IA no TikTok: relatório aponta 354 contas que somam 4,5 bilhões de visualizações com vídeos sexualizados e fake news

Centenas de perfis dedicados a IA no TikTok têm alcançado números extraordinários em curtíssimo prazo, pulverizando vídeos automatizados que misturam cenas sexualizadas, mensagens anti-imigração e manipulações que imitam telejornais. Um estudo da organização sem fins lucrativos AI Forensics contabilizou 354 contas ativas nesse nicho, responsáveis por cerca de 43 mil postagens geradas por ferramentas de inteligência artificial e consumidas 4,5 bilhões de vezes em apenas 30 dias.
- IA no TikTok: dimensões da produção identificada no relatório
- IA no TikTok e o algoritmo: estratégias de automação para ganhar alcance
- Principais tipos de conteúdo gerado por IA no TikTok: sexualização, anti-imigração e simulação de telejornais
- Falhas na rotulagem de IA no TikTok e posicionamento oficial da plataforma
- Impactos para o usuário e desafios de moderação diante da avalanche de IA no TikTok
- Medidas em andamento e próximos passos no ecossistema
IA no TikTok: dimensões da produção identificada no relatório
O levantamento, conduzido em Paris, examinou a frequência, o volume e os formatos publicados pelas contas mapeadas. De acordo com os pesquisadores, algumas delas chegam a 70 uploads diários, sinalizando uso intensivo de automação. Embora o TikTok tenha divulgado que há pelo menos 1,3 bilhão de postagens rotuladas como IA em todo o aplicativo, a amostra revela que esse universo cresce num ritmo que desafia os mecanismos de controle.
Outro indicador de velocidade é a data de criação dos perfis analisados: a maioria surgiu no início de 2025, mostrando que a tendência se consolidou rapidamente. Ainda dentro da amostra, metade das contas dedica-se a conteúdos que destacam corpos femininos, invariavelmente com personagens geradas artificialmente em poses sugestivas e vestimentas decotadas.
IA no TikTok e o algoritmo: estratégias de automação para ganhar alcance
Segundo a AI Forensics, a tática predominante envolve alimentar o algoritmo do TikTok com um grande volume de publicações curtas, o que amplia as chances de cada vídeo entrar na página “For You”. A cifra de até 70 vídeos por dia só é viável por meio de processos totalmente automatizados, nos quais a criação, a renderização e o envio são feitos por scripts.
Esse comportamento massivo gera uma retroalimentação: quanto mais conteúdo o perfil despeja, maior a probabilidade de uma parte dele viralizar, impulsionando visualizações futuras e atraindo novos seguidores. Na prática, o mecanismo ofusca produções humanas que publicam com menor frequência.
Principais tipos de conteúdo gerado por IA no TikTok: sexualização, anti-imigração e simulação de telejornais
Os vídeos identificados foram agrupados em três categorias predominantes:
1. Sexualização de avatares femininos – Metade das postagens foca em corpos digitalmente criados, exibidos com trajes minúsculos ou posições sugerindo apelo erótico. Em determinados casos, os pesquisadores notaram personagens que aparentam ser menores de idade, o que intensifica as preocupações.
2. Narrativas anti-imigração – Vários perfis replicam o formato de telejornais, com apresentadores sintéticos e letreiros falsos atribuídos a grandes emissoras, a fim de transmitir credibilidade. Nessas peças, os discursos atacam políticas migratórias ou associam imigração a criminalidade, sem base em dados verificáveis.
3. Conteúdo absurdo ou “fofo” – Há ainda clipes de animais participando de competições olímpicas ou bebês que falam frases complexas. Embora classificados como irrelevantes no estudo, acumulam alto engajamento porque apelam ao humor e ao inusitado.
Falhas na rotulagem de IA no TikTok e posicionamento oficial da plataforma
Um ponto recorrente no relatório é a inconsistência na sinalização. Dos 43 mil vídeos analisados, metade não trazia qualquer aviso indicando uso de inteligência artificial e apenas 2 % exibiam o selo oficial oferecido pela rede social. Esse hiato dificulta que o usuário médio identifique se está diante de material genuíno ou sintético.
Procurado pelos pesquisadores, o TikTok declarou que as alegações de descontrole seriam “infundadas” e lembrou que o problema ultrapassa sua plataforma. A empresa informou ter removido conteúdo nocivo gerado por IA e bloqueado “centenas de milhões” de contas automatizadas. A nota acrescenta investimentos em sistemas líderes de rotulagem e a recente opção para que o usuário veja menos conteúdo gerado artificialmente.
Impactos para o usuário e desafios de moderação diante da avalanche de IA no TikTok
O cenário exposto pelo estudo evidencia que a distinção entre produções humanas e mecânicas tende a ficar mais turva. Dois fatores agravam esse processo:
Escala diária de uploads – A própria plataforma reporta 100 milhões de vídeos enviados a cada 24 horas. Dentro desse oceano, postagens automatizadas podem se camuflar facilmente.
Dificuldade de verificação manual – Conteúdos que imitam telejornais ou se passam por reportagens requerem checagem editorial para confirmar veracidade. Porém, a quantidade e a velocidade de circulação inviabilizam revisão caso a caso.
Para a AI Forensics, a simples adoção de rótulos voluntários é insuficiente. A organização sugere mecanismos mais robustos, como a segregação de vídeos gerados por IA em seções específicas, evitando que o feed principal misture material “sintético” e “orgânico”.
Medidas em andamento e próximos passos no ecossistema
Após a divulgação do relatório, várias das contas monitoradas foram excluídas da plataforma. Paralelamente, iniciativas corporativas indicam que o TikTok busca fortalecer infraestrutura e recursos de IA, como o anúncio de um data center no Ceará, com investimento estimado em R$ 200 bilhões. A holding responsável pelo aplicativo também lançou assistente de voz baseado em IA em um smartphone chinês e expandiu a TikTok Shop, que já rivaliza com o eBay em volume global de comércio eletrônico.
Para os pesquisadores, tais ações mostram que a integração de inteligência artificial ao ecossistema da rede é um caminho sem volta. A investigação conclui que a presença massiva de conteúdo gerado por IA já faz parte da dinâmica de viralização e que a linha entre material autêntico e sintético deve tornar-se ainda mais difícil de identificar nos próximos ciclos de atualização da plataforma.

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