Explosões solares do tipo X obrigam cosmonautas a mudar de módulo na ISS e criam auroras em latitudes incomuns

Ao longo de uma semana marcada por atividade solar excepcionalmente intensa, três erupções classificadas como X – a categoria mais poderosa no sistema de medição da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) – partiram do grupo de manchas AR4274 e lançaram plasma e campos magnéticos rumo à Terra. Dezenas de explosões secundárias complementaram o quadro, ampliando o volume de partículas energéticas no espaço próximo ao planeta. O efeito combinado desses eventos proporcionou auroras em latitudes pouco usuais, como o México, mas também elevou o nível de radiação em órbita, obrigando parte da tripulação da Estação Espacial Internacional (ISS) a deslocar-se para áreas de maior blindagem dentro do complexo.
- Quem foi afetado diretamente pela radiação
- O que ocorreu com o Sol
- Quando e onde se manifestaram os efeitos na Terra
- Como as partículas solares geram auroras
- Por que a radiação representa perigo em órbita
- Medidas adotadas pela tripulação
- Composição completa da Expedição 73
- Consequências operacionais para a estação
- Fenômeno visual versus risco prático
- Incidente com taikonautas da missão Shenzhou-20
- Relação entre detritos orbitais e atividade solar
- Permanência em vigilância
- Próximos passos da tripulação da ISS
Quem foi afetado diretamente pela radiação
A medida preventiva envolveu os cosmonautas Oleg Platonov, Sergey Ryzhikov e Alexey Zubritsky. Durante a noite de maior fluxo de partículas, os três deixaram seus dormitórios habituais e passaram a ocupar o módulo científico da ISS, designado previamente como espaço de refúgio em situações de tempestade solar. No segmento norte-americano, os astronautas da NASA Mike Fincke, Jonny Kim e Zena Cardman, além do japonês Kimiya Yui, permaneceram em seus alojamentos originais, uma vez que os sensores de bordo indicaram níveis de radiação dentro dos parâmetros considerados seguros para aquela área.
O que ocorreu com o Sol
O centro da atenção foi o grupo de manchas AR4274, localizado na fotosfera solar. Essa região passou por um processo acelerado de instabilidade magnética, liberando três erupções do tipo X em apenas três dias. Cada erupção impulsionou uma ejeção de massa coronal (CME, na sigla em inglês), constituída por plasma eletricamente carregado e linhas de campo magnético reconfiguradas. As CMEs seguiram em direção ao espaço interplanetário e, parte delas, interceptou a magnetosfera terrestre.
Quando e onde se manifestaram os efeitos na Terra
A chegada do fluxo de partículas foi registrada principalmente nas noites de terça-feira, quarta-feira e quinta-feira (11, 12 e 13 do mês em andamento). O impacto mais visível ocorreu no Hemisfério Norte, onde observadores relataram auroras de grande extensão. Fenômenos luminosos desse tipo foram avistados não apenas em regiões tradicionalmente submetidas a essa ocorrência, como Canadá e Escandinávia, mas também em latitudes mais baixas, que raramente presenciam o espetáculo. Relatos confirmam observações no México, revelando a intensidade atípica do evento geomagnético.
Como as partículas solares geram auroras
Quando uma CME alcança a Terra, seus íons colidem com a magnetosfera e são canalizados para as proximidades dos polos. Nesse processo, as partículas interagem com oxigênio, nitrogênio e outros gases atmosféricos, excitando elétrons e liberando energia em forma de luz. O resultado são as cortinas coloridas conhecidas como auroras. Entretanto, a mesma interação que produz beleza visual pode implicar riscos substanciais fora da proteção atmosférica.
Por que a radiação representa perigo em órbita
Diferentemente da superfície terrestre, a Estação Espacial Internacional opera a aproximadamente 400 quilômetros de altitude, onde a densidade atmosférica é insuficiente para bloquear íons altamente energéticos. Esses íons podem atravessar o casco pressurizado e depositar dose significativa de radiação nos tripulantes, aumentando o risco de danos celulares e comprometendo equipamentos eletrônicos sensíveis. O protocolo padrão da ISS determina deslocamento para módulos com blindagem reforçada sempre que a taxa de dose ultrapassa um limite preestabelecido.
Medidas adotadas pela tripulação
Segundo a porta-voz Sandra Jones, da NASA, a estação dispõe de áreas catalogadas justamente para cenários de tempestade solar. Instrutores em terra enviam orientações detalhadas sobre trajetos a evitar, aparelhos a desligar temporariamente e posicionamento de painéis de monitoramento. No episódio mais recente, esses procedimentos foram ativados de forma parcial: apenas o trio russo se deslocou, pois sensores instalados no segmento norte-americano indicaram que a proteção ali se manteve adequada.
Composição completa da Expedição 73
Além dos três cosmonautas que precisaram mudar de módulo, a Expedição 73 engloba os quatro astronautas que chegaram em 1º de agosto a bordo de uma cápsula Dragon da SpaceX. A permanência planejada para todos é de aproximadamente seis meses, dos quais restam três. Durante esse período, a equipe executa experimentos de microgravidade, manutenção de sistemas vitais e, agora, rotinas extraordinárias de mitigação de dose radiativa.
Consequências operacionais para a estação
Além do cuidado com a saúde da tripulação, episódios de tempestade solar exigem reorganização de diversas tarefas. Atividades extraveiculares ficam suspensas, sistemas de energia podem operar em modo de maior resiliência e antenas de comunicação passam por ajustes finos para lidar com possíveis interferências. Na semana em análise, nenhuma caminhada espacial estava agendada, o que facilitou a rápida adoção do protocolo de refúgio sem impacto maior no cronograma científico.
Fenômeno visual versus risco prático
O contraste entre as auroras multicoloridas observadas em solo e o cenário de alerta dentro da ISS exemplifica a dualidade da atividade solar. Enquanto observadores contemplam paisagens raras, operários do espaço precisam monitorar métricas de radiação em tempo real. A resposta rápida da tripulação demonstra a eficácia do treinamento específico para eventos solares extremos, mas também reforça a vulnerabilidade humana em ambientes além da atmosfera.
Incidente com taikonautas da missão Shenzhou-20
Na mesma janela temporal, outro grupo de viajantes espaciais lidou com adversidades, embora de natureza distinta. Os astronautas chineses Chen Dong, Chen Zhongrui e Wang Jie, integrantes da missão Shenzhou-20, tiveram o regresso à Terra adiado em razão de possíveis impactos na cápsula de retorno por fragmentos de lixo espacial. O desacoplamento da estação Tiangong foi postergado em uma semana, prolongando a estadia em órbita. O pouso ocorreu sem incidentes na região de Dongfeng, Mongólia Interior, às 4h45 (horário de Brasília) de sexta-feira (14), com avaliação médica preliminar indicando boas condições físicas dos três.
Relação entre detritos orbitais e atividade solar
Embora o atraso da Shenzhou-20 tenha sido atribuído a detritos, e não à tempestade solar, o acontecimento destaca outro fator de risco para missões tripuladas: a densidade de objetos artificiais em órbita baixa. Tempestades geomagnéticas intensas, como as geradas pelas CMEs da semana, podem alterar a densidade superior da atmosfera e, consequentemente, a altitude de detritos, aumentando a chance de encontros indesejados com satélites ou veículos espaciais.
Permanência em vigilância
Os recentes episódios servem como lembrete de que a atividade solar segue sendo variável e, por vezes, intensa. Observatórios terrestres e sondas em órbita do Sol mantêm monitoramento constante do grupo de manchas AR4274, enquanto sistemas automáticos na ISS continuam a registrar níveis de radiação. Qualquer aumento súbito desencadeia sequências programadas de alarme, garantindo aos tripulantes segundos preciosos para alcançar áreas protegidas.
Próximos passos da tripulação da ISS
Com a estabilização dos índices de radiação após o pico de partículas carregadas, as equipes da ISS retomam gradualmente a rotina científica. Experimentações suspensas por precaução recomeçam, e relatórios técnicos sobre o evento serão enviados às agências espaciais parceiras para avaliação de longo prazo. Os dados coletados contribuirão para ajustar futuros protocolos de tempestade solar e aprimorar a engenharia de blindagem nas próximas gerações de módulos habitáveis.

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