Igreja do Santíssimo Redentor de Las Chumberas recebe prêmio Edifício do Ano 2025 e consolida renovação urbana em Tenerife

Quem ergueu o projeto que acaba de ser escolhido como Edifício do Ano 2025 é o arquiteto espanhol Fernando Menis, responsável por conduzir a obra da Igreja do Santíssimo Redentor de Las Chumberas, situada na ilha de Tenerife, Espanha. A distinção foi concedida pelo Festival Mundial de Arquitetura, realizado em Miami Beach, nos Estados Unidos, e coloca o conjunto multifuncional entre os marcos contemporâneos mais relevantes deste ciclo.
- O que o prêmio reconhece
- Onde o projeto se insere
- Quando a construção aconteceu
- Como foi financiada e executada
- Arquitetura inspirada na geologia vulcânica
- O papel da luz
- Materiais, acústica e desempenho térmico
- Módulos independentes e integração urbana
- Reconhecimento anterior e acervo em museu
- Transformação social observada
- Processos construtivos alinhados a recursos locais
- Fases da obra e desafios enfrentados
- Critérios avaliados pelo Festival Mundial de Arquitetura
- Dimensão simbólica do projeto
- Cenário futuro do entorno
O que o prêmio reconhece
O título de Edifício do Ano 2025 destaca uma construção que reúne três usos principais: templo religioso, centro comunitário e praça de convivência. A combinação foi decisiva para o júri valorizar o impacto social e urbano do complexo, que passa a ocupar posição simbólica de referência em um bairro periférico até então negligenciado. Segundo a organização do festival, a obra atua como catalisadora de renovação, oferecendo novo ponto de encontro para a população local.
Onde o projeto se insere
Las Chumberas está localizada nos arredores de La Laguna e Santa Cruz de Tenerife, principais núcleos urbanos da ilha. Nas últimas décadas, a região apresentava fragmentação no tecido construído e carecia de equipamentos públicos. A implantação da igreja, do centro de serviços paroquiais e da praça se articula como resposta a essa carência, preenchendo lacunas de sociabilidade identificadas pelos moradores e por organizações comunitárias.
Quando a construção aconteceu
O cronograma estendeu-se por mais de 15 anos. O primeiro conjunto, correspondente a dois dos quatro volumes projetados, foi finalizado em 2008, permitindo que o centro paroquial entrasse em funcionamento imediato. As demais etapas dependeram da captação de novos recursos e foram entregues em sequência até a conclusão integral, que coincidiu com o período avaliado pelo Festival Mundial de Arquitetura para a edição 2025 do prêmio.
Como foi financiada e executada
O financiamento baseou-se em doações de paroquianos, vizinhos e instituições locais. Esse fluxo variado determinou a execução em fases: quatro módulos independentes que puderam ser ativados à medida que o orçamento se confirmava. O modelo de entrega faseada garantiu uso progressivo dos espaços, mesmo antes do término do conjunto total, e serviu para manter o engajamento da comunidade durante todo o processo.
Arquitetura inspirada na geologia vulcânica
O conceito formal parte da paisagem insular de origem vulcânica. O edifício parece emergir do terreno como se fosse continuidade da rocha, apresentando quatro volumes maciços com superfície áspera. As texturas contrastam com as construções vizinhas, ressaltando a singularidade do complexo. Fendas estreitas, protegidas por estruturas de metal e vidro, separam esses blocos e viabilizam a entrada de luz natural.
O papel da luz
A iluminação natural é elemento determinante na experiência espacial interna. Sem janelas convencionais, o edifício direciona a claridade por cortes precisos na cobertura e nas superfícies verticais. Ao amanhecer, a luz atravessa uma cruz esculpida, referência simbólica à entrada do sepulcro de Jesus, e alcança a pia batismal no extremo oposto. No meio do dia, os feixes incidem sobre altar, espaço de confirmação e área de comunhão. No período da tarde, um raio isolado marca o confessionário. Claraboias adicionais iluminam as zonas dedicadas a unção, matrimônio e sacerdócio.
Materiais, acústica e desempenho térmico
O concreto foi selecionado por apresentar custo reduzido, disponibilidade local e durabilidade elevada. A escolha também se relaciona à adaptação climática: paredes espessas ampliam a inércia térmica, equilibrando variações de temperatura. Para aperfeiçoar a acústica, o arquiteto optou por misturar concreto britado a pedras vulcânicas. A rugosidade resultante absorve frequências indesejadas e garante nitidez tanto para palavra falada quanto para música litúrgica, alcançando desempenho comparável ao de salas de concerto.
Módulos independentes e integração urbana
Cada um dos quatro blocos cumpre função específica e pode operar de forma autônoma. Essa estratégia oferece flexibilidade de uso e permite que atividades sociais ocorram mesmo com o templo fechado. A praça pública ao redor integra os acessos e cria continuidade entre espaços interiores e área externa, convidando à permanência de moradores e visitantes.
Reconhecimento anterior e acervo em museu
Antes do título de Edifício do Ano 2025, a Igreja do Santíssimo Redentor de Las Chumberas já havia obtido distinções internacionais. O projeto recebeu o Prêmio de Honra Inter-religiosa Faith & Form-AIA para Arquitetura Sacra e Arte Religiosa e o Prêmio de Inovação em Concreto da Fundação Ambuja Knowledge, na Índia. Além disso, integrou-se à coleção permanente de arquitetura do Museu de Arte Moderna de Nova York, consolidando relevância além do contexto local.
Desde a entrega do primeiro módulo, em 2008, as dependências de apoio comunitário vêm sendo utilizadas para reuniões, cursos e ações de assistência. A inclusão gradual das demais áreas ampliou a oferta de serviços e fortaleceu o senso de pertencimento entre os residentes. O complexo passou a ser ponto de referência geográfica e cultural, alinhando vocação religiosa a funções coletivas.
Processos construtivos alinhados a recursos locais
A adoção de materiais provenientes da própria ilha minimizou deslocamentos e reduziu custos. O emprego de técnicas de moldagem in loco permitiu controlar texturas, formas e desempenho acústico sem dependência de soluções industrializadas externas. A combinação de concreto liso e áspero foi determinante para equilibrar reflexão sonora e absorção, resultado percebido por visitantes e pelo júri do festival.
Fases da obra e desafios enfrentados
A execução longa impôs ajustes de cronograma e logística. Cada etapa exigiu atualização de orçamentos, renegociação com fornecedores e trabalho contínuo de mobilização de doadores. Ainda assim, a estratégia de módulos independentes evitou paralisação prolongada: parte do complexo permaneceu funcional, garantindo que a comunidade usufruísse do investimento enquanto a conclusão total não se tornava viável financeiramente.
Critérios avaliados pelo Festival Mundial de Arquitetura
Para selecionar o Edifício do Ano, o festival analisa impacto social, inovação espacial, qualidade construtiva e contribuição cultural. No caso de Las Chumberas, o júri destacou a forma como a igreja redefine o bairro ao criar centralidade em ambiente carente de equipamentos, a originalidade na manipulação da luz e o uso engenhoso do concreto para alcançar desempenho acústico elevado.
Dimensão simbólica do projeto
Apesar de se basear em volumes pesados e superfícies rústicas, o conjunto encontra equilíbrio na maneira como a claridade natural se infiltra e destaca diferentes ritos ao longo do dia. Esse controle lumínico associa o edifício à tradição de espaços sacros inseridos em contextos rochosos, reforçando vínculo com a geografia de origem vulcânica da ilha e com referências bíblicas.
Cenário futuro do entorno
Com a conclusão dos quatro volumes, a praça e o centro paroquial tendem a intensificar o fluxo de atividades sociais. A premiação internacional projeta visibilidade adicional para o bairro, podendo estimular iniciativas públicas e privadas em infraestrutura, serviços e turismo religioso. O próprio festival destaca o potencial da arquitetura de servir como peça-chave em processos de revitalização urbana.
Porquê a Igreja do Santíssimo Redentor de Las Chumberas foi coroada Edifício do Ano 2025 se explica pela convergência entre qualidade arquitetônica, inovação tecnológica, compromisso social e adequação ao contexto geológico e cultural de Tenerife. A soma desses fatores legitima a escolha do júri e ilustra como uma iniciativa construída gradualmente, dependente de doações locais, pode alcançar reconhecimento global.

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