Montadoras chinesas alavancam vendas de carros elétricos na América do Sul diante da ausência da Tesla

Montadoras chinesas alavancam vendas de carros elétricos na América do Sul diante da ausência da Tesla

Carros elétricos ganham espaço acelerado na América do Sul, impulsionados por montadoras chinesas que combinam preços mais baixos e distribuição agressiva, enquanto a Tesla mantém presença limitada na região.

Índice

Panorama geral do crescimento

As vendas de veículos elétricos vêm registrando crescimento rápido em vários países sul-americanos. Esse movimento ocorre mesmo sem showrooms ou representação oficial da Tesla na maior parte dos principais mercados locais. O protagonismo, até aqui, é de fabricantes da China, que enxergam no continente uma oportunidade estratégica para deslocar parte de sua produção excedente e contornar barreiras comerciais impostas em outras regiões.

A ausência da Tesla como fator de contexto

A Tesla, marca de referência global no segmento, mantém operações muito restritas na América do Sul. A falta de concessionárias, centros de serviços e canais de importação diretos tem deixado potenciais consumidores sem alternativas oficiais para adquirir, manter ou mesmo testar modelos da empresa. Esse vazio abriu espaço competitivo para marcas de origem chinesa, que chegam com estruturas próprias ou por meio de distribuidores locais, ofertando produtos por valores significativamente menores.

O caso do empreendedor peruano

O contraste entre 2019 e a realidade atual ilustra essa transformação. Naquele ano, o empreendedor de energia renovável Luis Zwiebach precisou voar até a Califórnia para experimentar um Tesla Model 3, pois não existia representante autorizado no Peru. A importação do carro se tornou um processo trabalhoso, resolvido apenas quando encontrou um proprietário que já havia trazido o veículo ao país. Na época, dificuldades básicas, como o carregamento domiciliar, exigiram improvisação: sem aterramento adequado na residência de um amigo, um método alternativo foi montado para permitir a recarga.

Expansão das marcas chinesas no Peru

Quatro anos depois, o cenário mudou de forma expressiva. Embora a Tesla ainda não opere showrooms em território peruano, concessionárias de fabricantes chineses passaram a oferecer diversos modelos elétricos por cerca de 60 % do valor de um veículo da marca norte-americana. Nomes como BYD, Geely e GWM figuram entre os mais ativos, enquanto montadoras tradicionais — Toyota, Kia e Hyundai — ampliam sua gama para não perder participação.

Números do mercado peruano

De janeiro a setembro, o Peru contabilizou 135 394 automóveis novos emplacados. Desse total, a fatia de elétricos permanece relativamente pequena, porém em franca expansão. As vendas combinadas de híbridos e 100 % elétricos somaram 7 256 unidades no período, representando um salto de 44 % em comparação com igual intervalo do ano anterior. O ritmo atual, segundo Zwiebach, ultrapassa a marca de dois veículos elétricos novos vendidos a cada dia, sinalizando crescimento consistente da adoção.

Infraestrutura e oportunidades de negócios

O aumento da frota elétrica impulsiona, simultaneamente, a demanda por infraestrutura de recarga. A empresa de energia renovável de Zwiebach ampliou suas operações para atender incorporadoras, centros comerciais e universidades que passaram a considerar carregadores como diferencial competitivo. Em um caso específico, a instalação de um ponto de recarga foi decisiva para a conclusão da venda de uma cobertura residencial, evidenciando o valor agregado do serviço.

Logística favorecida pelo Porto de Chancay

Um elemento logístico fortaleceu ainda mais a presença das montadoras chinesas: a inauguração do Porto de Chancay, ao norte de Lima. Construído por investidores da China, o mega-complexo reduziu pela metade o tempo de transporte marítimo entre a Ásia e a América do Sul. Com uma rota mais curta e custos potencialmente menores, a entrada de veículos produzidos na China tornou-se mais ágil, coincidindo com o momento em que fabricantes chineses enfrentam tarifas e investigações comerciais em mercados como Estados Unidos e União Europeia.

Estratégias de distribuição e varejo

As marcas chinesas não se limitaram ao ganho logístico. BYD planeja inaugurar seu quarto concessionário em Lima até o fim do ano, enquanto Chery e Geely já contabilizam mais de dez lojas no mercado peruano. O modelo de expansão inclui parcerias com grupos locais para assegurar estoque, pós-venda e linhas de financiamento adaptadas à realidade regional. O objetivo declarado é reduzir barreiras de acesso e acelerar a popularização dos elétricos entre consumidores de diferentes faixas de renda.

Guerra de preços e excedente de produção na China

No cenário global, fabricantes chineses convivem com disputa acirrada de preços em seu mercado doméstico e altos volumes de produção. O excedente gerado por essa dinâmica precisa de destino, e regiões como Oriente Médio, Ásia Central e América Latina surgem como alternativas. Essa conjuntura explica a oferta de modelos completos, com pacotes de tecnologia competitivos, colocados à venda na América do Sul por valores que ficam aproximadamente 40 % abaixo de um Tesla equivalente.

Principais fatores que sustentam o avanço regional

Três elementos se destacam no impulso observado:

1. Oferta ampliada e preços reduzidos
A chegada de múltiplos fabricantes chineses provoca maior competição e pressiona os valores finais ao consumidor, facilitando a entrada de modelos 100 % elétricos em segmentos antes dominados por motores a combustão.

2. Logística otimizada
O Porto de Chancay encurta prazos de entrega, diminui custos de frete e aumenta a frequência de remessas, fatores determinantes para manter estoques regulares e campanhas comerciais mais agressivas.

3. Interesse crescente em infraestrutura de recarga
Consumidores e empresas passam a buscar soluções de carregamento doméstico e público, o que cria mercado adicional para instaladores, fornecedores de equipamentos e prestadores de serviços energéticos.

Repercussões em outros países sul-americanos

Embora o Peru seja exemplo emblemático, o padrão de crescimento se repete em diversos mercados vizinhos. Marcas chinesas utilizam estrutura regional de distribuição para atender Argentina, Chile, Colômbia e Brasil, replicando a combinação de preço, disponibilidade de modelos e estratégias de varejo agressivas. A Tesla, por sua vez, mantém atuação pontual nesses países, geralmente associada a importações independentes ou iniciativas isoladas de concessionárias multimarcas.

Desdobramentos e perspectivas imediatas

Os dados de vendas, a velocidade de abertura de novas concessionárias e a expansão de serviços de recarga indicam que a participação dos carros elétricos no mix sul-americano tende a crescer. Com a China buscando mercados alternativos para absorver sua produção e o Porto de Chancay funcionando como elo logístico chave, a oferta de veículos elétricos acessíveis deve continuar em trajetória ascendente. A ausência de infraestrutura oficial da Tesla, somada ao diferencial de preço favorável aos concorrentes chineses, projeta manutenção do atual equilíbrio de forças no curto prazo.

O conjunto de fatores analisados — preço competitivo, ganho logístico, distribuição intensiva e crescente rede de carregamento — transforma a América do Sul, e em especial o Peru, em um laboratório relevante para a eletrificação automotiva liderada por marcas chinesas.

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