Erro na identificação de vítimas do desastre da Air India agrava sofrimento de familiares

Um erro na entrega dos restos mortais de uma das vítimas do acidente da Air India, ocorrido a 12 de junho, está a prolongar o luto de uma família britânica. Arwen Greenlaw denunciou que recebeu um caixão que continha partes de dois corpos que não pertenciam ao irmão, Fiongal Greenlaw-Meek, de 39 anos, falecido no voo que partira de Ahmedabad rumo a Londres Gatwick.

Família confrontada com troca de corpos

Fiongal Greenlaw-Meek e o marido, Jamie Greenlaw-Meek, de 45 anos, geriam um centro de bem-estar em Ramsgate, Kent, e integravam a lista de 242 pessoas a bordo do Boeing 787-8 Dreamliner. Após o acidente, a mãe de Fiongal viajou para a Índia para participar no processo formal de identificação, fornecendo amostras de ADN. Três dias depois, regressou ao Reino Unido com um caixão que acreditava conter os restos mortais do filho.

Já em Londres, testes ordenados pelo médico-legista revelaram que o conteúdo correspondia a duas vítimas distintas, sem correspondência genética com a família Greenlaw. A confirmação foi possível graças a material biológico recolhido dos auscultadores que Fiongal transportava no momento da queda. “Foi como perdê-lo duas vezes”, declarou Arwen Greenlaw, sublinhando a necessidade de “dignidade e encerramento”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico indicou que mantém equipas de apoio dedicadas às famílias afectadas e continua a colaborar com as autoridades indianas. O departamento recordou que a identificação formal compete às entidades locais.

Falhas apontadas no local do acidente

Segundo Arwen Greenlaw, o cenário em Ahmedabad apresentava “falta de protocolos forenses” e terá permanecido aberto durante 48 horas após o sinistro. A família teme que o irmão possa ter sido cremado por engano sob outra identidade. “Alguém rotulou mal os restos mortais, e isso aumentou o trauma”, afirmou.

Casos semelhantes foram relatados por outros familiares. Miten Patel, filho de Ashok e Shobhana Patel, também descobriu a presença de restos alheios no caixão da mãe, situação confirmada por médicos forenses no Reino Unido.

Investigação ao acidente prossegue

O voo AI171 transportava 230 passageiros e 12 tripulantes, entre eles 169 cidadãos indianos, 53 britânicos, sete portugueses e um canadiano. A aeronave caiu pouco depois da descolagem, provocando pelo menos 270 mortes, número que inclui residentes de um bairro próximo do aeroporto internacional Sardar Vallabhbhai Patel, na cidade de Ahmedabad.

Um relatório preliminar de 15 páginas, divulgado em julho, indica que o fornecimento de combustível aos motores foi interrompido segundos após a partida. Registos de áudio da cabine mostram um dos pilotos a perguntar “porque é que desligaste?”, ao que o colega respondeu “não o fiz”. Ainda não se sabe o que originou o corte de combustível. O relatório final deverá ficar concluído dentro de 12 meses.

A Índia garantiu que os procedimentos de identificação seguiram “protocolos estabelecidos” e foram conduzidos com “o máximo profissionalismo”. Todavia, as famílias britânicas exigem responsabilidades pelas confusões registadas. “Não somos ingénuos; sabemos que o cenário era complexo. Contudo, os restos do meu irmão foram encontrados e, nessa altura, esperávamos que chegassem a casa em segurança”, declarou Arwen Greenlaw.

Apoio consular em curso

O Governo britânico disponibilizou assistentes dedicados a cada família que assim o solicite, bem como interlocutores junto das autoridades de Gujarat e de Nova Deli. A colaboração visa garantir a correcta repatriação dos corpos e apoiar o processo de inquérito do médico-legista de Inner West London.

Enquanto aguardam respostas definitivas, os Greenlaw-Meek salientam a memória de Fiongal e Jamie, descritos pela irmã como “duas metades de uma alma”. O casal publicou um vídeo nas redes sociais poucas horas antes do embarque, no qual classificava a estadia na Índia como “mágica”.

As conclusões finais sobre as causas do desastre e sobre as falhas na identificação das vítimas deverão ser decisivas para evitar incidentes semelhantes no futuro, defendem os familiares. Até lá, permanecem em busca de um desfecho que lhes permita avançar com o processo de luto.

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Imagem: bbc.com

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