COP30 em Belém enfrenta onda de desinformação e lança pacto global por integridade climática

COP30 em Belém enfrenta onda de desinformação e lança pacto global por integridade climática

Belém se tornou, na primeira semana da COP30, palco de uma intensa circulação de notícias falsas que geraram questionamentos sobre a credibilidade das discussões climáticas e levaram à criação de um pacto global voltado a proteger a informação científica.

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Mais de mil publicações falsas identificadas logo no início da cúpula

Dados reunidos por um levantamento apresentado pelo jornal O Globo mostram que, só no primeiro dia do encontro, 1.114 postagens foram classificadas como falsas. Essa triagem foi feita pela plataforma de inteligência artificial Tistto, que analisou aproximadamente 10 mil conteúdos publicados no TikTok, Instagram e X. O número dimensiona a velocidade com que informações enganosas alcançaram o público desde a abertura da conferência.

O volume detectado indica um cenário de dispersão acelerada de mensagens inverídicas no ambiente digital. Segundo o mesmo levantamento, os materiais englobaram textos, fotografias e vídeos, evidenciando a variedade de formatos usados para propagar a desinformação. A constatação de que mais de 10% do universo analisado era composto por conteúdo falso ilustra a amplitude do problema nos primeiros movimentos do encontro internacional.

Perfis de oposição impulsionam publicações descontextualizadas

A investigação jornalística apontou que contas contrárias ao governo federal figuraram entre as principais responsáveis por divulgar materiais fora de contexto. Esses perfis publicaram fotos manipuladas, recortes de falas e produções geradas por inteligência artificial, todas destinadas a questionar a estrutura do evento ou a atuação de autoridades presentes. A repetição de temas semelhantes em redes distintas reforçou a capilaridade das peças desinformativas.

Entre os fatores que favoreceram a rápida propagação está a alta taxa de engajamento gerada por conteúdos polêmicos. Curtidas, comentários e compartilhamentos impulsionaram a visibilidade desses posts, permitindo que alcançassem usuários além dos grupos diretamente ligados às contas originais. Esse padrão de comportamento ampliou o alcance das narrativas falsas e dificultou a percepção imediata de sua veracidade.

Principais manipulações detectadas

A apuração identificou múltiplos recursos de edição e síntese de imagem que tornaram as peças mais críveis. Fotografias artificiais e vídeos sintetizados por algoritmos foram utilizados para atribuir ações inexistentes a figuras públicas ou para ilustrar acontecimentos que jamais ocorreram. Além disso, mensagens de texto retiradas de contexto alimentaram interpretações equivocadas sobre os rumos da conferência.

O relatório também registrou uma confusão intencional entre fatos reais e fabricados. Em vários casos, um problema pontual ou uma informação autêntica era inflada por montagens digitais, de modo a sugerir uma crise de proporção maior. Esse método tornou mais difícil para o público diferenciar episódios verdadeiros de invenções que circulavam paralelamente.

Exemplos de conteúdos enganosos que viralizaram

Quatro casos ilustram o tipo de material que recebeu maior disseminação:

1. Tornados no Paraná atribuídos à COP30. Vídeos relacionaram a chegada da conferência a supostos fenômenos climáticos no estado, apresentados como “avisos divinos”.

2. Imagem de Lula conversando com a parede. Um retrato gerado por inteligência artificial mostrava o presidente diante de um muro, sugerindo isolamento ou desorientação.

3. Brinde de champanhe em iate. Publicações insinuaram que Lula e Janja estariam hospedados em uma embarcação de luxo, brindando durante o evento.

4. Navio em chamas no porto de Belém. Um vídeo apresentava uma embarcação ligada à COP30 pegando fogo, mas a cena era fruto de manipulação digital.

Todos os itens listados foram apontados como fabricados pela plataforma de verificação, sem correspondência com fatos ocorridos no local da conferência ou nas agendas oficiais das autoridades.

Questões reais que apareceram em meio às narrativas falsas

Se por um lado a maior parte dos conteúdos analisados carecia de base factual, alguns posts abordaram problemas existentes, embora de maneira irônica ou exagerada. Entre as queixas que obtiveram repercussão estiveram falhas no sistema de ar-condicionado em determinadas instalações da cúpula. Publicações chegaram a exibir fotos de participantes utilizando leques ou toalhas para ilustrar o desconforto.

Outro tema foi o uso de geradores movidos a diesel. Parlamentares e influenciadores passaram a criticar o combustível, questionando a coerência ambiental do encontro. Para responder, a Petrobras divulgou que o diesel fornecido contém 10% de conteúdo renovável, medida apresentada como parte de um esforço de redução de emissões. Apesar da explicação, o assunto continuou a ser utilizado como ponto de ataque à organização do evento.

Invasões de áreas restritas e reações políticas

Além da discussão sobre energia e estrutura, casos de entrada não autorizada em setores reservados chamaram atenção. Manifestantes, apontados por publicações como aliados do presidente, ultrapassaram barreiras estabelecidas para credenciados e equipe de segurança. O episódio originou críticas públicas de congressistas, entre eles Antonio Carlos Nicoletti (União-RR), Gustavo Gayer (PL-GO) e Marina Helena (Novo-SP). As mensagens desses parlamentares reforçaram a narrativa de falhas organizacionais e foram amplamente compartilhadas.

Mesmo sem registros de confrontos graves, a simples circulação das imagens de invasão contribuiu para fortalecer percepções de descontrole. A combinação de ocorrências reais com especulações potencializou dúvidas sobre a logística do evento, funcionando como combustível para novas postagens desinformativas.

Lançamento do Pacto Global pela Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas

Diante da escalada de notícias falsas, representantes governamentais e organismos internacionais anunciaram o Pacto Global pela Integridade da Informação sobre Mudanças Climáticas. O compromisso busca criar diretrizes comuns para monitorar conteúdos enganosos, promover ferramentas de verificação e estabelecer canais oficiais de divulgação de dados. Embora ainda em fase inicial, a iniciativa foi apresentada como resposta direta à enxurrada de fake news identificada em Belém.

A proposta do pacto inclui o fortalecimento de cooperação com plataformas digitais e incentiva a produção de materiais educativos que esclareçam como reconhecer manipulações visuais ou textuais. Ao dar publicidade ao acordo na própria COP30, os organizadores sublinharam a gravidade do fenômeno e a necessidade de proteger a integridade científica que sustenta as negociações climáticas.

Mídias sociais e o desafio permanente da conferência

Os episódios registrados na primeira semana demonstram que a disputa informacional tornou-se elemento estrutural de grandes eventos internacionais. A identificação de mais de mil publicações falsas em tão curto período reforça a dificuldade de mitigar impactos negativos no debate público. Para pesquisadores de desinformação, o uso de inteligência artificial amplia a complexidade, pois possibilita gerar imagens, vídeos e áudios cada vez mais realistas.

No caso da COP30, a coexistência de problemas pontuais — como a climatização irregular e o debate sobre combustíveis — com conteúdos inteiramente fabricados criou um ambiente propício à confusão. A interatividade das redes sociais acelera o ciclo em que uma mensagem é visualizada, comentada e replicada, reduzindo o tempo de checagem antes que chegue a novos públicos.

Perspectivas para as próximas etapas do encontro

Com a adoção do pacto global e o monitoramento contínuo de plataformas, os organizadores esperam reduzir o alcance de narrativas falsas nos dias seguintes da conferência. A manutenção de equipes de verificação, aliada à divulgação de dados oficiais em tempo real, foi destacada como eixo estratégico para enfrentar o problema. Ainda assim, os números do primeiro dia evidenciam que o volume de conteúdos enganosos continuará a exigir respostas rápidas e coordenadas ao longo de toda a COP30.

O panorama verificado em Belém destaca a centralidade da informação confiável nas discussões climáticas e revela o tamanho do desafio imposto pelas redes sociais quando se trata de eventos de relevância global.

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