La Niña fraca: OMM aponta 55% de chance de resfriamento do Pacífico e efeitos climáticos até fevereiro de 2026

La Niña, fenômeno oceânico-atmosférico que esfria o Pacífico equatorial, tem 55% de probabilidade de se consolidar em intensidade fraca entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026, segundo avaliação da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Mesmo prevendo o resfriamento característico, a agência alerta que diversas regiões provavelmente continuarão registrando temperaturas superiores ao padrão histórico.
- O que é La Niña e como o fenômeno se forma
- La Niña: probabilidade de 55% para o trimestre dezembro 2025-fevereiro 2026
- La Niña e a projeção de temperaturas acima da média
- Impactos da La Niña nas chuvas e nos ventos globais
- La Niña e o possível rearranjo do clima no Brasil
- Transição para neutralidade e baixa chance de El Niño
O que é La Niña e como o fenômeno se forma
O evento começa quando a temperatura da superfície do Pacífico Equatorial Central e Centro-Leste cai 0,5 °C ou mais em relação à média de longo prazo. Esse resfriamento modifica a circulação tropical, reorganiza ventos de leste e altera a distribuição de vapor d’água. O reflexo é sentido em escala planetária, com mudanças na pressão atmosférica, no regime de chuvas e na frequência de sistemas de alta ou baixa pressão.
A dinâmica pertence ao sistema climático conhecido como ENOS — El Niño-Oscilação Sul — que alterna fases negativas (La Niña) e positivas (El Niño). Cada episódio surge em intervalos aproximados de três a cinco anos, mas não há repetição exata: as variações de duração e intensidade dependem do volume de calor armazenado no oceano, da circulação de Walker e de oscillations atmosféricas de escala intraestacional.
O episódio mais recente, classificado como fraco e curto, encerrou-se em abril de 2025 de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA). Desde então, indicadores oceânicos vêm sinalizando novo declínio térmico, criando o cenário que agora evolui para a possível La Niña de 2025-2026.
La Niña: probabilidade de 55% para o trimestre dezembro 2025-fevereiro 2026
A OMM divulgou a estimativa após reunir medições de flutuadores oceânicos, satélites e bóias meteorológicas referentes a novembro de 2025. Esses registros mostravam o Pacífico equatorial em condição “quase La Niña”: resfriamento amplo, mas ainda no limite estatístico. Modelos dinâmicos e estatísticos projetam agora 55 % de chance de que o fenômeno se firme nos próximos meses.
No curto prazo — dezembro, janeiro e fevereiro — a agência identifica um período favorável à configuração completa do evento, embora em versão moderada e provavelmente de curta duração. A magnitude reduzida indica efeitos climáticos mais sutis, porém não uniformes: regiões tropicais e subtropicais costumam responder com maior sensibilidade às variações térmicas do Pacífico.
La Niña e a projeção de temperaturas acima da média
Contrariando a percepção de que a La Niña levaria automaticamente a um resfriamento global, a OMM projeta valores superiores ao normal em grande parte do planeta durante o mesmo trimestre. O motivo principal é a tendência de aquecimento de fundo do sistema climático, impulsionada pelo aumento constante de gases de efeito estufa.
No Hemisfério Norte, continentes de latitudes médias e altas devem enfrentar anomalias positivas, especialmente em áreas continentais da América do Norte, Europa e Ásia. No Hemisfério Sul, projeções também apontam calor acima do esperado em extensas faixas da América do Sul, da África Austral e da Oceania.
Essas previsões ilustram a coexistência de dois sinais climáticos: o resfriamento regional do Pacífico associado à La Niña e o aquecimento global de longo prazo. A combinação pode amplificar extremos — ondas de calor, secas ou enchentes — quando condições locais, como umidade do solo e circulação regional, interagem com as anomalias de temperatura.
Impactos da La Niña nas chuvas e nos ventos globais
Os modelos da OMM indicam que a redistribuição de chuvas seguirá o padrão clássico de uma La Niña fraca. Áreas próximas ao cinturão equatorial recebem reforço de instabilidade, enquanto regiões subtropicais podem experimentar deficit hídrico.
Nas faixas tropicais, correntes ascendentes tendem a intensificar a convecção, ocasionando pancadas de chuva mais frequentes sobre setores da Amazônia, partes da África Central, sudeste da Ásia e norte da Austrália. Em contrapartida, parte do sudoeste dos Estados Unidos, do norte do México, bem como porções do Chifre da África e do sudeste da América do Sul, podem registrar precipitação reduzida.
Além das chuvas, ventos alísios se fortalecem sobre o Pacífico central durante a La Niña. Esse aumento de velocidade fortalece a ressurgência de águas frias próximas à costa sul-americana, completando um ciclo de retroalimentação que mantém o oceano resfriado por mais tempo. No entanto, a OMM ressalta que, no evento atual, o reforço dos alísios é considerado moderado.
La Niña e o possível rearranjo do clima no Brasil
No Brasil, os efeitos históricos da La Niña costumam aparecer de maneira contrastante. Norte e Nordeste tendem a receber volume de chuva acima da média, favorecendo atividades agrícolas dependentes de precipitação natural. Já o Sul frequentemente enfrenta períodos mais secos, o que pode aumentar o risco de estiagem e pressionar reservatórios voltados a geração hidrelétrica.
No Sudeste, semanas atípicas de frio podem ocorrer, principalmente quando massas de ar polar conseguem avançar pela ausência de barreiras atmosféricas relacionadas a frentes quentes. Contudo, para a fase prevista de dezembro a fevereiro, a OMM ainda antevê temperaturas acima do normal em todo o Hemisfério Sul, o que inclui tanto o Norte e Nordeste quanto o extremo Sul do país.
Essas projeções reforçam a necessidade de monitoramento próximo por parte de setores sensíveis ao clima. Agricultura, recursos hídricos, geração de energia e planejamento urbano dependem desse tipo de informação para reduzir prejuízos e otimizar safras, estoques ou sistemas de drenagem.
Transição para neutralidade e baixa chance de El Niño
A influência da La Niña deve se enfraquecer à medida que 2026 avança. Entre janeiro e março, os modelos indicam 65 % de chance de retorno à neutralidade do ENOS. O percentual cresce para 75 % no trimestre fevereiro-abril de 2026, cenário que marca o provável fim do episódio.
A probabilidade de ressurgimento do El Niño no mesmo intervalo permanece muito baixa. Mesmo assim, Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais continuam realizando medições diárias de temperatura da superfície do mar, pressão ao nível do mar e velocidade dos ventos, a fim de detectar qualquer mudança abrupta.
As projeções atuais situam 2025 como o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado, reforçando a importância da inteligência climática sazonal. À medida que o Pacífico caminha para a neutralidade entre fevereiro e abril de 2026, novas atualizações deverão indicar se o sistema climático global migrará para um período de relativa estabilidade ou se novas anomalias irão emergir.

Conteúdo Relacionado