A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a suspensão imediata da comercialização de anéis que alegam medir os níveis de glicose no sangue apenas pelo contacto com a pele. A decisão, publicada na terça-feira, 2 de Setembro, abrange ainda a produção, distribuição, importação e promoção destes dispositivos, que não possuem qualquer registo nem eficácia comprovada.
Dispositivos não registados representam risco para o consumidor
De acordo com a autoridade reguladora brasileira, os anéis são anunciados nas redes sociais como alternativa indolor aos tradicionais medidores de glicose que requerem uma pequena amostra de sangue. As publicidades prometem monitorizar a glicemia, a frequência cardíaca e a saturação de oxigénio, atraindo pessoas com fobia a agulhas ou que procuram soluções tecnológicas de saúde.
A Anvisa esclarece, no entanto, que não existe evidência científica que comprove a capacidade destes acessórios para realizar medições clínicas fiáveis. Por não estarem devidamente homologados, não há garantia de qualidade, segurança ou precisão, o que pode levar a diagnósticos incorretos e atrasar o tratamento de condições como diabetes ou hipoglicemia.
Modelos abrangidos pela proibição
A medida atinge, sem exceção, todos os lotes dos seguintes produtos:
• Anel para Acupressão Glucomax
• Glicomax
• Glucomax
• Glucomax Pro
A agência frisa que qualquer variação de nome ou embalagem dos referidos dispositivos também está proibida. O público é incentivado a denunciar ofertas destes artigos através da linha telefónica 0800-642-9782 ou da ouvidoria oficial.
Estratégias de marketing exploravam figuras públicas
Relatórios da Anvisa apontam que anúncios pagos no Instagram, Facebook e TikTok direcionavam potenciais compradores para lojas virtuais, muitas vezes utilizando imagens de personalidades conhecidas sem autorização. A prática, além de promover um produto irregular, induzia o consumidor a acreditar que se tratava de uma solução recomendada por profissionais ou celebridades.
Segundo o órgão, esta abordagem agrava o risco sanitário, pois aumenta o alcance da publicidade enganosa e dificulta a identificação da origem do dispositivo, frequentemente importado de fabricantes sem qualquer controlo de qualidade.
Medição de glicose continua dependente de métodos validados
O Ministério da Saúde brasileiro reforça que o método padronizado para monitorização diária da glicemia é o glicosímetro, aparelho que analisa uma gota de sangue retirada da ponta do dedo com uma lanceta esterilizada. A técnica é amplamente estudada, tem certificação de agências internacionais e fornece resultados confiáveis para ajustar doses de insulina ou outros tratamentos.
Apesar de avanços recentes em sensores subcutâneos e tecnologias não invasivas em fase de desenvolvimento, ainda não há equipamento aprovado que realize a medição sem qualquer contacto com fluidos corporais. A utilização de produtos não validados pode mascarar valores críticos de açúcar no sangue, atrasando a procura de cuidados médicos e colocando em risco a saúde do utilizador.
Orientações ao consumidor
A Anvisa recomenda que pessoas com diabetes, pré-diabetes ou fatores de risco consultem profissionais de saúde antes de adquirirem qualquer dispositivo de monitorização não registado. Caso tenham comprado algum dos anéis agora interditos, devem interromper o uso de imediato e procurar orientação para métodos de medição seguros.
O órgão sublinha que, além da precisão dos resultados, dispositivos médicos precisam cumprir requisitos de fabricação, armazenamento e transporte, algo que só é assegurado através do registo oficial. Produtos sem certificação podem conter materiais alergénicos, componentes eletrónicos de baixa qualidade e apresentar falhas de funcionamento.
Com a decisão, a Anvisa pretende travar a circulação de dispositivos que explorem a procura crescente por soluções de saúde conectada sem oferecer garantias mínimas de eficácia. A vigilância continuará a monitorizar plataformas digitais para identificar novas tentativas de comercialização irregular.