Médica canadense Deirdre Nunan, cirurgiã ortopédica de Saskatchewan, voltou de sua terceira missão em Gaza e afirmou que o Canadá precisa ir além do simples reconhecimento do Estado da Palestina.
Nunan relatou que a proposta do primeiro-ministro Mark Carney de apoiar o reconhecimento palestino na Assembleia-Geral da ONU “não salvará vidas” se não vier acompanhada de medidas concretas, como retomada urgente do fluxo de ajuda humanitária e embargo de armas em duas vias.
Médica canadense pede ação efetiva em Gaza além de reconhecer Palestina
Segundo a profissional, o embargo anunciado por Ottawa possui “lacunas graves” apontadas por um relatório parlamentar. Ela pede que o governo feche esses buracos e garanta que nenhum equipamento militar, direto ou por terceiros, alcance a região do conflito.
Sana Bég, diretora-executiva da Médicos Sem Fronteiras Canadá, classificou a crise como genocídio e disse que 18 dos 36 hospitais de Gaza funcionam apenas parcialmente. “Parem a limpeza étnica e a fome”, declarou Bég, solicitando um cessar-fogo sustentado e o fim do bloqueio.
Nunan registrou a deterioração da infraestrutura hídrica ao fotografar, em 3 de julho de 2025, uma usina dessalinizadora no sul de Gaza afetada por falta de combustível. Ela narrou crianças implorando por água nos corredores hospitalares, enquanto cirurgiões operavam “pingando suor” por falta de ar-condicionado.
Durante plantões no Hospital Nasser, em Khan Younis, pacientes eram atendidos em tendas externas e sobre esteiras no chão. Ferimentos por explosivos predominavam, forçando amputações frequentes; um terço das vítimas era composto por crianças, algumas com apenas seis semanas.
Em 25 de agosto, Nunan perdeu colegas jornalistas em um ataque aéreo duplo ao mesmo hospital, ação condenada internacionalmente como violação do direito humanitário. Israel chamou o episódio de “trágico engano” e prometeu investigação.
A médica também expressou preocupação com o anestesista Ahmad Mhanna, diretor do Hospital Al-Awda, detido desde dezembro de 2023 sem acusação formal. Organizações como Human Rights Watch denunciam maus-tratos semelhantes contra outros profissionais de saúde palestinos.
Nunan levará seu testemunho a um evento público em Vancouver em 8 de setembro, ao lado da escritora Naomi Klein, reforçando que “o mundo está observando” as escolhas do Canadá.
Ela conclui que, sem ação imediata para “fechar as torneiras da violência” e abrir as de suprimentos, a situação humanitária continuará a afundar. “Reconhecimento político é simbólico; vidas dependem de medidas práticas”, resumiu.
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Crédito da imagem: Courtesy: Deirdre Nunan