Inteligência artificial pode deixar a internet mais burra?

Inteligência artificial pode deixar a internet mais burra? O avanço de sistemas como o ChatGPT acendeu o alerta entre economistas, acadêmicos e desenvolvedores sobre o futuro do conhecimento online. Relatos de queda drástica na participação de fóruns e riscos de “colapso de modelo” alimentam o debate sobre como a IA afeta a produção humana de conteúdo.

Em janeiro, a OpenAI exibiu em Washington o recurso deep research do ChatGPT, capaz de compilar, em segundos, um dossiê sobre Albert Einstein para um cargo fictício na Secretaria de Energia dos EUA. A demonstração, analisada pelo comentarista Greg Ip no jornal The Wall Street Journal, mostrou eficiência, mas também levantou a questão: se máquinas resumem tudo, quem continuará gerando novos saberes?

Inteligência artificial pode deixar a internet mais burra?

Um sintoma preocupante é o comportamento no Stack Overflow, fórum onde programadores trocam códigos e soluções há anos. Desde o lançamento do ChatGPT, o número de perguntas publicadas ali despencou mais de 90%. Segundo o especialista Nick Hodges, quanto mais desenvolvedores recorrem à IA, menor é a disposição de compartilhar respostas no site que alimenta esses próprios modelos.

Efeito cascata nos repositórios de conhecimento

Pesquisadores da Universidade Corvinus, em Budapeste, constataram que a retração ocorre em dúvidas simples e complexas. Já um estudo da Universidade Columbia identificou queda de visitas e edições em páginas da Wikipedia com conteúdo similar ao produzido por IA. A professora Hannah Li alerta que, quando grandes modelos de linguagem (LLMs) são treinados apenas em textos gerados por outras IAs, “os resultados gerais pioram”, fenômeno batizado de colapso de modelo.

Impacto cognitivo e possíveis contrapesos

Análises do MIT apontam que, ao escrever com apoio de IA, áreas cerebrais ligadas à memória e ao raciocínio ficam menos ativas do que quando produzimos textos manualmente. Isso sugere risco de perda de pensamento crítico. Por outro lado, o economista Joshua Gans, da Universidade de Toronto, acredita que, enquanto houver valor em descobertas originais, pesquisadores continuarão motivados a criar.

Qual destino para a curiosidade humana?

O debate se resume a dois cenários: a IA como aliada, economizando tempo e estimulando novas conexões, ou a IA como substituta, inibindo perguntas inéditas e empobrecendo a web. Para evitar o segundo caminho, especialistas defendem iniciativas que incentivem a participação em comunidades e a publicação de pesquisas independentes.

No curto prazo, usuários e empresas precisam equilibrar produtividade e aprendizado. A própria OpenAI e outras desenvolvedoras estudam formas de priorizar fontes humanas nos dados de treinamento, numa tentativa de preservar a diversidade de conhecimento.

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Crédito da imagem: WANAN YOSSINGKUM / iStock

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