Netflix negocia compra da Warner Bros. e HBO Max por US$ 70 bilhões

Netflix entrou na fase de negociações exclusivas para adquirir os estúdios da Warner Bros. e o serviço de streaming HBO Max, em uma operação estimada em US$ 70 bilhões que pode alterar de forma significativa a configuração do setor de entretenimento.

Como a proposta da Netflix se destacou

O processo competitivo contou com ofertas de diversos conglomerados, entre eles Paramount e Comcast. De acordo com informações reunidas durante as tratativas, a proposta da Netflix chegou a aproximadamente US$ 28 a US$ 30 por ação da Warner Bros. Discovery (WBD), superando o lance de US$ 27 apresentado pela Paramount. Essa diferença, ainda que aparentemente pequena em termos percentuais, representou vários bilhões de dólares no montante final e garantiu vantagem decisiva à gigante do streaming.

Enquanto a Paramount planejava adquirir todo o grupo, incluindo canais lineares como CNN, TNT e TBS, a Netflix concentrou seu interesse no núcleo formado pelos estúdios de cinema e televisão da Warner Bros. e pelo HBO Max. Esse recorte atendeu ao desejo do conselho da WBD de separar suas unidades de negócios, facilitando a aprovação interna da transação.

Fontes próximas às negociações apontam que a afinidade entre as equipes executivas também influenciou o desfecho da disputa. Conselheiros da WBD teriam avaliado positivamente a sintonia estratégica apresentada pelos representantes da Netflix, fator que pesou contra as reclamações formais da Paramount sobre possível tratamento preferencial.

Detalhes financeiros: valor por ação, taxa de ruptura e empréstimo bilionário

A oferta da Netflix não se destacou apenas pelo preço por ação. O pacote inclui um break-up fee de US$ 5 bilhões — quantia a ser paga à WBD se o acordo for barrado por autoridades regulatórias. Esse tipo de garantia financeira costuma ser excepcional, mesmo em aquisições corporativas de grande porte, e foi inserido para reforçar a confiança do conselho da WBD na robustez da proposta.

Para viabilizar o desembolso total de cerca de US$ 70 bilhões, a Netflix busca um empréstimo de magnitude igualmente elevada. As tratativas relacionadas ao financiamento ocorrem em paralelo às conversas sobre o desenho final da operação e à preparação de documentos que serão encaminhados a órgãos de concorrência nos Estados Unidos e na Europa.

A soma dos fatores — preço superior, break-up fee expressivo e estrutura de capital delineada — compôs um pacote que nenhuma outra interessada conseguiu igualar no atual estágio do processo.

Possíveis obstáculos regulatórios à transação da Netflix

Apesar do avanço, o fechamento depende de análise detalhada de entidades antitruste. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos já sinalizou preocupação com a concentração de mercado que pode emergir do encontro entre o maior serviço de streaming global e uma das bibliotecas de conteúdo mais tradicionais de Hollywood. Em território europeu, autoridades também observam potenciais efeitos sobre a concorrência regional.

Durante a disputa, a Paramount buscou fortalecer o discurso de que a fusão não deveria ser aprovada, principalmente ao apontar o alcance pré-existente da Netflix em mais de 190 países. Representantes da empresa compareceram a reuniões em Washington, inclusive com aliados políticos ligados ao ex-presidente Donald Trump, para enfatizar o risco de redução de opções aos consumidores e de futuras barreiras a novos entrantes no mercado de streaming.

Embora as autoridades ainda não tenham emitido decisão formal, a pauta regulatória desponta como principal variável de risco. Caso qualquer órgão imponha condições consideradas inviáveis, o break-up fee de US$ 5 bilhões passará a ter protagonismo, compensando a WBD por eventual frustração do negócio.

Repercussões esperadas para cinema, televisão e modelo de streaming

A aquisição colocaria sob controle da Netflix propriedades intelectuais de grande porte, entre elas as franquias Harry Potter e DC Comics. Executivos do setor cinematográfico manifestam receio de que o novo dono reduza a quantidade de lançamentos em salas de exibição, consolidando o foco no lançamento direto via streaming. Essa possibilidade causa inquietação em cadeias de cinema que ainda se recuperam de impactos recentes no volume de público.

No campo televisivo, a HBO construiu reputação com produções concebidas em ciclos prolongados de desenvolvimento e ênfase em qualidade autoral. Observadores temem alteração desse ritmo em função do modelo característico da Netflix, baseado em produções simultâneas e lançamentos frequentes para manter a base global de assinantes engajada. Mudanças na identidade da marca HBO, caso ocorram, podem repercutir sobre profissionais criativos e produtores independentes que tradicionalmente buscam o canal para projetos de prestígio.

Ao mesmo tempo, especialistas do mercado enxergam na operação um possível ponto de inflexão para a estrutura de janelas de exibição. A união de um catálogo de clássicos de cinema a uma plataforma com mais de 247 milhões de assinantes pagos (número divulgado pela própria Netflix no último trimestre) pode incentivar novas estratégias de estreias híbridas, combinando períodos reduzidos em cinemas, streaming imediato ou mesmo exclusividade digital.

Destino dos canais lineares da Warner Bros. Discovery

Enquanto a negociação se concentra na venda dos estúdios e do HBO Max, canais lineares como CNN, HGTV, TNT, TBS e Food Network devem ser realocados para uma empresa independente, conforme planejamento da WBD iniciado em outubro. A segregação dessas unidades responde tanto ao perfil dos compradores interessados — com a Netflix focada em conteúdo sob demanda — quanto às exigências de eventuais avaliações antitruste.

A criação da nova companhia permitirá que os canais continuem operando modelos baseados em transmissão tradicional, receita publicitária e acordos de distribuição com operadoras de TV por assinatura, sem necessidade de integração imediata ao ecossistema de streaming da Netflix. Esse desmembramento segue tendência de especialização de ativos de mídia entre plataformas digitais e emissoras lineares.

Próximos passos antes da conclusão da compra

Fontes ligadas às empresas afirmam que o anúncio oficial do acordo pode ocorrer nos próximos dias, abrindo fase intensiva de diligência regulatória. Durante esse período, Netflix, WBD e os órgãos de concorrência trocarão informações detalhadas sobre participação de mercado, estratégia de preços e práticas de distribuição.

Até que todas as aprovações sejam concedidas, os estúdios da Warner, o HBO Max e a própria Netflix seguirão operando de forma independente, mantendo contratos existentes com produtores, exibidores e distribuidores. Consumidores, portanto, não devem perceber alterações imediatas nos catálogos ou nos cronogramas de lançamento.

Assim que concluída a avaliação governamental, as partes poderão avançar para o fechamento financeiro, com liberação dos recursos provenientes do empréstimo bilionário e transferência de controle acionário. A expectativa é que essa etapa ocorra somente após a conclusão de cada análise regional.

O desenrolar dessa trajetória determinará se a indústria audiovisual assistirá à integração entre o principal serviço de streaming global e uma das marcas mais influentes da televisão premium, marco que promete redefinir políticas de distribuição, investimento em conteúdo original e competitividade entre plataformas.