Cometa interestelar 3I/ATLAS expele jato de gelo e poeira ao se aproximar do Sol

O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já identificado em trânsito pelo Sistema Solar, alcança o ponto de maior aproximação ao Sol nesta quarta-feira, 29. No percurso que o leva ao periélio, o núcleo gelado foi registrado e analisado por astrônomos nas Ilhas Canárias, revelando um jato de gelo e poeira projetado diretamente na direção da estrela. O fenômeno, capturado em alta resolução, fornece uma oportunidade rara para investigar como materiais formados em outros sistemas planetários reagem à intensa radiação solar.
- Quem é o visitante interestelar 3I/ATLAS
- Quando e onde o fenômeno foi observado
- Como o jato de gelo e poeira se forma
- Por que o feixe segue a direção solar
- O que compõe o material liberado
- Comparação com exemplos anteriores
- Fatos quantitativos sobre o registro
- Importância científica do evento
- Janela de observação para telescópios amadores
- Como o caso 3I/ATLAS contribui para modelos de atividade cometária
- Consequências para estudos de origem de materiais interestelares
Quem é o visitante interestelar 3I/ATLAS
O 3I/ATLAS recebeu a designação numérica que indica sua condição de terceiro corpo proveniente de fora da vizinhança solar, antecedido apenas pelo 1I/ʻOumuamua em 2017 e pelo 2I/Borisov em 2019. Diferentemente de objetos periódicos ligados gravitacionalmente ao Sol, ele percorre uma trajetória hiperbólica, aproximando-se uma única vez antes de partir rumo ao espaço interestelar. A detecção de sua passagem é, portanto, limitada a um intervalo relativamente curto, o que eleva o valor científico de cada medição obtida.
Quando e onde o fenômeno foi observado
As imagens que evidenciam o jato foram coletadas no Observatório do Teide, em Tenerife, nas Ilhas Canárias, Espanha. Na madrugada de 2 de agosto, o Telescópio Twin de Dois Metros reuniu 159 exposições de 50 segundos cada. A combinação dos quadros formou um mosaico detalhado que separou coma, núcleo e feixe de material recém-expelido. Linhas vetoriais aplicadas à representação indicam três direções chave: a linha roxa aponta o jato; a linha amarela mostra a orientação antissolar; e a linha azul define o vetor de velocidade do cometa.
Como o jato de gelo e poeira se forma
À medida que o 3I/ATLAS mergulha em regiões internas do Sistema Solar, sua superfície sofre aquecimento diferencial. Áreas voltadas diretamente para o Sol absorvem maior quantidade de energia, permitindo que porções de gelo sob a crosta passem do estado sólido ao gasoso por sublimação. Quando fissuras ou regiões estruturais mais frágeis se abrem, o gás pressurizado escapa em vazões localizadas, arrastando grãos de poeira e formando jatos colimados que podem se estender por milhares de quilômetros.
Por que o feixe segue a direção solar
O registro mostra que o jato recém-detectado projeta-se no sentido do Sol, enquanto a cauda do cometa aponta para o lado oposto. Essa configuração obedece à dinâmicas complementares: o vento solar — fluxo contínuo de partículas carregadas — empurra as partículas mais finas para longe da estrela, construindo a cauda característica; ao mesmo tempo, o material ejetado por aberturas ainda não influenciadas pela pressão desse vento surge na direção da fonte de calor que o originou. Assim, o contraste entre jato e cauda destaca zonas de emissão ativas no núcleo.
O que compõe o material liberado
Análises preliminares, ainda em fase de revisão por pares, sugerem que o jato do 3I/ATLAS é dominado por dióxido de carbono gasoso misturado com poeira fina. A prevalência de CO2 coincide com observações recentes de outros cometas, indicando que compostos voláteis do mesmo tipo são comuns em núcleos formados além das fronteiras solares. O tamanho reduzido dos grãos facilita a aceleração pelo vento solar, contribuindo para a rápida extensão do feixe.
Comparação com exemplos anteriores
A dinâmica observada lembra o comportamento do cometa C/2020 F3 (NEOWISE), estudado em 2020 por instrumentos espaciais como o Telescópio Espacial Hubble. No caso do NEOWISE, jatos em forma de leque também emergiram após a passagem pelo periélio, demonstrando que sistemas de emissões localizadas são comuns em corpos gelados quando submetidos a forte insolação. O paralelo serve de referência para interpretar a atual atividade do visitante interestelar.
Fatos quantitativos sobre o registro
• Quantidade de exposições: 159
• Duração de cada exposição: 50 s
• Local do telescópio: Tenerife, Ilhas Canárias
• Instituição envolvida: Observatório do Teide
• Extensão estimada do jato: vários milhares de quilômetros
• Composição predominante: CO2 e poeira
Importância científica do evento
Por se tratar de um objeto formado fora do Sistema Solar, o 3I/ATLAS oferece um laboratório natural para comparar processos físico-químicos presentes em diferentes regiões da galáxia. O estudo da química do jato, da interação com o vento solar e da estrutura do núcleo ajuda a esclarecer:
• Rotas de migração de compostos voláteis entre estrelas;
• Condições térmicas que ativam emissões em objetos interestelares;
• Modelos de brilho e visibilidade de cometas pouco familiares.
Os resultados agregam dados a modelos matemáticos que descrevem a evolução de núcleos cometários e refinam previsões sobre futuras aparições de objetos vindos de outras estrelas.
Janela de observação para telescópios amadores
Após o periélio, o 3I/ATLAS seguirá uma trajetória que, embora distante, pode torná-lo acessível a equipamentos de pequeno porte por um intervalo limitado. A projeção aponta meados de novembro como início de uma fase favorável, estendendo-se até o fim de março de 2026, ponto em que o cometa cruza a órbita de Júpiter e sua magnitude cai abaixo do alcance da maioria dos instrumentos terrestres. Durante esse período, a claridade diminuta do núcleo exigirá céus escuros e condições atmosféricas estáveis para observação.
Como o caso 3I/ATLAS contribui para modelos de atividade cometária
Modelos utilizados para projetar brilho, comprimento de cauda e periodicidade de jatos necessitam de calibragem contínua. Eventos documentados em tempo real, como o jato observado no 3I/ATLAS, oferecem valores experimentais que podem ser incorporados a equações de transferência de calor, sublimação de gelo e interação eletromagnética. Com isso, as projeções tornam-se mais precisas, beneficiando tanto missões científicas futuras quanto o planejamento de campanhas de observação pública.
Consequências para estudos de origem de materiais interestelares
A composição revelada no jato indica que substâncias voláteis, como o dióxido de carbono, podem ser preservadas em ambientes interestelares por longos períodos. Essa constatação apoia teorias segundo as quais grãos de gelo e poeira se deslocam entre sistemas estelares transportando elementos essenciais à formação de planetas. A análise do 3I/ATLAS, portanto, amplia o entendimento sobre como matérias-primas planetárias se distribuem na galáxia.
O registro do jato de gelo e poeira do cometa 3I/ATLAS traduz-se em um marco para a astronomia contemporânea. Ao combinar múltiplas exposições de alta resolução, pesquisadores isolaram fenômenos físicos que ajudam a explicar a atividade de cometas originários de além do Sistema Solar, fornecendo parâmetros adicionais para a compreensão da interação entre radiação solar e núcleos gelados vindos de outros cantos da Via Láctea.
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