Latin NCAP estuda punir carros que concentram comandos em telas touch e cria nova avaliação de “percepção”

Latin NCAP estuda punir carros que concentram comandos em telas touch e cria nova avaliação de “percepção”

Um novo critério de segurança veicular está prestes a mudar a forma como fabricantes projetam os painéis dos automóveis vendidos na América Latina. O Latin NCAP, programa independente que classifica a proteção de passageiros e pedestres, passou a direcionar sua atenção às telas multimídia que concentram praticamente todas as funções do carro. O órgão considera que esse recurso amplia a distração do condutor e sinaliza que, a partir dos próximos protocolos, montadoras poderão perder pontos sempre que adotarem comandos exclusivamente táteis.

Índice

Quem lidera a iniciativa e qual é a sua atribuição

O Latin NCAP atua como referência regional de segurança automotiva. Ao longo dos anos, a instituição consolidou um sistema de classificação por estrelas que inclui quatro blocos de análise: proteção de adultos, proteção de crianças, proteção de pedestres e desempenho das assistências nativas – conhecidas pela sigla ADAS. Esses pilares envolvem testes de airbag, impacto estrutural, frenagem, controle de estabilidade e funcionamento de sistemas eletrônicos de apoio.

Agora, o programa anuncia a criação de um quinto bloco, denominado “percepção”. O objetivo é mensurar de que maneira a forma de operação dos veículos pode interferir na segurança primária, isto é, na condução diária. Nessa nova categoria, o foco recai sobre o tempo de resposta do motorista sempre que ele precisa ajustar a climatização, visualizar a velocidade ou alterar configurações de auxílio à condução usando interfaces exclusivamente digitais.

O que motivou a mudança de critério

A decisão do Latin NCAP nasceu da observação crescente de modelos que utilizam telas semelhantes a smartphones ou tablets para substituir botões físicos. Segundo a entidade, a ausência de feedback tátil força o motorista a desviar o olhar da via, ampliando a janela de risco para colisões. A avaliação é que cada toque em uma superfície lisa, sem referência sensorial, exige mais atenção do que um comando baseado em teclas ou seletores tradicionais.

Essa tendência tem sido notada, especialmente, em veículos de origem chinesa, mas não se restringe a eles. O avanço das telas de grandes dimensões popularizou centrais que integram velocímetro, controle de ventilação, ajustes de retrovisor e até a ativação ou desativação de alertas de segurança. Para o Latin NCAP, o conjunto gera sobrecarga cognitiva e reduz a capacidade de reação do condutor.

Casos práticos citados pela entidade

Entre os exemplos que motivaram a revisão do protocolo está o Volvo EX30. Nesse modelo, o velocímetro foi deslocado para a parte superior da tela central. Assim, qualquer consulta à velocidade requer que o motorista desvie a visão da estrada. O dispositivo lembra a solução usada no antigo Toyota Etios, porém sem um painel auxiliar à frente do volante.

A BYD, fabricante igualmente mencionada, ofereceu veículos em que o ar-condicionado só podia ser regulado depois de um gesto de arrastar na tela, inexistindo botões físicos específicos. Nas unidades mais recentes, a marca recuou e voltou a disponibilizar atalhos fixos, mas os projetos anteriores continuam chamando atenção na avaliação de risco.

Outro produto frequentemente apontado é a Tesla Cybertruck. A picape elétrica, além de dispensar instrumentos analógicos ou digitais atrás do volante, leva praticamente todos os parâmetros de condução para a central touch. Dessa forma, tarefas simples – como alterar os espelhos ou modificar o modo de condução – dependem de múltiplos toques em menus digitais.

Elementos que entram no radar da penalização

O Latin NCAP sinaliza que retrovisores controlados por joysticks digitais e configurações de ADAS embutidas na multimídia também farão parte do novo caderno de avaliação. A instituição entende que, se o motorista optar por desligar alertas de faixa, detector de placas ou aviso de velocidade, esses recursos devem ser religados automaticamente na próxima partida do motor. Sistemas que permanecem completamente desativados, mesmo após um ciclo de ignição, tendem a sofrer cortes na pontuação.

Como a penalidade será aplicada

Com a quinta categoria de “percepção”, o cálculo global de estrelas ficará mais rigoroso. A entidade confirma que um novo protocolo entra em vigor em 1º de janeiro de 2026. A partir dessa data, veículos que depositem funções essenciais exclusivamente em telas tenderão a perder indicações máximas, mesmo que mantenham bons desempenhos estruturais ou eletrônicos nos demais testes.

Adicionalmente, o Latin NCAP programa outra etapa de endurecimento: a partir de 2028, apenas conquistarão a pontuação máxima os automóveis que trouxerem, de série, quatro componentes específicos – controle eletrônico de estabilidade (ESC), aviso de cinto de segurança (SBR), sensor de ponto cego (BSD) e assistente automático de velocidade (ACC). Esses itens viram pré-requisito, portanto não bastará mais somar boas notas em colisão frontal ou lateral; a presença do pacote completo será obrigatória.

Por que as telas viraram alvo em 2023-2024

O movimento de elevar funções para centrais multimídia ganhou força com a digitalização de interiores e a busca de interfaces mais “limpas”. Grandes displays permitem atualizações de software, geram receita adicional via serviços conectados e reduzem custos de botões físicos. Entretanto, a ergonomia sofreu impacto direto. Sem saliências ou reentrâncias, o condutor não encontra o comando pelo tato e precisa confirmar cada ação visualmente, algo que o Latin NCAP entende como incompatível com a condução segura.

Efeito sobre marcas e consumidores na América Latina

Na prática, fabricantes que mantiverem estruturas híbridas – combinando teclas convencionais com displays – poderão preservar notas mais altas. Montadoras que insistirem em interfaces totalmente planas vão encarar maior dificuldade para chegar às cinco estrelas. Para o consumidor final, a classificação recalibrada funcionará como alerta para o nível de distração oferecido por determinados layouts de cabine.

Resumo das mudanças previstas

- Nova categoria de “percepção”: Avalia a influência da interface de comando na segurança.

- Entrada em vigor: Protocolo começa em 1º de janeiro de 2026.

- Penalização de telas exclusivas: Veículos que exigem múltiplos toques para funções básicas perderão pontos.

- Reativação de ADAS: Auxílios desligados devem religar automaticamente na partida seguinte.

- Exigências para 2028: ESC, SBR, BSD e ACC passam a ser pré-requisito para pontuação máxima.

O que muda no teste completo do Latin NCAP

Com cinco frentes de análise – adultos, crianças, pedestres, assistências e percepção – o ensaio piloto que o órgão realiza em laboratórios ganhará uma etapa adicional de verificação em ambiente controlado. Serão simulados cenários em que o motorista precisa, por exemplo, ajustar a temperatura ou conferir a velocidade enquanto se desloca. O tempo de reação e a interferência na trajetória do veículo farão parte da nota final. Essa medição objetiva quantificar aquilo que até então era observado apenas de modo qualitativo.

Veículos mais recentes já se adaptam

Embora o anúncio do Latin NCAP ainda não tenha vigor normativo, alguns fabricantes começaram a reintroduzir botões para funções críticas. Modelos recentes da própria BYD restituem controles rápidos para ventilação. Outras marcas mantêm o velocímetro no painel tradicional, ainda que ofereçam telas ampliadas. O movimento indica uma tentativa de conciliar modernidade de interface com requisitos de segurança que ganharão peso institucional em breve.

Com a inclusão da categoria de percepção, o Latin NCAP reforça a ideia de que segurança não depende apenas de airbags ou ligações estruturais, mas igualmente da forma como o motorista interage com o veículo enquanto dirige. Quando o novo protocolo entrar em vigor, a classificação por estrelas refletirá, de maneira mais abrangente, o impacto das tendências de design digital sobre a atenção na condução.

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