Entenda por que gatos levam presas para dentro de casa e quais cuidados adotar

É comum que gatos, mesmo bem alimentados e mantidos em ambiente doméstico, retornem de passeios carregando pequenos animais mortos. De acordo com veterinários, o hábito está ligado ao instinto de caça herdado do Felis silvestris lybica, espécie considerada ancestral direto dos gatos modernos.

Antes da domesticação, caçar era essencial para garantir alimento e água. Esse comportamento, gravado no código genético, sustenta a necessidade de perseguir e capturar presas, independentemente da oferta de ração ou brinquedos dentro de casa.

Além da origem evolutiva, outras hipóteses ajudam a explicar o transporte de presas até o tutor. Uma delas afirma que o felino pode interpretar o ato como presente à família, reforçando vínculos sociais semelhantes aos observados entre indivíduos do mesmo grupo nas colônias felinas.

Outra possibilidade envolve o comportamento de ensino. No ambiente selvagem, mães levam animais abatidos para filhotes aprenderem técnicas de caça. Dentro de casa, o gato pode entender que o tutor não domina essa habilidade e tenta “treiná-lo” ao entregar o prêmio conquistado.

Especialistas também mencionam a marcação de território. Ao depositar a presa em local visível, o felino reforça que aquela área faz parte de seu espaço seguro, sinalizando domínio a eventuais concorrentes invisíveis aos humanos.

O estímulo mental e físico é mais um fator relevante. A perseguição ativa olfato, visão e audição, funcionando como exercício e alívio de energia acumulada, sobretudo em animais com acesso restrito à rua ou à interação com brinquedos que simulem presas.

Por fim, existe a busca por reconhecimento. A entrega do animal abatido pode aguardar uma reação positiva do tutor, fortalecendo a repetição do comportamento sempre que houver resposta de atenção ou agrado.

Riscos para a saúde do gato e da família

Atraente para o felino, a prática traz perigos consideráveis. Roedores, aves e pequenos répteis frequentemente carregam pulgas, carrapatos e vermes, capazes de transmitir toxoplasmose, leptospirose, salmonelose e outras zoonoses. O contato com sangue ou secreções dessas presas representa porta de entrada para infecções que também ameaçam humanos e outros animais domésticos.

A contaminação pode ocorrer pela ingestão direta da presa, pela manipulação do tutor ao descartar o corpo ou por meio de arranhões e lambidas após o animal caçar. Por isso, o acompanhamento veterinário regular, com calendário de vacinas, vermifugação e antiparasitários tópicos ou orais, torna-se essencial.

Como agir ao encontrar uma presa em casa

Veterinários orientam evitar broncas ou punições que provoquem estresse no felino. O recomendado é distraí-lo com petisco ou brinquedo, retirar a presa usando luvas ou saco plástico e descartá-la no lixo orgânico bem fechado. Enterrar o animal abatido não é indicado, pois o gato pode desenterrar e trazê-lo novamente.

Após a remoção, o tutor deve lavar as mãos com água e sabão, higienizar o local com produto desinfetante e observar o pet nas horas seguintes. Vômito, diarreia, apatia ou febre sugerem intoxicação ou infecção, exigindo atendimento clínico imediato.

Estratégias para minimizar o comportamento

Embora seja difícil eliminar completamente o instinto de caça, algumas medidas reduzem a frequência das capturas. Oferecer ração com teor proteico adequado diminui a necessidade de buscar alimento alternativo. Brinquedos interativos, arranhadores e sessões diárias de brincadeiras que simulem perseguição ajudam a gastar energia.

Mantê-lo dentro de casa em horários de maior atividade de presas, como fim de tarde e madrugada, também limita oportunidades de caça. Redes de proteção em janelas, coleira com guizo e monitoramento durante passeios supervisionados colaboram para manter aves e pequenos mamíferos fora de alcance.

A combinação de prevenção sanitária, enriquecimento ambiental e manejo adequado quando o comportamento acontece preserva a saúde do gato, do tutor e do ecossistema local, sem suprimir traços naturais que fazem parte da história evolutiva da espécie.

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