Autismo: entenda por que não é classificado como doença segundo DSM-5 e CID-11

Autismo: entenda por que não é classificado como doença segundo DSM-5 e CID-11

Autismo é um termo que ainda levanta a dúvida frequente: “trata-se de uma doença a ser curada ou de outra categoria clínica?”. A resposta, baseada nas classificações internacionais DSM-5 e CID-11 e em estudos recentes sobre neurodesenvolvimento, aponta que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) não se enquadra como doença no sentido tradicional, mas sim como um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por particularidades cerebrais que acompanham a pessoa ao longo da vida.

Índice

Autismo e doença: o que diz a medicina atual

Em manuais diagnósticos, o TEA aparece na seção de transtornos do neurodesenvolvimento, não no grupo de doenças. A distinção é importante porque “doença” implica dano biológico com expectativa de cura ou remissão. Já “transtorno” descreve um conjunto de características que podem exigir adaptações, mas não pressupõem degeneração ou necessidade de eliminação.

Para esclarecer, especialistas utilizam três definições básicas extraídas dos próprios manuais:

Doença: alteração biológica que causa sintomas e, em geral, pode ser curada ou entrar em remissão.

Síndrome: coleção de sintomas simultâneos cujas causas ainda não estão totalmente delineadas.

Transtorno: condição psicológica e/ou mental que interfere na vida cotidiana, porém sem necessariamente constituir patologia degenerativa.

O TEA encaixa-se na terceira categoria. De maneira prática, isso significa que a intervenção busca oferecer suporte e estratégias de adaptação em vez de perseguir uma “cura”. A terminologia reflete também um debate político mais amplo, que procura evitar a medicalização excessiva de formas diferentes de funcionamento neurológico.

Como o cérebro no autismo processa informações

Pessoas identificadas no espectro autista possuem estruturas e padrões de conectividade cerebral peculiares, especialmente em regiões ligadas à comunicação social, ao processamento sensorial e à organização de comportamentos. Pesquisas de imagem e genética mencionam heterogeneidade considerável: o autismo diagnosticado em uma criança de três anos pode apresentar bases biológicas distintas do autismo identificado em um adulto de 35.

Estudos genéticos envolvendo mais de 45 mil participantes ilustram essa complexidade. Crianças diagnosticadas antes dos seis anos revelam perfis genéticos típicos do autismo infantil, enquanto indivíduos diagnosticados após os dez anos mostram maior probabilidade de comorbidades como depressão, além de padrões que se aproximam daqueles observados no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

A forma singular de organização neural resulta em características frequentemente relatadas:

Hipersensibilidade sensorial: sons, luzes, texturas ou sabores que passam despercebidos para a maioria podem tornar-se intensos ou mesmo dolorosos.

Padrões de hiperfoco: concentração profunda em interesses específicos, com absorção prolongada e perda de noção de tempo.

Dificuldades sociais: interpretação literal de linguagem, menor facilidade em contato visual ou entendimento de expressões faciais implícitas.

Pensamento visual-espacial: muitos autistas relatam organizar informações em imagens ou padrões, em vez de sequências verbais lineares.

Essas manifestações não configuram, por si, déficits absolutos; são diferenças que podem exigir ajustes no ambiente predominantemente neurotípico.

Níveis de suporte no autismo segundo o DSM-5

Para descrever a amplitude do espectro, o DSM-5 propõe três níveis que indicam o volume de apoio necessário:

Nível 1 – apoio mínimo: a pessoa consegue executar atividades cotidianas de modo relativamente independente, mas enfrenta dificuldades claras para iniciar interações sociais e pode mostrar inflexibilidade em rotinas.

Nível 2 – apoio substancial: déficits significativos em comunicação verbal e não verbal são aparentes mesmo com ajuda; há limitação visível para iniciar interações e lidar com mudanças.

Nível 3 – apoio muito substancial: prejuízos funcionais são severos, a comunicação é extremamente restrita e alterações de rotina provocam grande estresse.

Essa organização por níveis substitui classificações anteriores, como “síndrome de Asperger” ou “autismo infantil”, e reforça a ideia de espectro, reconhecendo necessidades individualizadas.

Sinais iniciais de autismo e processo de diagnóstico

Alguns comportamentos podem ser observados ainda nos primeiros meses de vida, embora o diagnóstico clínico costume ocorrer entre dois e três anos. Entre os sinais mais relatados estão:

• atraso na fala ou uso repetitivo de palavras (ecolalia);
• contato visual escasso ou ausência de resposta ao nome;
• dificuldade em brincar imaginativamente ou de forma cooperativa;
• apego intenso a rotinas, acompanhadas de reações desproporcionais a mudanças;
• movimentos repetitivos, como balançar mãos ou andar na ponta dos pés;
• reações extremas a estímulos sensoriais, tanto por hiperquanto por hipossensibilidade.

O diagnóstico de autismo é essencialmente clínico. Neurologistas, psiquiatras ou neuropsicólogos avaliam comportamentos, entrevistam familiares e aplicam instrumentos padronizados. Não existe exame de sangue ou marcador biológico exclusivo que confirme o TEA. O histórico detalhado sobre desenvolvimento, linguagem e interações sociais fornecido pela família é peça central para uma conclusão precisa.

Estratégias de intervenção e acompanhamento do autismo

Embora não exista cura para o autismo, diversas abordagens melhoram habilidades de comunicação, autonomia e qualidade de vida. Entre as mais empregadas estão:

Terapia comportamental (ABA): análise aplicada do comportamento que cria rotinas de reforço positivo, visando ampliar habilidades sociais e comunicativas.

Fonoaudiologia: trabalha aspectos de linguagem, articulação e pragmática para facilitar troca de informações.

Terapia ocupacional: auxilia na regulação sensorial e no desenvolvimento de competências ligadas à vida diária.

Apoio educacional especializado: adaptações pedagógicas e recursos visuais para favorecer aprendizagem em sala de aula.

Medicações específicas: utilizadas apenas quando há comorbidades associadas, como ansiedade, TDAH ou depressão; não servem para “tratar” o autismo em si.

Quanto mais cedo o suporte é iniciado, maior a possibilidade de aproveitar a neuroplasticidade característica da infância. Intervenções precoces costumam resultar em ganhos de linguagem, sociabilidade e independência.

Em paralelo, muitos adultos que não receberam diagnóstico na infância chegam à avaliação em fases posteriores da vida, especialmente mulheres cujas manifestações podem ter sido menos evidentes ou mascaradas por estratégias sociais. Nestes casos, o reconhecimento formal do TEA contribui para a autoaceitação e o acesso a recursos de apoio, demonstrando que o transtorno acompanha o indivíduo ao longo de toda a existência e pode ser manejado em qualquer etapa.

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