Anvisa detecta agrotóxicos irregulares em 20,6% dos alimentos avaliados no PARA 2024

agrotóxicos irregulares apareceram em pouco mais de um quinto das amostras analisadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no ciclo 2024 do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Ao todo, 3.084 coletas de 14 alimentos comuns na mesa do brasileiro passaram por exames laboratoriais que identificaram 20,6% de não conformidades e 12 casos com potencial risco agudo ao consumidor.
- Como o PARA 2024 identificou agrotóxicos irregulares nos alimentos
- Principais números: 20,6% de amostras com agrotóxicos irregulares
- Amostras com risco agudo: uva, laranja e abobrinha em destaque
- Evolução histórica indica queda na frequência de agrotóxicos irregulares
- Recomendações da Anvisa para reduzir a ingestão de agrotóxicos irregulares
- Próximos passos do programa e impacto na segurança alimentar
Como o PARA 2024 identificou agrotóxicos irregulares nos alimentos
O PARA é executado em ciclos plurianuais e adota um desenho estatístico que cobre diferentes pontos da cadeia de distribuição de alimentos. No ciclo divulgado, as coletas ocorreram semanalmente em 88 municípios distribuídos por todas as regiões do país. Supermercados, feiras livres e sacolões foram visitados por técnicos para recolher porções de frutas, legumes e verduras que, posteriormente, seguiram para laboratórios de referência credenciados pela própria Anvisa.
Nos laboratórios, 3.084 amostras passaram por análises cromatográficas e espectrométricas capazes de rastrear até vestígios mínimos de 338 substâncias autorizadas ou proibidas no Brasil. Cada amostra foi comparada a três parâmetros: se o resíduo era permitido para aquela cultura específica, se o nível encontrado ultrapassava o Limite Máximo de Resíduo (LMR) estabelecido em norma e se a molécula constava na lista de produtos totalmente banidos do território nacional.
A partir desse conjunto de critérios, o órgão classificou cada porção como satisfatória ou insatisfatória e calculou o índice geral de não conformidade. Quando a concentração excedia o LMR ou se tratava de substância vedada, avaliou-se ainda o risco agudo — a possibilidade de efeitos adversos à saúde após ingestão elevada em curto intervalo de tempo.
Principais números: 20,6% de amostras com agrotóxicos irregulares
Entre as 3.084 amostras empreendidas, 636 foram consideradas insatisfatórias. A quebra desse total revela três cenários distintos de irregularidade:
• Resíduos não permitidos para a cultura amostrada: 12,2% (375 amostras). Essa situação ocorre quando o produto químico é autorizado em outras lavouras, mas não na espécie agrícola analisada.
• Resíduos acima do LMR: 5,6% (174 amostras). Mesmo substâncias aprovadas podem configurar irregularidade se ultrapassarem a dose máxima definida para consumo seguro.
• Agrotóxicos proibidos: 0,1% (aproximadamente três amostras). Trata-se de moléculas cuja fabricação, comercialização e uso já foram barrados em território nacional.
Apesar de o percentual geral de não conformidade superar um quinto do universo analisado, somente 12 amostras (0,39%) configuraram risco agudo, valor considerado baixo diante do volume total investigado e inferior à faixa observada em ciclos anteriores.
Amostras com risco agudo: uva, laranja e abobrinha em destaque
Os 12 casos classificados como de risco agudo envolveram três alimentos: uva (seis amostras), laranja (cinco amostras) e abobrinha (uma amostra). Neles, a Agência identificou concentrações capazes de provocar efeitos adversos se ingeridas em grande quantidade num único dia. As substâncias encontradas foram:
• Abamectina – detectada em uma amostra de uva;
• Bifentrina – detectada em uma amostra de uva;
• Etefom – presente em cinco amostras de uva;
• Carbofurano – presente em duas amostras de laranja;
• Imazalil – presente em três amostras de laranja;
• Formetanato – detectado em uma amostra de abobrinha.
Cada uma dessas moléculas possui toxicidade específica e limites próprios de exposição. Por isso, a combinação entre o tipo de alimento, o teor medido e o consumo médio diário da população é o que determina o enquadramento de risco.
Evolução histórica indica queda na frequência de agrotóxicos irregulares
A Anvisa compara resultados de diferentes ciclos para avaliar tendências. Entre 2013 e 2015, a incidência de amostras com potencial risco agudo era de 1,11%. No ciclo atual, mesmo com a ampliação do total de amostras e do leque de substâncias pesquisadas, o índice caiu para 0,39%. Essa redução sugere melhoria gradativa nas práticas agrícolas, maior aderência aos limites legais ou, ainda, efeito de ações de fiscalização e de conscientização promovidas pelo programa.
Outro reflexo prático da iniciativa é a regulação direta de produtos. Desde a implantação do PARA, mais de 100 formulações comerciais deixaram o mercado brasileiro. Além disso, 17 princípios ativos passaram por reavaliação toxicológica, processo que culminou no banimento de 10 e na imposição de restrições de uso a outros seis. Esses desdobramentos reforçam o papel do monitoramento oficial na atualização contínua da legislação de agrotóxicos.
Recomendações da Anvisa para reduzir a ingestão de agrotóxicos irregulares
Embora o relatório forneça um retrato laboratorial, o consumidor pode adotar medidas simples para minimizar sua exposição diária:
Lavar em água corrente: a retirada mecânica de partículas é o primeiro passo e deve ser feita folha por folha ou unidade por unidade.
Uso de bucha ou escovinha exclusiva: frutas de casca firme, como laranja, ou hortaliças de superfície rugosa, como abobrinha, se beneficiam da escovação suave para remover resíduos aderidos.
Preferir alimentos da estação: cultivos sazonais tendem a demandar menos defensivos em função de condições climáticas favoráveis e menor pressão de pragas.
Dar preferência a produtos rastreáveis: itens acompanhados de rótulo com origem, lote e produtor permitem acionar sistemas de fiscalização caso problemas sejam detectados.
Desinfecção com hipoclorito: a solução clorada padronizada elimina microrganismos, reduzindo risco microbiológico. Embora não remova resíduos químicos já internalizados, complementa a higienização superficial.
Próximos passos do programa e impacto na segurança alimentar
O PARA é contínuo e já tem novo ciclo previsto para 2025. A fase futura deve expandir o número de amostras e priorizar alimentos de grande consumo, o que tende a gerar amostra estatística ainda mais robusta sobre a presença de agrotóxicos irregulares na cadeia alimentar brasileira. Esses dados subsidiam não apenas ações de fiscalização, mas também políticas públicas voltadas à saúde, ao meio ambiente e à transparência na produção agrícola.

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