tornou públicas, nesta semana, três listas distintas: animação, documentário e filme internacional. O anúncio é o primeiro passo formal de cada corrida, pois somente os longas presentes nessas relações estão autorizados a prosseguir para as etapas seguintes do processo de premiação. No caso de Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário, a divulgação confirmou centenas de títulos provenientes de todos os continentes, sinalizando um recorte variado de estéticas, temáticas e panoramas culturais.
A presença de produções do Brasil nessas duas seleções amplia a visibilidade nacional na cerimônia. Para efeito de comparação, os países da América do Sul contam com representantes como “Belén”, da Argentina, “The Southern House”, da Bolívia, e “Kinra”, do Peru na disputa internacional; já no segmento documental, surgem propostas de diferentes origens, entre elas “BTS ARMY: Forever We Are Young”, “Among Neighbors” e “I Know Catherine, the Log Lady”. Todas, entretanto, compartilham a mesma condição inicial: precisam cumprir requisitos técnicos e de exibição para avançar.
“O Agente Secreto” representa o Brasil na corrida a Filme Internacional
Dirigido por Kleber Mendonça Filho, “O Agente Secreto” parte de um enredo ambientado no Brasil dos anos 1970. O roteiro acompanha um professor submetido à vigilância do regime militar, tema que, aliado ao contexto histórico, vem despertando interesse em mostras e festivais internacionais. Estrelado por Wagner Moura, o longa repete a estratégia de produções que utilizam dramas pessoais para iluminar períodos politicamente conturbados.
Além de reforçar a tradição do diretor em retratar camadas sociais e políticas brasileiras, a obra cumpre os critérios básicos para participar da categoria internacional: produção majoritariamente não falada em inglês e lançamento comercial dentro do período de elegibilidade. Com a confirmação na lista, o filme passa a disputar uma vaga entre os 15 finalistas que serão divulgados em 16 de dezembro. A etapa posterior – votação de todos os membros da Academia – determinará os cinco indicados oficiais que concorrem à estatueta em janeiro de 2026.
“Apocalipse nos Trópicos” tenta vaga entre Documentários
“Apocalipse nos Trópicos” é assinado por Petra Costa e chegou ao público em julho, fruto de parceria com a Netflix. O documentário investiga a crescente influência do movimento evangélico sobre a política brasileira, delineando um panorama social que se tornou recorrente no debate público do país. Dentro das regras da Academia, a obra é elegível não apenas a Melhor Documentário, mas, teoricamente, também a Melhor Filme; no entanto, nenhum documentário alcançou essa façanha na história do prêmio, o que torna a eventual indicação ao grupo principal estatisticamente improvável.
Na prática, o filme de Costa busca primeiro posicionar-se entre os 15 documentários que serão selecionados por um comitê especializado. Diferentemente da categoria internacional, onde a votação é aberta a todos os associados, a análise dos documentários é restrita a membros com experiência comprovada no formato. Depois de formada, a shortlist também será publicada em 16 de dezembro, antecedendo a votação final marcada para o período de 8 a 12 de dezembro.
Etapas de seleção e calendário até a cerimônia
O caminho até o palco do Teatro Dolby, em Los Angeles, compreende fases sucessivas de cortes. Após a divulgação das listas de elegibilidade, cada categoria passa por um filtro que reduz a relação de títulos a 15. A triagem, que leva em conta avaliações artísticas, técnicas e critérios formais, será concluída em meados de dezembro.
Entre 8 e 12 de dezembro, a Academia realiza uma segunda rodada de votação para transformar as shortlists em indicações definitivas. As cinco produções de Melhor Filme Internacional serão decididas por sufrágio universal entre os associados, enquanto os documentaristas elegem os cinco finalistas de seu segmento. O público conhecerá todos os indicados em 22 de janeiro de 2026, data do anúncio oficial da premiação.
Com a confirmação das indicações, inicia-se a fase de campanha final, período em que equipes de cada longa promovem exibições especiais, entrevistas e material de divulgação. Embora as regras de marketing possuam limitações definidas pela Academia, a visibilidade conquistada na shortlist já impulsiona agendas de coletivas e debates, sabidamente determinantes para o reconhecimento internacional dos projetos.
Panorama das listas internacionais e documentais
Na relação de Melhor Filme Internacional, “O Agente Secreto” figura ao lado de obras de nações europeias, asiáticas, africanas e latino-americanas. Entre os exemplos presentes estão “Sound of Falling”, da Alemanha; “Hijra”, da Arábia Saudita; “Peacock”, da Áustria; “No Other Choice”, da Coreia do Sul; e “Red Rain”, do Vietnã. A diversidade de idiomas, estilos narrativos e orçamentos confirma o caráter global da disputa e amplia o desafio de prever os 15 selecionados.
Quanto à categoria de documentário, a listagem revela um amplo espectro temático. Entre títulos que investigam política, cultura pop, esportes, conflitos e biografias, aparecem produções como “BLKNWS: Terms & Conditions”, “Grand Theft Hamlet”, “Riefenstahl” e “Torn: The Israel-Palestine Poster War on New York City Streets”. “Apocalipse nos Trópicos” insere-se nesse mosaico com um recorte brasileiro, focado na interseção entre religião e poder.
Implicações para o cinema brasileiro
A presença simultânea de duas produções nacionais em categorias distintas oferece ao setor audiovisual brasileiro uma chance de exposição ampliada na principal premiação do cinema mundial. O reconhecimento prévio, ainda que limitado à fase de elegibilidade, funciona como selo de qualidade e potencializa circuitos de festivais, vendas internacionais e lançamentos em serviços de streaming.
Além disso, a confirmação fortalece a percepção de pluralidade temática na filmografia do país. Enquanto “O Agente Secreto” revê um momento histórico marcado pelo autoritarismo, “Apocalipse nos Trópicos” observa transformações sociopolíticas contemporâneas. A coexistência de estilos – ficcional no primeiro caso e documental no segundo – ilustra a variedade de abordagens utilizadas por cineastas brasileiros para dialogar com questões internas e, ao mesmo tempo, estabelecer contato com plateias estrangeiras.
Nos próximos meses, todos os olhos do setor se voltam para o calendário divulgado pela Academia. A expectativa pela shortlist em 16 de dezembro será o primeiro termômetro real de desempenho das candidaturas. Caso confirmadas nessa etapa, as produções brasileiras avançarão para a fase decisiva de votação, cujo resultado final – os vencedores do Oscar 2026 – será revelado em 22 de janeiro de 2026.

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