Identidade do chupacabra: ciência confirma que a criatura é um canídeo com sarna sarcóptica

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Uma investigação conduzida por patologistas veterinários, entomologistas e pesquisadores céticos esclarece um dos mitos mais populares das últimas décadas: o chupacabra. O suposto predador sobrenatural, que ganhou manchetes a partir de meados da década de 1990 por atacar rebanhos e sugar sangue de animais domésticos, corresponde, na realidade, a coiotes e cães acometidos por sarna sarcóptica. Essa condição cutânea, provocada pelo ácaro Sarcoptes scabiei, altera drasticamente a aparência dos canídeos, gerando confusão e alimentando relatos de uma criatura desconhecida.
- Origem dos primeiros relatos
- Expansão da lenda e características atribuídas
- Investigação científica e metodologia
- Constatações laboratoriais
- A sarna sarcóptica como peça-chave
- Alterações na aparência e impacto sobre o comportamento
- Papel dos especialistas na desmistificação
- Fatores que facilitaram a manutenção do mito
- Consequências para a fauna silvestre e para os criadores
- Desfecho do enigma
Origem dos primeiros relatos
A narrativa do chupacabra surgiu em Porto Rico, na metade dos anos 1990, quando moradores atribuíram a mortes de cabras e outros animais de criação a um ser descrito como sem pelo, de pele enrugada e comportamento agressivo. A história rapidamente se espalhou para países da América Latina, alcançou os Estados Unidos e chegou a outros continentes, consolidando-se como lenda urbana internacional.
Expansão da lenda e características atribuídas
À medida que a história atravessava fronteiras, relatos descreviam uma criatura de porte médio, sem pelos, com pele escurecida ou acinzentada, focinho alongado e olhos profundos. Supostos avistamentos mencionavam ainda garras proeminentes e um odor forte. A aparência incomum, somada a carcaças de gado com perfurações no pescoço, reforçou a ideia de um predador especializado em sugar sangue. O fenômeno de narrativa coletiva ganhou força graças à cobertura midiática, à internet nascente e ao fascínio popular por mistérios.
Investigação científica e metodologia
Para verificar a veracidade desses relatos, especialistas de diferentes áreas analisaram fotos, carcaças e amostras biológicas coletadas em locais onde o chupacabra teria sido visto. Entre os envolvidos estão o patologista veterinário Kevin Keel, com atuação em doenças da vida selvagem, o entomologista Barry OConnor, da Universidade de Michigan, e o pesquisador Benjamin Radford, do Comitê para a Investigação Cética. Keel avaliou imagens de supostas carcaças da criatura; OConnor estudou o parasita responsável pela doença de pele observada; Radford comparou amostras genéticas de animais suspeitos.
Constatações laboratoriais
Em todas as amostras avaliadas, os testes de DNA identificaram espécies conhecidas, como coiotes e cães domésticos. Nenhum material analisado indicou a existência de um novo animal. Essa conclusão foi corroborada por observações morfológicas: membros, dentição e crânio compatíveis com canídeos já classificados pela ciência.
A sarna sarcóptica como peça-chave
O traço mais decisivo para a confusão foi a presença de sarna sarcóptica, enfermidade causada pelo ácaro Sarcoptes scabiei var. canis. O parasita provoca escabiose, caracterizada por queda de pelos (alopecia), enrugamento da pele e formação de crostas. Além das lesões cutâneas, os animais acometidos sofrem coceira intensa, tornan-do-se agitados ou letárgicos, fatores que dificultam a caça normal.
Alterações na aparência e impacto sobre o comportamento
A alopecia expõe a pele cinza ou enegrecida, enquanto as crostas e fissuras contribuem para um aspecto “monstruoso”. O enrugamento confere ao focinho e às articulações um volume incomum, alterando as proporções visuais do animal. Quando debilitados, coiotes e cães com sarna perdem agilidade e passam a buscar presas de captura simples, como cabras confinadas ou frangos em galinheiros. Esses ataques reforçaram a crença em um ser que preferia sangue de gado doméstico.
Papel dos especialistas na desmistificação
Kevin Keel, ao interpretar imagens de carcaças, identificou traços inequívocos de coiotes, ainda que “em estado clínico crítico”. Barry OConnor detalhou como o parasita modifica o corpo do hospedeiro a ponto de torná-lo irreconhecível para observadores leigos. Benjamin Radford, munido de amostras de DNA coletadas no Texas e em outros estados norte-americanos, concluiu que todas se referiam a espécies conhecidas, reafirmando a inexistência de um predador misterioso.
Fatores que facilitaram a manutenção do mito
Diversos elementos contribuíram para a perpetuação da lenda. A ausência de pelos e o aspecto doentio dos animais criaram imagens chocantes que circularam sem contexto, sobretudo nas redes e programas televisivos sensacionalistas. A coincidência geográfica entre surtos de sarna em populações de coiotes e surtos de ataques a rebanhos intensificou a correlação imaginária. Somado a isso, a dificuldade de capturar um desses canídeos vivos e a rapidez com que carcaças se decompõem limitaram verificações imediatas.
Consequências para a fauna silvestre e para os criadores
Embora o mito tenha origem em um equívoco de identificação, ele evidencia um problema real: a sarna sarcóptica em canídeos selvagens. A doença compromete populações inteiras, reduzindo capacidade de caça e interferindo no equilíbrio ecológico local. Para agricultores, o aumento de ataques a animais de criação representa prejuízo econômico, mesmo que o agressor seja um coiote doente e não uma entidade sobrenatural.
Desfecho do enigma
Com a convergência de análises morfológicas, exames de DNA e estudo da patologia, a conclusão é unânime: o chupacabra não passa de uma interpretação equivocada de coiotes ou cães severamente afetados por sarna sarcóptica. A ciência, ao demonstrar que não há criatura desconhecida por trás dos ataques, desloca o foco para a saúde da fauna selvagem e para a gestão de rebanhos vulneráveis.

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