Jazida de terras raras em Poços de Caldas dispara pedidos de exploração em Minas Gerais

Descoberta transforma cratera vulcânica em alvo da mineração

A identificação de uma vasta jazida de terras raras na cratera de um vulcão extinto em Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais, provocou uma corrida por autorizações de pesquisa mineral na região. Desde que empresas australianas manifestaram interesse na área, a Agência Nacional de Mineração (ANM) recebeu mais de cem requerimentos para investigar o potencial do depósito, volume que representa cerca de um terço de todos os pedidos concedidos no estado entre 2023 e 2024.

O maciço vulcânico cobre aproximadamente 800 km² e abrange ainda os municípios de Andradas e Caldas (MG) e Águas da Prata (SP). O solo local contém argilas ricas em íons de terras raras, condição que, segundo geólogos, pode tornar a extração menos complexa do que em jazidas convencionais. Estudos preliminares sugerem que o volume de reservas seria suficiente para suprir até 20 % da procura global.

Importância estratégica das terras raras

As terras raras formam um grupo de 17 elementos utilizados em ímanes, baterias, painéis solares e componentes de telecomunicações. A dificuldade de extração aliada à concentração da produção na Ásia confere-lhes peso geopolítico, evidenciado na disputa comercial entre China e Estados Unidos. Washington manifestou recentemente interesse em selar acordo com o Brasil para garantir fornecimento desses minerais críticos.

Expansão dos pedidos além da cratera

A movimentação não se limita ao anel vulcânico. Há requerimentos em municípios vizinhos como Cabo Verde, Muzambinho, Botelhos, Campestre e Caconde, estimulados pela hipótese de que a lava do antigo vulcão tenha espalhado minerais para áreas adjacentes. Para obter a autorização de pesquisa, empresas ou pessoas físicas devem cumprir requisitos técnicos, pagar taxas e apresentar relatórios periódicos durante um prazo máximo de três anos. Apenas uma fração das permissões avança para a concessão de lavra, etapa que habilita a exploração comercial.

Modelo de negócios com venda de direitos minerais

Parte significativa dos interessados atua na valorização e revenda de direitos. Companhias de prospeção realizam levantamentos iniciais e, posteriormente, negociam as áreas com mineradoras detentoras de capital para viabilizar a extração. Esse comportamento foi observado em ciclos anteriores de ouro, ferro e lítio no país.

A RCO Mineração, que possui autorizações em mais de cem áreas nos estados de Minas Gerais, Goiás e Bahia, descobriu recentemente um depósito de terras raras em Turvolândia, a cerca de 40 km da cratera principal. Mesmo com pouco mais de 20 % da área estudada, os resultados já atraem investidores estrangeiros.

Outra empresa, a Anova, originária da extração de ferro em Cabo Verde, entrou com vários pedidos na região e planeia implantar uma unidade piloto de beneficiamento. Representantes da companhia confirmam sondagens de grupos internacionais interessados em adquirir participação nos projetos.

Desafios para converter pedidos em produção

A autorização de pesquisa é apenas o primeiro passo num processo que exige estudos ambientais, avaliação económica e licenciamento junto a órgãos federais e estaduais. Analistas do sector lembram que muitos requerimentos são abandonados ou protelados, já que a etapa de sondagem pode revelar reservas menores do que as estimativas iniciais ou custos superiores aos previstos.

Apesar das incertezas, especialistas apontam o depósito de Poços de Caldas como um dos poucos do mundo com argilas de adsorção iónica localizadas perto da superfície, o que reduziria a necessidade de escavações profundas e, potencialmente, o impacto ambiental. Este argumento tem sido usado por empresas que pretendem acelerar testes metalúrgicos e demonstrar viabilidade econômica.

Perspetivas para a cadeia de valor no Brasil

Representantes do governo federal avaliam que o interesse internacional pode gerar investimento em etapas de processamento no país, diminuindo a dependência de importação de compostos refinados. Contudo, especialistas em política mineral alertam que a criação de uma cadeia doméstica de valor requer infraestrutura industrial, formação de mão de obra e regras claras sobre partilha de benefícios com comunidades locais.

Enquanto negociações avançam, a ANM continua a analisar novos pedidos de pesquisa. O resultado prático dessa corrida deverá ser sentido apenas nos próximos anos, quando as primeiras empresas concluírem estudos de viabilidade e obtiverem licenças de lavra. Até lá, Poços de Caldas permanece no centro das atenções da mineração global, simbolizando o desafio de converter potencial geológico em produção responsável e sustentável.

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Imagem: Joaquin Corbalan P via olhardigital.com.br

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