Como a Netflix vai financiar a compra da Warner Bros com um empréstimo ponte de US$ 59 bilhões

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A Netflix anunciou que vai adquirir a Warner Bros por US$ 82,7 bilhões, montante próximo de R$ 441 bilhões na cotação informada no dia do anúncio. Para viabilizar a transação, a plataforma de streaming contratou um empréstimo ponte de US$ 59 bilhões (aproximadamente R$ 315 bilhões), segundo dados divulgados pela Bloomberg. A operação, uma das maiores já estruturadas nos Estados Unidos nesse formato, contará com a participação de instituições como Wells Fargo, BNP Paribas e HSBC, responsáveis por disponibilizar o capital necessário até que uma alternativa de longo prazo seja definida.

Detalhes do acordo entre Netflix e Warner Bros

O fato principal envolve duas empresas de peso no entretenimento global. De um lado está a Netflix, que construiu seu modelo de negócio em streaming de vídeo e se tornou referência no setor. Do outro, a Warner Bros, conglomerado que possui marcas de grande alcance, incluindo a HBO Max. O anúncio da compra, realizado em 5 de dezembro, estipulou o valor total da operação em US$ 82,7 bilhões. Essa quantia cobre a aquisição integral da Warner Bros, incorporando seu catálogo, sua infraestrutura de produção e distribuição e suas diferentes subsidiárias.

A transação ainda depende de aprovação regulatória. Processos de fusão desse porte geralmente passam por análise de órgãos antitruste, etapa que pode levar meses. O empréstimo ponte viabiliza a fase inicial justamente porque libera o capital necessário antes da conclusão formal do negócio.

Empréstimo ponte: como funciona a estratégia escolhida pela Netflix

O instrumento financeiro utilizado pela Netflix, conhecido como empréstimo ponte, é um crédito de curto prazo projetado para cobrir necessidades imediatas até que se encontre uma fonte de financiamento definitiva. Ele permite que empresas concluam aquisições rapidamente, sem aguardar emissões de títulos corporativos ou outras formas de captação mais demoradas.

Na prática, o banco (ou grupo de bancos) concede todo o montante no momento do fechamento do contrato. Quando a transação se torna pública, outras instituições podem aderir, repartindo o risco. Em um momento posterior, a companhia substitui o empréstimo por dívida de longo prazo com condições mais favoráveis, como emissões de bonds.

No caso específico da Netflix, o valor levantado foi de US$ 59 bilhões, cifra que cobre a maior parte dos US$ 82,7 bilhões anunciados. A diferença entre o valor do empréstimo e o preço final poderá ser quitada com recursos próprios, reservas de caixa ou futuras estruturas de financiamento ainda não divulgadas.

Bancos envolvidos e etapas do financiamento

Três instituições aparecem na linha de frente da operação: Wells Fargo, BNP Paribas e HSBC. Elas forneceram o crédito inicial, assumindo o papel de bookrunners. Esse modelo segue três etapas:

Disponibilização do capital-chave: o grupo principal libera os US$ 59 bilhões à Netflix, garantindo liquidez imediata para o pagamento à Warner Bros.

Sindicação do empréstimo: após o anúncio público, outros bancos são convidados a participar. O objetivo é diluir o risco entre diferentes players do sistema financeiro. Esse processo pode ocorrer semanas ou meses depois da assinatura inicial.

Refinanciamento: quando a aquisição receber aval das autoridades, a Netflix poderá converter a dívida de curto prazo em títulos corporativos de prazo maior, possivelmente com custos menores. Essa fase reduz a pressão de pagamento associada à modalidade ponte, conhecida por cobrar juros mais altos em função da urgência e do risco concentrado.

Comparativo com outros grandes empréstimos ponte do mercado

A operação da Netflix se insere entre as maiores já registradas nessa categoria, mas não alcança o recorde absoluto. Em 2015, a Anheuser-Busch InBev contratou um empréstimo ponte de US$ 75 bilhões para comprar a SABMiller, manobra que resultou na maior cervejaria do mundo. Esse número permanece, até o momento, como o maior do tipo.

Outro caso de grande repercussão envolve a aquisição do Twitter por Elon Musk em 2022. Na ocasião, um consórcio de bancos e investidores concedeu um financiamento ponte de US$ 13 bilhões. Apesar do valor inferior, a transação ficou marcada porque gerou dificuldades de revenda da dívida, sendo descrita por participantes do mercado como uma das mais desafiadoras desde a crise financeira de 2008.

Ao tomar US$ 59 bilhões, a Netflix posiciona seu acordo entre os maiores financiamentos ponte já estruturados nos Estados Unidos, reforçando a magnitude do passo que a empresa pretende dar no setor de mídia e entretenimento.

Próximos passos até a conclusão da compra da Warner Bros pela Netflix

Embora o empréstimo ponte garanta liquidez imediata, a conclusão da compra depende de etapas formais. A primeira é a avaliação por órgãos reguladores, que examinarão potenciais impactos concorrenciais. Esse processo pode prolongar-se por meses, período durante o qual a dívida de curto prazo permanecerá no balanço da Netflix.

Depois do sinal verde dos reguladores, a empresa deverá iniciar o refinanciamento, substituindo o crédito de curto prazo por emissões de títulos corporativos ou outras modalidades de financiamento de longo prazo. Apenas então o empréstimo ponte será liquidado, reduzindo-se a exposição a juros mais elevados.

Por fim, a integração operacional entre Netflix e Warner Bros deverá envolver reorganizações internas, alinhamento de catálogos e sinergias de produção e distribuição, etapas que se estenderão além do calendário financeiro inicial.

Até que as autoridades concluam a análise antitruste, nenhuma data definitiva para o fechamento financeiro foi divulgada. O mercado seguirá acompanhando o desenrolar do processo de aprovação, etapa indispensável para a substituição do empréstimo ponte e a finalização da compra.