China conclui teste de fogo do Zhuque-3 e avança para o primeiro lançamento de um foguete reutilizável nacional

Pequim – A LandSpace encerrou a etapa mais crítica de ensaios antes do voo inaugural do Zhuque-3, o primeiro foguete chinês projetado para ser parcialmente reutilizável.

O que aconteceu

Entre segunda-feira (20) e os dois dias subsequentes, a empresa conduziu um ensaio de abastecimento completo seguido de um disparo estático dos nove motores Tianque-12A que equipam o primeiro estágio. O veículo permaneceu rigidamente preso à estrutura de lançamento na Zona Piloto de Inovação Espacial Comercial de Dongfeng, no noroeste do país. O procedimento, usual na indústria, permite que a equipe avalie desempenho, pressões internas, vibrações e estabilidade térmica sem que o foguete deixe o solo.

Quem está por trás do projeto

Fundada em 2015 e sediada em Pequim, a LandSpace integra um grupo crescente de companhias chinesas voltadas ao mercado espacial comercial. Nos últimos anos, o conglomerado estatal que tradicionalmente domina as missões nacionais passou a dividir espaço com essas jovens empresas privadas. A LandSpace destacou-se em 2023 quando o Zhuque-2, movido a metano líquido, tornou-se o primeiro veículo desse tipo a alcançar a órbita.

Características técnicas do Zhuque-3

O novo foguete mede 66 m de altura e adota aço inoxidável na estrutura principal. Esse material simplifica a fabricação de tanques criogênicos e favorece a resistência a variações térmicas durante a subida e o retorno. O primeiro estágio utiliza nove motores Tianque-12A, alimentados por metano e oxigênio líquidos. Depois de impulsionar o conjunto além da atmosfera densa, essa seção executará manobras de retorno e pousará para ser reutilizada. Já o segundo estágio é consumível, liberado no espaço após colocar a carga em órbita.

A capacidade projetada é de 18 toneladas para a órbita baixa da Terra, patamar que se aproxima dos 22 t transportados pelo Falcon 9, referência mundial no segmento semirreutilizável. A proximidade de desempenho ilustra a ambição da LandSpace de competir em lançamentos comerciais de satélites.

Por que o combustível faz diferença

O metano combinado ao oxigênio líquido, conhecido pela sigla internacional methalox, ganhou popularidade no setor por gerar menos resíduos de fuligem quando comparado ao querosene de aviação tradicionalmente empregado em foguetes. Esse comportamento contribui para a redução de custos na manutenção de motores reutilizáveis, pois diminui a necessidade de limpeza entre voos. A tendência é observada também nos motores Raptor que equipam a Starship, sistema da SpaceX desenvolvido para missões de alta carga.

Detalhes do ensaio estático

Durante o disparo, todos os motores operaram no regime completo de empuxo por um intervalo suficiente para reproduzir as condições encontradas na decolagem. Sensores distribuídos no corpo do veículo monitoraram temperatura das tubulações, vibração estrutural, linha de alimentação de propelente e níveis de pressão. A conclusão bem-sucedida marca o encerramento da primeira fase de campanha e abre caminho para a checagem abrangente de cada subsistema.

Próximos passos

Com os resultados em mãos, engenheiros inspecionarão componentes críticos, como turbobombas, válvulas e atuadores. Em seguida, o Zhuque-3 passará por integração final com a carenagem de carga e por exercícios de sequência de contagem regressiva. Quando todas as verificações forem concluídas, a LandSpace pretende realizar o voo de estreia ainda este ano, embora não tenha divulgado data específica.

Comparações inevitáveis

O desenho do Zhuque-3, com primeiro estágio pousável e segundo estágio descartável, remete ao conceito operacional introduzido pela SpaceX. Similaridade não implica identidade: diferenças de massa total, arquitetura de motores e materiais refletem escolhas próprias da engenharia chinesa. Entretanto, a finalidade convergente é clara: baixar o preço por quilograma colocado em órbita e aumentar a frequência de lançamentos.

Impactos esperados no mercado interno

A reutilização parcial deve reduzir significativamente o valor de cada missão, ampliando a oferta para universidades, empresas de observação da Terra e constelações de comunicações. Para a China, que projeta dezenas de satélites voltados a navegação, meteorologia e internet de banda larga, dispor de um sistema de baixo custo e rápida cadência pode acelerar diversos programas civis e comerciais.

Histórico recente de testes

O disparo estático desta semana não foi o primeiro marco operacional do veículo. No ano passado, a LandSpace realizou ensaios de pouso e decolagem em pista para validar o sistema de propulsão durante manobras verticais de curta duração. Aquela fase forneceu dados essenciais sobre controle de atitude e aterrissagem, habilidades indispensáveis ao retorno seguro do primeiro estágio.

Conjunto de motores Tianque-12A

Cada Tianque-12A emprega ciclo de combustão fechado, no qual todo o gás gerado na pré-câmara volta à câmara principal, aproveitando ao máximo o propelente. Embora o perfil specifico de empuxo não tenha sido divulgado neste teste, a utilização de nove unidades permite redundância: caso um motor apresente anomalia, os demais podem compensar, assegurando que o foguete complete a fase inicial do voo.

Local do ensaio

A Zona Piloto de Inovação Espacial Comercial de Dongfeng foi escolhida por reunir infraestrutura de abastecimento criogênico, bancada de testes e sistemas de segurança distantes de áreas densamente povoadas. Nessas instalações a LandSpace conduziu, em três dias, o abastecimento completo para verificar taxas de fluxo, procedimentos de carregamento e resposta térmica dos tanques.

Importância estratégica para a China

Ao avançar com o Zhuque-3, a China adiciona capacidade reutilizável à sua oferta de serviços de lançamento, até então dominada por veículos descartáveis. O êxito de iniciativas privadas alinha-se à política nacional de fomentar inovação em tecnologia espacial e reforçar a competitividade global do país nesse segmento.

Expectativa de estreia

Depois da inspeção pós-ensaio, o foguete será transportado de volta ao hangar para integração final. A LandSpace já comunicou que a próxima etapa envolverá a união entre os dois estágios, a instalação do sistema de separação e a colocação da carga útil de demonstração. Só então a campanha seguirá para a contagem regressiva completa que antecede o primeiro lançamento orbital.

Quando o Zhuque-3 decolar, a trajetória de pouso do primeiro estágio e o comportamento do segundo estágio descartável serão observados de perto por operadores de satélites e investidores. Se o desempenho cumprir as projeções, a missão inaugurará uma nova fase para a empresa e para a indústria espacial chinesa, cada vez mais focada em reutilização e metano líquido como vetor de redução de custos.