Metformina reduz em 12% a dose de insulina necessária para adultos com diabetes tipo 1, indica ensaio clínico

Palavra-chave principal: metformina no diabetes tipo 1
- Lead
- Quem está por trás do estudo
- O que foi investigado
- Quando e onde ocorreu
- Como o estudo foi estruturado
- Principais resultados
- Por que a redução da dose é importante
- Contexto do uso da metformina
- Diferença entre os tipos de diabetes
- Próximos passos da investigação
- Implicações práticas para pacientes
- Limitações reconhecidas
- Panorama futuro
- Conclusão factual
Lead
Um ensaio clínico conduzido pelo Instituto Garvan de Pesquisa Médica apontou que a metformina, medicamento tradicionalmente empregado no tratamento do diabetes tipo 2, pode diminuir em média 12% a quantidade diária de insulina exigida por adultos que convivem com diabetes tipo 1. O estudo, publicado na revista Nature Communications, representa a primeira investigação randomizada e controlada a examinar esse efeito em pacientes de longa duração.
Quem está por trás do estudo
A pesquisa foi liderada pela dupla composta pela endocrinologista Dra. Jennifer Snaith e pelo professor Jerry Greenfield, ambos ligados ao Instituto Garvan, instituição que se define como referência global em pesquisa biomédica fundamental e aplicação clínica. A equipe envolveu especialistas em metabolismo, endocrinologia e métodos de medição de sensibilidade à insulina, reunindo um quadro multidisciplinar para avaliar os efeitos da medicação.
O que foi investigado
A metformina é prescrita há décadas a pessoas com diabetes tipo 2 pela sua capacidade reconhecida de aumentar a sensibilidade à insulina e auxiliar no controle glicêmico. No entanto, sua utilidade em casos de diabetes tipo 1 permanece pouco clara. O objetivo central do estudo foi verificar se o fármaco poderia combater a crescente resistência à insulina observada em pacientes que utilizam o hormônio há muitos anos e, como consequência, reduzir a dosagem necessária para manter a glicemia em níveis adequados.
Quando e onde ocorreu
O ensaio clínico foi conduzido ao longo de seis meses e seus resultados tornaram-se públicos na segunda-feira, dia 24, na edição da Nature Communications. As sessões de acompanhamento, coleta de exames e aplicação dos protocolos ocorreram em centros clínicos vinculados ao Instituto Garvan, na Austrália.
Como o estudo foi estruturado
Trata-se do primeiro estudo randomizado e controlado a testar a droga em adultos portadores de diabetes tipo 1 com longa história da doença. Quarenta participantes foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: metade recebeu metformina, enquanto a outra metade ingeriu placebo, ambos durante um período de seis meses. Para mensurar alterações na resistência à insulina e na necessidade diária do hormônio, os pesquisadores utilizaram o denominado “estudo de clamp”, técnica considerada padrão-ouro para mapear a forma como diferentes tecidos respondem à insulina.
Principais resultados
Duas constatações ganham destaque:
1. Resistência à insulina inalterada
A metformina não modificou a resistência à insulina dos participantes, diferentemente do que ocorre em pacientes com diabetes tipo 2. Os valores obtidos nos testes de clamp mostraram que a resposta das células do corpo ao hormônio permaneceu estatisticamente igual ao grupo que recebeu placebo.
2. Dose de insulina reduzida
Apesar de não sensibilizar o organismo ao hormônio, o fármaco permitiu reduzir em média 12% a dose diária de insulina necessária para manter a glicemia estável. Em uma doença em que o paciente depende da autoadministração constante desse hormônio, qualquer redução consistente representa avanço relevante na rotina terapêutica.
Por que a redução da dose é importante
O diabetes tipo 1 caracteriza-se pela destruição autoimune das células beta do pâncreas, responsáveis pela produção natural de insulina. Sem o hormônio, o organismo não consegue regular a quantidade de glicose no sangue, o que obriga o paciente a aplicar injeções ou utilizar bombas de infusão ao longo de toda a vida. Entretanto, a exposição prolongada a altas doses pode levar à chamada resistência insulinêmica, fenômeno em que as células deixam de responder com eficiência ao hormônio administrado externamente.
Quando isso ocorre, o indivíduo precisa elevar gradualmente a dose, processo que eleva custos, aumenta o risco de flutuações glicêmicas e, segundo a Dra. Snaith, constitui fator de risco subestimado para doenças cardiovasculares — uma das maiores causas de complicações e mortalidade em pessoas com diabetes tipo 1. Dessa forma, qualquer estratégia que atinja a mesma meta glicêmica com menor quantidade de insulina ganha relevância clínica imediata.
Contexto do uso da metformina
A metformina está disponível há cerca de um século e figura entre os medicamentos mais acessíveis do mercado. Seu preço reduzido e ampla disponibilidade em farmácias tornam-na potencialmente atraente para terapias complementares. Tradicionalmente, a droga atua inibindo a produção hepática de glicose e aumentando a captação de açúcar pelos músculos, o que explica seu emprego rotineiro no diabetes tipo 2.
Diferença entre os tipos de diabetes
Embora compartilhem o termo “diabetes”, os tipos 1 e 2 apresentam origens distintas. O tipo 1 é autoimune, geralmente diagnosticado na infância ou na juventude, e exige insulinoterapia desde o início. O tipo 2 está mais associado à resistência à insulina e costuma ser manejado inicialmente com alterações de estilo de vida e medicamentos orais, entre eles a metformina. A constatação de que o fármaco não altera a resistência no tipo 1, mas ainda assim reduz a dose de insulina, aponta para mecanismos de ação possivelmente diferentes.
Próximos passos da investigação
Os pesquisadores declararam que ainda não compreendem por que a metformina permite diminuir a necessidade de insulina sem modificar a sensibilidade ao hormônio. Uma linha de estudo em andamento examina a hipótese de que o medicamento interfira na microbiota intestinal. Alterações no microbioma poderiam afetar indiretamente a absorção ou o metabolismo da glicose, justificando a redução da dose hormonal. Nenhuma pesquisa anterior avaliou essa possibilidade especificamente em pessoas com diabetes tipo 1.
Implicações práticas para pacientes
A diminuição de 12% na insulina pode parecer modesta, mas tem significado expressivo na rotina de quem depende de múltiplas aplicações diárias. Além de reduzir custos diretos, a menor exposição pode diminuir a probabilidade de hipoglicemias graves, simplificar o ajuste de doses em atividades físicas e contribuir para menor ganho de peso, efeito colateral associado ao uso prolongado do hormônio.
Limitações reconhecidas
Embora pioneiro, o ensaio contou com apenas 40 voluntários, número que limita a generalização dos resultados. Além disso, a duração de seis meses não permite concluir se o benefício persiste a longo prazo ou se surgem efeitos adversos tardios quando a droga é associada à insulinoterapia por anos consecutivos.
Panorama futuro
Com o estudo publicado, a equipe do Instituto Garvan pretende ampliar a amostra de participantes, incluir faixas etárias diversas e testar diferentes apresentações da metformina para verificar se a magnitude da redução de insulina se mantém. A investigação sobre o microbioma intestinal deve oferecer pistas do caminho metabólico envolvido, informação que poderá orientar ajustes de dose ou a combinação com outros fármacos.
Conclusão factual
O primeiro ensaio clínico randomizado sobre o tema demonstrou que a metformina, apesar de não melhorar a resistência à insulina em adultos com diabetes tipo 1, reduz de forma consistente a quantidade de hormônio necessária para manter o controle glicêmico. A descoberta envolve um medicamento de baixo custo e ampla disponibilidade, fato que pode transformar o manejo da doença em curto prazo, enquanto novas pesquisas buscam esclarecer o mecanismo responsável por esse efeito.

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