Blue Origin confirma data do voo que levará primeira pessoa que usa cadeira de rodas ao espaço

A Blue Origin fixou o dia 18 para o 16º voo turístico de seu programa suborbital e, ao mesmo tempo, para um marco histórico: será a primeira vez que uma pessoa que depende de cadeira de rodas ultrapassará a Linha de Kármán, fronteira internacionalmente reconhecida do espaço a 100 quilômetros de altitude.

Detalhes da missão NS-37 da Blue Origin

Designada como NS-37, a operação será o 37º lançamento geral do foguete reutilizável New Shepard e o 16º voltado especificamente ao turismo espacial. O veículo, composto por um propulsor de primeiro estágio e uma cápsula pressurizada para passageiros, decola do deserto do oeste do Texas e permanece em voo durante aproximadamente 11 minutos. Poucos instantes após a partida o propulsor e a cápsula se separam: o primeiro regressa ao solo por meio de retrofoguetes, enquanto a segunda continua em ascensão inercial até ultrapassar o ponto de 100 quilômetros de altura.

No interior da cápsula, os seis integrantes da tripulação poderão soltar os cintos e flutuar por cerca de quatro minutos, experimentando a microgravidade e observando a curvatura da Terra pelas amplas janelas panorâmicas. Completada a fase sem peso, a cápsula retorna em queda livre controlada e passa a desacelerar com o acionamento de três paraquedas principais, pousando suavemente novamente no deserto texano.

Até agora, 86 pessoas já participaram de voos no New Shepard, algumas delas em mais de uma oportunidade. O NS-37 adicionará outros seis nomes a essa lista, elevando a centena de experiências turísticas espaciais a um patamar cada vez mais inclusivo.

Perfil de Michaela Benthaus e sua trajetória até a Blue Origin

Michaela “Michi” Benthaus, engenheira aeroespacial e mecatrônica vinculada à Agência Espacial Europeia (ESA), será a protagonista do feito de acessibilidade. Natural da Alemanha, ela dedicou a carreira à cooperação científica em missões interplanetárias. Em 2018, um acidente de mountain bike provocou uma lesão medular que resultou na perda da capacidade de andar. Mesmo diante dessa limitação, Benthaus manteve atuação ativa no setor espacial.

Dois episódios recentes ilustram essa persistência. Em 2022, participou de um voo parabólico que reproduz curtos períodos em gravidade zero, oferecendo experiência comparável à que astronautas vivenciam durante manobras de estiva de cargas em órbita. Já em 2024, concluiu uma missão análoga de duas semanas na Polônia, programa que replica a rotina operacional, científica e psicológica de uma tripulação isolada em outro corpo celeste.

O embarque de Benthaus no New Shepard representa a transição dessas simulações para uma vivência real fora da atmosfera. Sua presença coloca a acessibilidade física na linha de frente das discussões sobre turismo espacial e tende a abrir precedente para que pessoas com outras deficiências sejam contempladas em futuras seleções.

Demais integrantes da tripulação e suas motivações

Além de Benthaus, a cápsula transportará outros cinco civis, cada qual com trajetória de vida e relação particular com a exploração do espaço:

Joey Hyde - Físico norte-americano, doutor em Astrofísica, aposentado recentemente após carreira como investidor quantitativo em um grande hedge fund. Residente na Flórida, casado e pai de cinco filhos, nutre fascínio pelo cosmos desde 1988, quando presenciou o lançamento do ônibus espacial Atlantis. Para Hyde, participar do NS-37 é continuidade de um compromisso pessoal de apoio à ciência e de inspiração às novas gerações.

Hans Koenigsmann - Engenheiro aeroespacial germano-americano conhecido por duas décadas de contribuição decisiva para o desenvolvimento de foguetes reutilizáveis em outra companhia do setor. Hoje atua como consultor e conselheiro de empresas ligadas à indústria espacial. Piloto licenciado, já construiu o próprio avião e costuma praticar esqui. Ele enxerga o voo como instrumento para incentivar jovens a seguirem carreiras em ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

Neal Milch - Executivo e empreendedor que iniciou a trajetória na empresa familiar LaundryLux, modernizando operações e expandindo a atuação global. Atualmente preside o Conselho de Curadores do Jackson Laboratory, instituição dedicada a pesquisas genéticas voltadas à saúde humana. Tendo vivido a infância durante os programas Gemini e Apollo, Milch afirma buscar conhecimento contínuo e apoiar a ciência ao embarcar no New Shepard.

Adônis Pouroulis - Empreendedor nascido no Chipre e engenheiro de mineração, acumula mais de 30 anos em projetos de minerais críticos, metais e energia sustentável. Fundador da Pella Resources, também lidera a mineradora Rainbow Rare Earths e a desenvolvedora energética Chariot Limited, ligadas à transição energética global. O voo é visto por Pouroulis como realização de um sonho de infância: observar a Terra a partir do espaço.

Jason Stansell - Natural do oeste do Texas, formou-se em Ciência da Computação e mantém hobbies associados à aventura e ciência, como mergulho, aviação e estudos de foguetes. Dedica a ida ao espaço ao irmão Kevin, falecido em 2016 após câncer cerebral, e espera inspirar pensamento crítico e educação científica ao compartilhar a experiência.

Como o New Shepard da Blue Origin opera em voos suborbitais

O sistema New Shepard foi concebido especificamente para voos suborbitais com ênfase na reutilização, fator que reduz custos e aumenta a frequência de lançamentos. O propulsor de primeiro estágio, movido a hidrogênio e oxigênio líquidos, regressa verticalmente à base após entregar a cápsula a uma trajetória balística, procedimento que se repete em todas as missões desde o primeiro teste bem-sucedido.

A cápsula para passageiros oferece assentos reclináveis, janelas consideradas as maiores já instaladas em um veículo espacial tripulado e sistema de escape de emergência que pode ser acionado em qualquer fase do voo. Assim, a segurança é tratada como elemento crítico para permitir que civis sem treinamento extenso participem da experiência.

Durante os quatro minutos de microgravidade, os ocupantes flutuam livremente e observam a paisagem terrestre contrastando com a escuridão do espaço. Muitos relatam vivenciar o chamado “efeito visão geral”, termo que descreve a mudança de perspectiva quanto à fragilidade do planeta quando visto de fora de sua atmosfera.

O significado do primeiro passageiro em cadeira de rodas para a Blue Origin e para o turismo espacial

Desde a primeira missão tripulada do New Shepard, o turismo espacial evoluiu de um conceito experimental para um serviço comercial recorrente. Entretanto, acessibilidade permaneceu como desafio, uma vez que requisitos físicos restritivos limitaram perfis de participantes. A inclusão de Benthaus no NS-37 demonstra que adaptações podem ser implementadas sem comprometer a segurança da missão.

O caso sugere oportunidades para que a cadeia de fornecedores, as instalações de treinamento e os processos de embarque se tornem mais inclusivos. À medida que tais ajustes se consolidarem, o mercado de voos suborbitais poderá ampliar o público-alvo, contribuindo ainda mais para a popularização da atividade.

Próximo passo: contagem regressiva para 18 de maio e voo histórico da Blue Origin

Com a tripulação definida, os ensaios finais concentram-se na checagem do New Shepard, no treinamento rápido dos passageiros e na verificação de condições meteorológicas. Salvo alterações operacionais, o lançamento está marcado para a manhã do dia 18, quando a Blue Origin pretende registrar não apenas seu 37º voo bem-sucedido, mas também a estreia de uma nova era de acessibilidade nas viagens ao espaço.