Maior tempestade solar de 2025: ESA descreve efeitos, respostas e lições para futuras missões espaciais

Maior tempestade solar de 2025: ESA descreve efeitos, respostas e lições para futuras missões espaciais

Uma série de erupções de alta energia partiu do Sol e, em menos de dois dias, três ejeções de massa coronal alcançaram o espaço interplanetário, colidindo com o campo magnético terrestre e gerando a tempestade geomagnética mais forte de 2025. A Agência Espacial Europeia (ESA) compilou os resultados desse evento, concluindo que as defesas naturais do planeta e o projeto de satélites resistentes à radiação limitaram danos, enquanto a comunidade científica obteve um conjunto raro de medições para aperfeiçoar previsões de clima espacial.

Índice

Por dentro do ciclo solar e do contexto do episódio

A atividade solar passa por variações cíclicas de aproximadamente 11 anos. O período de máximo solar, iniciado no começo de 2025, intensifica a frequência de erupções e ejeções de massa coronal (CMEs). Nessas fases, aumentam as chances de distúrbios na magnetosfera terrestre, demandando vigilância constante de agências espaciais e operadoras de infraestrutura crítica.

A sequência extrema registrada ocorreu quando o grupo de manchas solares identificado como AR4274 localizou-se em posição voltada para a Terra. Regiões ativas dessa magnitude concentram campos magnéticos instáveis que podem liberar energia na forma de erupções de classe X, o tipo mais intenso na escala que classifica esses fenômenos.

Detalhes da cadeia de erupções

Entre o dia 9 e o dia 14, a área hiperativa produziu quatro erupções e a mesma quantidade de CMEs. O clímax deu-se em 11 de novembro, quando uma explosão catalogada como X5.1 — a mais potente do ano — expulsou plasma a cerca de 1.500 quilômetros por segundo em direção ao planeta. Horas antes, uma CME anterior havia sido acelerada por fluxos subsequentes, formando o chamado “jato canibal”, no qual uma ejeção mais recente se funde a outra, aumentando densidade e velocidade do material ejetado.

A tempestade geomagnética resultante manteve intensidade elevada por cerca de seis horas. Embora o impacto magnético previsto fosse maior, medições indicaram que a orientação do campo magnético da nuvem solar, juntamente com características locais da região de origem, reduziu a transferência de energia para a magnetosfera terrestre.

Efeitos imediatos na superfície e na atmosfera

O sinal mais perceptível para usuários de tecnologia foi o apagão de rádio no hemisfério iluminado durante o pico da erupção. Europa, África e Ásia ficaram até 60 minutos com comunicações de alta frequência prejudicadas. Esse tipo de falha ocorre porque ondas de raio X e radiação ultravioleta aquecem subitamente a ionosfera, alterando a propagação de sinais utilizados por aeronaves, embarcações e serviços de emergência.

Junto ao blecaute, detectores em solo confirmaram um Aumento de Nível do Solo (Ground Level Enhancement, GLE), evento raro em que partículas solares de altíssima energia penetram a proteção magnética do planeta. Desde a década de 1940 foram registradas apenas 77 ocorrências. Embora não representem perigo direto à população, essas partículas obrigam operadores de aviação e satélites a adotar cautela extra para proteger eletrônicos sensíveis e limitar exposição de tripulações.

Medições de satélites dentro da magnetosfera

Os satélites europeus Swarm, dedicados ao estudo do campo magnético da Terra, mediram variações superiores a dez vezes o nível normal durante a passagem da nuvem de plasma. Próximo aos polos, os instrumentos registraram aumento de prótons de alta energia, fenômeno associado às chamadas auroras de prótons, que se manifestam em latitudes inusitadas durante tempestades intensas e exibem aparência mais difusa que as auroras convencionais.

Outro dado relevante veio da missão SMOS, focada em umidade do solo e salinidade dos oceanos. Quatorze horas antes do choque da CME, a sonda identificou uma explosão de rádio com polarização específica em sentido anti-horário. Essas informações auxiliam a avaliar possíveis interferências em sistemas globais de navegação por satélite, algo que, neste episódio, não se concretizou.

Observação e impactos fora da proteção terrestre

Além do perímetro magnético da Terra, diversas espaçonaves estavam posicionadas para testemunhar a erupção. O Observatório Solar e Heliosférico (SOHO) capturou as imagens iniciais do plasma escapando do Sol, enquanto o Solar Orbiter acompanhou a evolução da nuvem, registrando partículas energéticas e a assinatura magnética do evento.

A sonda BepiColombo, empreendimento conjunto entre ESA e Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), praticamente cruzou o caminho do fluxo de partículas. Os sensores detectaram um dos mais intensos bombardeios energéticos desde o lançamento da nave, direcionada a estudos em Mercúrio. Sistemas internos apresentaram falhas de memória transitórias, corrigidas automaticamente, adicionando dados valiosos sobre vulnerabilidades de componentes eletrônicos fora do escudo magnético terrestre.

Impacto sobre tripulações humanas

O aumento de radiação ao redor do planeta também atingiu a Estação Espacial Internacional. Protocolos standard determinam que astronautas se recolham em módulos dotados de blindagem adicional quando os níveis ultrapassam limites predefinidos. Durante a tempestade, a tripulação seguiu esse procedimento até que os contadores Geiger internos sinalizaram declínio na taxa de dose absorvida.

A ESA aplica o princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable) em todos os voos tripulados, o que implica manter qualquer exposição à radiação no nível mínimo compatível com a missão. Entre as ações possíveis estão adiar caminhadas espaciais, reorganizar cronogramas de experiência científica e reposicionar astronautas em áreas de menor risco dentro do complexo orbital.

Resiliência dos sistemas e oportunidades de estudo

Apesar da severidade da tempestade, satélites operados pela ESA e outras agências não apresentaram danos estruturais. A arquitetura eletrônica dessas plataformas inclui circuitos tolerantes a radiação e margens adicionais de segurança para operações em órbita média e alta. A agência classificou o episódio como oportunidade para calibração de modelos que estimam fluxo de partículas, fornecendo base factual para aprimorar requisitos de futuras missões.

Os dados recolhidos serão úteis, principalmente, para programas destinados à Lua e ao espaço profundo. Fora do alcance total da magnetosfera terrestre, espaçonaves e módulos habitáveis precisam de blindagem otimizada contra partículas de alta energia. Estudos da ESA analisam combinações de metais leves, polímeros e, inclusive, regolito lunar como material de escudo in situ, o que pode reduzir custos de lançamento.

Avanços em previsão de clima espacial

Antecipar tempestades solares com horas de antecedência fornece tempo crítico para operadoras de redes elétricas, companhias aéreas e empresas de telecomunicações adotarem medidas preventivas. Entre as iniciativas em desenvolvimento, destaca-se a missão Vigil, programada para ser lançada em 2031 ao ponto de Lagrange 5 do sistema Sol-Terra. Dessa posição, a nave terá visão lateral do disco solar, favorecendo a detecção de regiões ativas prestes a ejetar plasma.

Outra proposta, batizada de SHIELD, prevê estação além do ponto de Lagrange 1, criando um sistema de alerta com mais de duas horas de antecedência. Se aprovada, a plataforma enviaria dados diretamente a centros de monitoramento, permitindo que gestores de infraestrutura ajustem cargas elétricas, redirecionem voos polares ou desliguem temporariamente equipamentos sensíveis.

Consequências e próximos passos

O episódio de novembro de 2025 reforça duas conclusões técnicas: a primeira é que o escudo protetor da Terra e o design de satélites modernos são eficazes em atenuar impactos mesmo em condições extremas; a segunda é que cada grande tempestade oferece um laboratório natural, gerando conjuntos de dados que não podem ser reproduzidos em ambientes de teste. À medida que o Sol avança no máximo de seu ciclo, observatórios e sondas permanecem em alerta para captar novas instâncias de radiação e aprimorar as salvaguardas que mantêm comunicações, navegação e exploração espacial operando com segurança.

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