Regulamentação e alta demanda projetam salto de 55% no mercado de bicicletas elétricas e fortalecem a indústria nacional

O mercado brasileiro de bicicletas elétricas passou de promessa a realidade econômica: após registrar crescimento de 7,2 % em 2024, com 53,5 mil unidades produzidas ou importadas, o setor projeta salto de até 55 % para 2025. O movimento resulta em faturamento anual estimado em R$ 511 milhões e alimenta novos investimentos em produção, tecnologia e serviços ao redor da mobilidade elétrica leve.
- Marco regulatório cria ambiente de previsibilidade
- Desempenho de vendas sustenta otimismo
- Cadeia produtiva sente efeitos diretos
- Composição do mercado: pedal assistido versus autopropelido
- Produção nacional ganha tração e reduz dependência externa
- Mobilidade elétrica leve se integra à estratégia urbana e industrial
Marco regulatório cria ambiente de previsibilidade
Um dos pontos de virada para o segmento foi a Resolução 996/2023 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). O texto estabeleceu definições claras para bicicletas elétricas, veículos autopropelidos e ciclomotores, além de parâmetros de potência, velocidade máxima e itens obrigatórios de segurança. Na prática, o detalhamento das categorias eliminou incertezas jurídicas, fornecendo às fábricas, importadoras e consumidores um conjunto de regras facilmente identificável. Com a previsibilidade, surgiram condições concretas para planejamento de médio e longo prazo, fator indispensável para qualquer ciclo consistente de capitalização industrial.
A resolução também delimitou responsabilidades, esclarecendo, por exemplo, quais veículos precisam de emplacamento ou habilitação específica. Ao uniformizar essas exigências, o mercado passou a operar em bases semelhantes em todo o território nacional, reduzindo a diferença de interpretação entre estados e municípios. O resultado imediato foi a expansão dos pedidos de componentes, a assinatura de novos contratos de distribuição e a abertura de linhas de crédito específicas para a mobilidade elétrica leve.
Desempenho de vendas sustenta otimismo
Os primeiros reflexos do ambiente regulado aparecem nos números consolidados de 2024. Segundo levantamento divulgado pela Aliança Bike, associação que reúne fabricantes e lojistas do setor, 53,5 mil bicicletas elétricas entraram no mercado brasileiro em 2024, um avanço de 7,2 % em relação ao ano anterior. Para 2025, a mesma entidade projeta expansão de até 55 %, mantendo a tendência de aceleração.
O volume adicional previsto deve ampliar significativamente a base circulante de veículos. Entre 2016 e 2024, o total de bicicletas elétricas em uso saltou de 7,6 mil para 284 mil unidades. A curva de adoção indica que a percepção do consumidor sobre o produto mudou: se antes o veículo era visto como nicho, hoje ele se torna alternativa concreta para deslocamentos urbanos, lazer e até entregas de curta distância.
Cadeia produtiva sente efeitos diretos
O aumento nas vendas repercute ao longo de toda a cadeia. O levantamento da Aliança Bike aponta receita anual de R$ 511 milhões, valor que chega às montadoras, fornecedores de componentes, distribuidores e oficinas especializadas. Com maior circulação de bicicletas elétricas, cresce também a demanda por manutenção, troca de baterias, equipamentos de segurança e seguros específicos, ramificando o impacto econômico para além da linha de montagem.
Para atender ao novo patamar de volume, empresas nacionais estão modernizando processos, automatizando linhas e expandindo centros de distribuição. Serviços de pós-venda, geralmente concentrados em grandes capitais, passam a ser oferecidos também em polos regionais, criando vagas técnicas e qualificando mão de obra local. Este encadeamento produtivo, reforçado pela segurança regulatória, sustenta o argumento de que a mobilidade elétrica leve se consolida como vetor de industrialização.
Composição do mercado: pedal assistido versus autopropelido
A estabilização das regras também determinou como os subsegmentos se posicionam. Atualmente, bicicletas elétricas com pedal assistido representam cerca de um quarto das vendas, enquanto os modelos autopropelidos, equipados com acelerador, respondem por aproximadamente três quartos. A divisão ilustra a maturidade de um público que avalia autonomia, necessidade de esforço físico, velocidade permitida e adequação às normas antes da compra.
No pedal assistido, o motor é acionado somente quando o ciclista pedala, recurso valorizado por quem busca economia de energia da bateria e sensação semelhante à bicicleta convencional. Já nos modelos autopropelidos, a presença do acelerador garante deslocamentos sem necessidade de pedal, atraindo usuários que priorizam conveniência ou enfrentam trajetos mais longos e íngremes. O equilíbrio entre as duas categorias amplia o leque de opções e colabora para a diversificação das linhas oferecidas pelas fábricas.
Produção nacional ganha tração e reduz dependência externa
Com a clareza sobre potência, luzes de sinalização e sistemas de freio, fábricas instaladas no Brasil intensificaram investimentos em pesquisa e desenvolvimento. A fabricação local de scooters e bicicletas elétricas com baterias removíveis já é realidade em diferentes polos industriais, diminuindo a dependência de importações de produtos acabados. Esse movimento contribui para o fortalecimento da indústria de baterias, da metalurgia leve e da eletrônica embarcada, setores que fornecem itens essenciais ao produto final.
A internalização da produção repercute na geração de empregos diretos e indiretos. Montadoras contratam técnicos, engenheiros e operadores, enquanto fornecedores de guidões, quadros, sistemas de transmissão e controladores eletrônicos qualificam sua própria força de trabalho. Além disso, a produção local facilita a customização de modelos às condições urbanas brasileiras, ajustando especificações de suspensão, pneus e resistência estrutural às vias do país.
Mobilidade elétrica leve se integra à estratégia urbana e industrial
O crescimento do mercado não se restringe ao consumo. Ele indica mudança no padrão de deslocamento urbano ao reduzir custos de combustível, tempo de viagem em curtas distâncias e emissões locais. Para gestores públicos, a presença de 284 mil bicicletas elétricas nas ruas em 2024 oferece oportunidade de repensar ciclovias, políticas de estacionamento e incentivo ao modal não poluente, criando sinergia entre desenvolvimento econômico e planejamento urbano.
No plano industrial, a mobilidade elétrica leve surge como plataforma de inovação. Ao estabelecer um ambiente regulado, o país atrai a instalação de laboratórios de teste, startups de software de monitoramento de bateria e iniciativas de reciclagem de componentes. A combinação de produção nacional, demanda crescente e legislação clara tende a manter o ciclo de expansão por tempo prolongado, consolidando o setor como pilar de modernização tecnológica.
Com regulamentação consolidada, projeção de crescimento acentuado e cadeia produtiva em franca evolução, o Brasil transforma o mercado de bicicletas elétricas em componente relevante de sua economia, alavancando inovação, emprego e novas formas de mobilidade urbana.

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