Estudo global identifica bactérias intestinais mais ligadas à saúde e à dieta

Bactérias intestinais foram classificadas em detalhes por um estudo internacional que analisou microbioma, padrões alimentares e marcadores clínicos de mais de 34,5 mil voluntários dos Estados Unidos e do Reino Unido. Os resultados, divulgados na revista Nature, formam os Rankings ZOE Microbiome Health 2025 e Diet Ranking 2025, que organizam 661 espécies microbianas em uma escala de risco ou benefício para a saúde humana.
- Participantes e abrangência do estudo de bactérias intestinais
- Como os pesquisadores mapearam 661 espécies de bactérias intestinais
- Principais achados sobre bactérias intestinais favoráveis e desfavoráveis
- Dieta equilibrada aumenta presença de bactérias intestinais benéficas
- Intervenções nutricionais e a resposta das bactérias intestinais
- Limitações e próximos passos na pesquisa sobre bactérias intestinais
Participantes e abrangência do estudo de bactérias intestinais
A investigação reuniu dados de adultos cadastrados no programa ZOE PREDICT, iniciativa que busca entender como o microbioma intestinal interfere em quadros como obesidade, risco cardiometabólico e qualidade geral da alimentação. O conjunto de 34,5 mil indivíduos incluiu moradores de diferentes regiões dos EUA e do Reino Unido, oferecendo um panorama demográfico variado de idades, índices de massa corporal (IMC) e hábitos dietéticos.
Todos os participantes forneceram amostras fecais para sequenciamento de DNA microbiano, preencheram questionários detalhados sobre consumo alimentar e passaram por exames capazes de mensurar glicemia, hemoglobina glicada (HbA1c), triglicerídeos e outros indicadores metabólicos. Esses dados permitiram relacionar a presença de certas bactérias intestinais a estados de saúde favoráveis ou a maior probabilidade de doença.
Como os pesquisadores mapearam 661 espécies de bactérias intestinais
Os cientistas aplicaram modelos de machine learning para cruzar a abundância relativa de cada uma das 661 espécies com dezenas de marcadores clínicos e dietéticos. O algoritmo atribuiu a cada microrganismo uma pontuação entre 0 e 1. Quanto mais próxima de zero, maior a associação da bactéria a bons desfechos metabólicos; quanto mais próxima de um, maior o vínculo com resultados clínicos indesejáveis.
Com base nessas pontuações, foram definidos dois rankings. O ZOE Microbiome Health Ranking 2025 reflete a relação entre cada espécie e variáveis de saúde, enquanto o Diet Ranking 2025 indica o grau de alinhamento de cada bactéria com padrões alimentares considerados equilibrados ou desequilibrados dentro do estudo.
Principais achados sobre bactérias intestinais favoráveis e desfavoráveis
Entre as 661 espécies examinadas, 50 foram classificadas como fortemente favoráveis e outras 50 como claramente desfavoráveis. A lista de microrganismos benéficos esteve associada a IMC mais adequado, triglicerídeos mais baixos, melhor controle glicêmico e menor HbA1c. Por outro lado, as espécies na extremidade oposta da escala foram ligadas a valores elevados desses mesmos marcadores.
Ao comparar grupos de peso distinto, os pesquisadores encontraram, em média, 5,2 espécies favoráveis adicionais no intestino de pessoas com peso saudável em relação às que apresentavam obesidade. De maneira semelhante, participantes livres de doenças crônicas abrigavam proporção maior de bactérias protetoras e menor de microrganismos relacionados a risco.
Dieta equilibrada aumenta presença de bactérias intestinais benéficas
A análise identificou correlação positiva entre padrões alimentares considerados equilibrados e maior abundância de bactérias intestinais com pontuações próximas de zero. Indivíduos que relataram consumo diversificado de vegetais, frutas, fibras e gorduras insaturadas tendiam a exibir composição microbiana mais alinhada a bons resultados metabólicos. Por outro lado, dietas ricas em ultra processados e açúcares adicionados favoreceram o crescimento de espécies ligadas a marcadores clínicos desfavoráveis.
Essas observações reforçam a noção de que hábitos alimentares influenciam diretamente o ecossistema intestinal e, por consequência, os parâmetros de saúde avaliados. Embora o desenho do estudo seja observacional, o amplo número de participantes confere solidez estatística aos vínculos identificados.
Intervenções nutricionais e a resposta das bactérias intestinais
Para investigar mudanças ao longo do tempo, dois grupos de voluntários foram acompanhados durante intervenções distintas. No primeiro, participantes seguiram um plano alimentar personalizado, elaborado conforme necessidades energéticas, preferências e metas de saúde. No segundo, os voluntários passaram a usar um suplemento prebiótico, composto por fibras fermentáveis que servem de substrato para determinadas bactérias.
Em ambas as intervenções, as amostras fecais indicaram alteração significativa na composição microbiana. Houve aumento de Bifidobacterium animalis, espécie frequentemente relacionada ao consumo de laticínios fermentados, e crescimento de bactérias da família Lachnospiraceae, associadas a dietas vegetarianas e veganas. Essas mudanças ocorreram paralelamente a reduções discretas em marcadores como triglicerídeos e glicemia em jejum.
Além das espécies conhecidas, o estudo destacou várias bactérias ainda pouco descritas na literatura científica que apareceram fortemente associadas a melhor perfil metabólico. Esse achado amplia o campo de investigação sobre probióticos e prebióticos específicos capazes de modular o microbioma em benefício da saúde humana.
Limitações e próximos passos na pesquisa sobre bactérias intestinais
Os autores ressaltam que, por se tratar de um desenho observacional, não é possível estabelecer causalidade direta entre a presença de determinadas bactérias intestinais e o desfecho clínico. No entanto, os novos rankings fornecem referência refinada para futuras intervenções controladas que pretendam testar efeitos específicos de cada microrganismo.
Outra limitação reconhecida é a concentração de participantes em dois países de alta renda. Fatores geográficos, culturais e genéticos podem influenciar a composição do microbioma, de modo que extensões do estudo para outras populações são vistas como etapa fundamental para validar a escala de classificação recém-proposta.
A próxima fase declarada pelo consórcio ZOE PREDICT é acompanhar parte dos voluntários por períodos mais longos, avaliando a estabilidade das espécies benéficas e o impacto de mudanças graduais de dieta. A atualização dos rankings está prevista para 2025, alinhando-se à expectativa de que novas amostras e análises de machine learning detalhem ainda mais o papel de cada bactéria no metabolismo humano.

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