Árvores que atraem raios desafiam a lógica na floresta
Árvores que atraem raios desafiam a lógica na floresta
Árvores que atraem raios desafiam a lógica na floresta ao converter descargas elétricas, normalmente fatais, em impulso de crescimento e reprodução, mostram dados colhidos no Panamá.
Árvores que atraem raios desafiam a lógica na floresta
Entre 2014 e 2019, pesquisadores monitoraram 94 raios que acertaram 93 árvores em uma ilha coberta por floresta tropical no centro do Panamá, uma das regiões mais instrumentadas do planeta para esse fenômeno. Câmeras de alta velocidade e sensores em torres mediram a localização exata de cada descarga. O estudo foi descrito na revista Eos, referência em pesquisas ambientais.
Os resultados confirmaram o que já se suspeitava: os raios são um importante agente de mortalidade; cerca de 25 % dos indivíduos atingidos acabaram morrendo. A exceção ficou por conta da Dipteryx oleifera, conhecida localmente como almendro. Dos nove exemplares avaliados após impactos diretos, nenhum pereceu. A copa chegou a perder ramos, mas se recuperou rapidamente, enquanto plantas parasitas e vizinhas sofreram grandes danos.
A corrente elétrica percorre as copas interligadas; assim, quando o almendro recebe a descarga, lianas grudadas ao tronco são queimadas e árvores concorrentes ao redor apodrecem. O percurso do raio cria pequenas clareiras, aumentando a incidência de luz, o acesso a água e nutrientes. Modelos aplicados aos dados indicam que a produção de sementes da espécie pode crescer até 14 vezes ao longo de sua vida, estimada em cerca de 300 anos, período em que cada gigante pode ser atingido em média cinco vezes.
A vantagem biológica parece estar ligada a dois fatores principais. Primeiro, o tecido do almendro possui maior condutividade, reduzindo o aquecimento interno e o risco de explosão do tronco. Segundo, a arquitetura da árvore — altura elevada e copa larga — a transforma em para-raios natural. Essas características, favorecidas geração após geração, sugerem um processo evolutivo que não evita o perigo, mas o abraça.
Embora o almendro seja o caso mais claro, os autores destacam que outras espécies podem apresentar resiliência semelhante; faltam, porém, séries históricas tão detalhadas quanto a panamenha. Mapas de descargas em florestas amazônicas e africanas devem ampliar o catálogo de “sobreviventes elétricos” e ajudar a prever como diferentes ecossistemas responderão a mudanças no padrão de tempestades em um clima em transformações.
Para quem pesquisa dinâmica florestal, entender quais traços tornam certas árvores imunes aos raios é essencial para modelar ciclagem de carbono, biodiversidade e riscos de incêndio. A partir desses dados, políticas de conservação podem priorizar espécies-chave capazes de sustentar o dossel mesmo sob condições meteorológicas extremas.
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Crédito da imagem: streetflash / Shutterstock

Imagem: streetflash