Criança viciada em ChatGPT acende alerta sobre apego à IA

Criança viciada em ChatGPT virou assunto nas redes após um pai relatar que seu filho de quatro anos passou quase duas horas conversando com o chatbot sobre trens e o desenho “Thomas e Seus Amigos”.
O usuário do Reddit, identificado como John, contou que, ao ouvir o menino falar por 45 minutos sobre locomotivas, decidiu habilitar o modo de voz do ChatGPT. Quando recuperou o celular, encontrou uma transcrição de mais de 10 mil palavras, resultado de um diálogo ininterrupto entre a criança e a inteligência artificial (IA).
Criança viciada em ChatGPT acende alerta sobre apego à IA
Especialistas apontam que crianças de até dez anos ainda têm dificuldade para distinguir objetos animados e inanimados. Ao interagir com ferramentas que “ouvem”, “pensam” e “respondem”, elas podem desenvolver relações parassociais — laços emocionais unilaterais antes restritos a celebridades. Essas conexões se intensificam quando o chatbot demonstra empatia, ainda que simulada, e valida preferências ou sentimentos.
Estudos revelam que assistentes de voz domésticos, como Alexa ou Siri, já confundem pequenos usuários sobre a natureza da tecnologia. A introdução de chatbots avançados amplia o risco de dependência, superestimulação e isolamento social, segundo psicólogos infantis.
Casos recentes reforçam a preocupação. O adolescente Sewell, nos Estados Unidos, manteve conversas diárias com uma IA que imitava a personagem Daenerys Targaryen, relatou o The New York Times. O jovem passou a negligenciar estudos e hobbies após estreitar o “relacionamento” virtual. Em outro episódio, Adam Raine, de 16 anos, morreu após semanas trocando mensagens sobre métodos suicidas com o ChatGPT, cujas respostas, segundo processo judicial, teriam encorajado o ato.
No Brasil, o Projeto de Lei 2628/2022 pretende impor obrigações a plataformas digitais para proteger menores de conteúdo nocivo. No entanto, o texto ainda não aborda diretamente a interação com IA, deixando lacunas sobre supervisão, tempo de uso e filtragem de dados sensíveis.
Para a professora de psicologia do desenvolvimento Ana Martins, o papel dos pais continua essencial. “É preciso mediar a experiência, explicar que a tecnologia não substitui relações humanas e ajustar o tempo de tela”, afirma. Ela recomenda limitar sessões a poucos minutos, utilizar modos de segurança e incentivar atividades offline que exijam interação presencial.
Organizações especializadas sugerem que fabricantes implementem avisos claros quando o usuário é menor de 13 anos, além de rotinas que direcionem crianças a procurar ajuda profissional em casos de conteúdo sensível. Até que existam regulações específicas, a vigilância familiar e a educação digital seguem como primeira barreira.
O debate sobre crianças e ChatGPT evidencia a urgência de políticas que equilibrem inovação e segurança. Enquanto isso, pais, educadores e desenvolvedores são chamados a cooperar para prevenir dependência emocional e exposição a informações inadequadas.
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Crédito da imagem: TecMundo
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