Dupla de cometas SWAN e Lemmon faz aproximação inédita e terá transmissão ao vivo

Dois cometas de origens e trajetórias distintas poderão ser vistos em tempo real na próxima segunda-feira (20) graças a uma transmissão promovida por um conjunto de telescópios robóticos localizado em Manciano, na Itália. A iniciativa, que começa às 14h30 no horário de Brasília, mostrará o momento em que os objetos catalogados como C/2025 R2 SWAN e C/2025 A6 Lemmon cruzarão o campo de visão dos instrumentos, situando-se, respectivamente, a aproximadamente 39 milhões e 90 milhões de quilômetros do nosso planeta. Trata-se de uma oportunidade singular para acompanhar, de forma simultânea, dois visitantes celestes em fases de brilho favoráveis, algo raro na astronomia observacional contemporânea.
- O que acontece na segunda-feira
- Cometa C/2025 R2 SWAN: origem da detecção
- Validação e catalogação
- Um visitante que só retorna a cada 22 milênios
- Cometa C/2025 A6 Lemmon: da obscuridade ao destaque
- Escalada de brilho e condição atual
- A janela ideal no Hemisfério Norte
- Como fica para quem observa do Brasil
- Dicas de observação segura
- Importância de acompanhar a transmissão
- Expectativas científicas e educativas
O que acontece na segunda-feira
Na data marcada, câmeras de alta sensibilidade ligadas a telescópios controlados remotamente irão coletar imagens dos cometas e transmiti-las pela internet. O horário foi escolhido para coincidir com a posição dos corpos no céu europeu e com a probabilidade de os dois registrarem o pico de luminosidade aparente. Mesmo quem não dispõe de equipamentos ópticos poderá, portanto, assistir ao fenômeno sem sair de casa. Durante a exibição, o C/2025 R2 SWAN apresentará sua menor distância angular em relação à Terra, enquanto o C/2025 A6 Lemmon deverá evidenciar a cauda gasosa intensificada que o levou a surpreender especialistas nas últimas semanas.
Cometa C/2025 R2 SWAN: origem da detecção
O SWAN recebeu essa designação porque foi identificado, em 12 de setembro de 2025, por imagens fornecidas pelo instrumento Solar Wind Anisotropies, a bordo da sonda SOHO, mantida em conjunto pela NASA e pela Agência Espacial Europeia. O astrônomo amador ucraniano Vladimir Bezugly percebeu uma mancha em movimento entre os registros do satélite e relatou o achado à comunidade científica. A câmera em questão tem a função de mapear o hidrogênio presente no vento solar; a forma como o cometa se destacou nas imagens sugere que seu núcleo contém quantidade significativa desse elemento.
Validação e catalogação
Após a descoberta inicial, diversos observatórios terrestres confirmaram a natureza cometária do objeto, permitindo que o Minor Planet Center — órgão da União Astronômica Internacional responsável pela compilação de dados sobre pequenos corpos do Sistema Solar — adicionasse o SWAN ao seu catálogo oficial. A partir de então, astrônomos profissionais e amadores vêm monitorando o astro em diferentes latitudes, registrando a evolução do brilho e a extensão da cauda.
Um visitante que só retorna a cada 22 milênios
Segundo o Small Body Database, da NASA, o C/2025 R2 SWAN pertence à categoria de cometas de longo período. Cálculos preliminares indicam que ele leva cerca de 22 000 anos para completar uma órbita ao redor do Sol. Essa estimativa implica que a passagem atual é a única que poderá ser presenciada pela humanidade contemporânea. A maior aproximação do objeto ocorreu no domingo (12), quando a distância foi de 0,25 unidade astronômica, equivalente a cerca de 37,5 milhões de quilômetros. Desde então, a cauda e a coma do cometa vêm gerando registros fotográficos que circulam amplamente nas redes sociais dedicadas à astronomia.
Cometa C/2025 A6 Lemmon: da obscuridade ao destaque
Diferentemente do SWAN, o cometa Lemmon foi detectado em 3 de janeiro de 2025 ainda como um ponto de luz extremamente tênue. Projeções iniciais sugeriam que ele dificilmente superaria a magnitude aparente nove, limite que costuma restringir a observação a telescópios de médio porte. Entretanto, depois de atravessar a região posterior ao Sol — uma configuração que o tornou temporariamente invisível — o objeto ressurgiu em agosto com atividade inesperada, passando rapidamente da magnitude 16,5 para nove.
Escalada de brilho e condição atual
Nas semanas seguintes, o Lemmon continuou a intensificar a emissão de gás e poeira, atingindo em outubro magnitude aproximada de 4,6. Estimativas otimistas indicam a possibilidade de chegar a 3,7, patamar que, em locais sem poluição luminosa, permite a observação direta a olho nu. Essa guinada transformou o cometa na maior surpresa astronômica de 2025, principalmente para aqueles que acompanham fenômenos de curta duração no céu noturno.
A janela ideal no Hemisfério Norte
Observadores situados em latitudes mais altas, no Hemisfério Norte, terão o melhor ponto de vista entre 12 de outubro e 2 de novembro. Nesse intervalo, o Lemmon estará não apenas na máxima proximidade com a Terra, mas também em posição circumpolar em diversos locais, ou seja, sem mergulhar abaixo do horizonte durante a noite. A órbita inclinada e retrógrada — movendo-se no sentido oposto ao dos planetas — favorece essa visibilidade prolongada, permitindo que astrofotógrafos capturem o cometa logo após o crepúsculo e durante boa parte da madrugada.
Como fica para quem observa do Brasil
No Hemisfério Sul, a situação é menos favorável durante o período de brilho máximo. Entre outubro e início de novembro, o Lemmon aparecerá muito baixo no horizonte, competindo com a luz residual do pôr-do-sol. A perspectiva melhora a partir da metade de novembro, quando o astro migra para constelações meridionais, elevando-se ligeiramente no céu do anoitecer. Ainda assim, será necessário encarar condições restritas: o cometa permanecerá raso na linha do horizonte oeste e mergulhará rapidamente, exigindo atenção e planejamento dos observadores.
Dicas de observação segura
Para aumentar as chances de sucesso, recomenda-se buscar locais com horizonte desimpedido, sem edifícios, árvores ou montanhas que bloqueiem a visão. A distância das luzes urbanas também se mostra crucial, pois mesmo pequenas fontes de iluminação artificial podem anular o contraste de objetos de baixa luminosidade. Embora seja possível localizar o Lemmon a olho nu em áreas escuras, o uso de binóculos amplia o detalhe da coma e da cauda, além de ajudar na varredura inicial. Aplicativos como Stellarium, Star Walk ou Sky Safari auxiliam na identificação da posição exata dos cometas em tempo real, bastando inserir as coordenadas do local de observação.
Importância de acompanhar a transmissão
Nem todos terão céu limpo ou equipamentos adequados na data do fenômeno, motivo pelo qual a transmissão ao vivo desempenha papel essencial na democratização do evento. As câmeras instaladas em Manciano contam com sensores capazes de revelar nuances invisíveis a olho nu, como variações de cor, fragmentação da cauda ou eventuais jatos de material expelido pelo núcleo. Além disso, o uso de telescópios robóticos elimina interferências atmosféricas comuns em áreas urbanas e oferece imagens com alto grau de definição.
Expectativas científicas e educativas
Embora cometas sejam objetos de estudo recorrente, cada aparição fornece uma combinação única de dados sobre composição química, dinâmica orbital e interação com o vento solar. No caso do SWAN, a detecção por um instrumento focado em hidrogênio sugere potencial para pesquisas sobre a distribuição desse elemento em cometas de longo período. Já o comportamento inesperado do Lemmon, com aumento rápido de brilho, levanta questões sobre processos internos, como a sublimação de compostos voláteis ou a exposição repentina de áreas mais ativas do núcleo.
Para o público, a experiência visual de assistir a dois cometas simultaneamente reforça o interesse pela astronomia e evidencia o valor de iniciativas colaborativas, que unem observatórios espaciais, astrônomos amadores e plataformas de divulgação. O alinhamento temporal entre os objetos — um recém-descoberto de trajetória quase inacessível e outro que emergiu do anonimato para se tornar visível a olho nu — cria uma ocasião rara, capaz de inspirar futuros programas educativos e incentivar o acompanhamento de efemérides celestes.
Com datas, distâncias e condições de observação claramente definidas, resta aproveitar a combinação de tecnologia e antecedência para testemunhar o deslocamento desses viajantes cósmicos. Seja pela tela de um dispositivo conectado à internet ou pelo contato direto com o céu do próprio quintal, a passagem dos cometas SWAN e Lemmon oferece ao público do hemisfério sul e do norte uma oportunidade singular de contemplar a dinâmica do Sistema Solar em tempo real.
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.
Postagens Relacionadas