Aminoácido ligado à “molécula da felicidade” é encontrado no asteroide Bennu, reforçando hipóteses sobre origem da vida

A detecção do aminoácido triptofano em amostras do asteroide Bennu obtidas pela missão OSIRIS-REx representa um marco para a astrobiologia e fornece dados concretos sobre a possível contribuição de corpos celestes na formação das primeiras moléculas biológicas na Terra.
- Descoberta inédita no asteroide Bennu amplia catálogo de compostos orgânicos
- O que torna o triptofano crucial para a vida e sua ligação com a “molécula da felicidade”
- Como a missão OSIRIS-REx coletou e preservou o material do asteroide Bennu
- Contexto científico: outras moléculas já identificadas no asteroide Bennu
- Implicações da presença de triptofano para a origem da vida na Terra
- Perfil orbital e risco potencial do asteroide Bennu para o planeta
Descoberta inédita no asteroide Bennu amplia catálogo de compostos orgânicos
Um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences anunciou que o triptofano, precursor de substâncias vitais aos organismos terrestres, foi identificado pela primeira vez em material extraterrestre. A análise foi conduzida por uma equipe multidisciplinar que examinou 121,6 gramas de regolito trazidas do asteroide Bennu. Até então, esse aminoácido nunca havia sido observado em meteoritos ou em outras amostras cósmicas. A novidade se soma à lista já confirmada de compostos orgânicos presentes fora da Terra, que inclui as cinco nucleobases do DNA e do RNA, bem como catorze aminoácidos previamente relatados.
A presença do triptofano foi confirmada por técnicas laboratoriais de alta sensibilidade, capazes de detectar moléculas em concentrações ínfimas. Os resultados solidificam a ideia de que matéria-prima química essencial para a vida pode ser sintetizada em ambientes espaciais e, posteriormente, entregue a planetas em formação. Esse cenário contribui para explicar como moléculas complexas chegaram à superfície terrestre há bilhões de anos.
O que torna o triptofano crucial para a vida e sua ligação com a “molécula da felicidade”
O triptofano desempenha papel central em vias metabólicas conhecidas. No metabolismo humano, o aminoácido atua como base na produção de serotonina, neurotransmissor muitas vezes apelidado de “molécula da felicidade” devido à sua relação com bem-estar, regulação de humor e funções cognitivas. A mesma rota biossintética conduz à formação de melatonina, hormônio que regula o ciclo do sono, e de nicotinamida, forma da vitamina B3 importante para processos energéticos celulares.
Desse modo, identificar triptofano em um corpo celeste como Bennu fortalece o argumento de que compostos relacionados à saúde fisiológica moderna poderiam ter origem em ambientes sem qualquer participação biológica prévia. Além disso, a descoberta complementa achados anteriores do próprio asteroide, onde já havia sido relatada a presença de um derivado de vitamina B3, mostrando coerência entre os conjuntos de dados obtidos.
Como a missão OSIRIS-REx coletou e preservou o material do asteroide Bennu
A OSIRIS-REx, missão da NASA lançada em 2016, teve como objetivo principal coletar amostras de Bennu e trazê-las intactas à Terra. Após um mapeamento detalhado da superfície, a sonda pousou brevemente em 20 de outubro de 2020, utilizando um dispositivo chamado TAGSAM para aspirar fragmentos do solo. O procedimento durou poucos segundos, minimizando aquecimento e exposição excessiva à radiação solar, fatores que poderiam degradar moléculas frágeis.
Logo após a coleta, o recipiente de amostras foi lacrado hermeticamente, mantendo temperatura e pressão controladas durante a viagem de retorno. Essa logística cuidadosa explica por que o triptofano, sensível a oxidação e à ação de raios cósmicos, conseguiu chegar aos laboratórios terrestres sem se decompor. Pesquisadores enfatizam que a preservação do material foi determinante para a observação de substâncias que, em meteoritos encontrados na superfície terrestre, podem se perder após a entrada na atmosfera ou durante o impacto.
Contexto científico: outras moléculas já identificadas no asteroide Bennu
Antes do anúncio sobre o triptofano, estudos baseados nas mesmas amostras de Bennu haviam detectado adenina, citosina, guanina, timina e uracila, as cinco bases nucleotídicas que formam DNA e RNA. Além delas, catorze aminoácidos foram certificados, demonstrando a diversidade química existente em corpos rochosos relativamente pequenos. Esse inventário substancia a tese de que etapas prebióticas importantes não dependem exclusivamente de ambientes planetários.
A constatação de uma variante de vitamina B3 no regolito do asteroide Bennu fortalece o vínculo entre os novos resultados e pesquisas anteriores. Ao reunir nucleobases, vitaminas e aminoácidos na mesma matriz mineral, Bennu surge como exemplo concreto de corpo primitivo capaz de carregar um “kit químico” indispensável para estruturas biológicas complexas. Tais observações permitem aos cientistas modelar cenários nos quais colisões de asteroides foram agentes de entrega de ingredientes essenciais a oceanos primitivos da Terra.
Implicações da presença de triptofano para a origem da vida na Terra
Os autores do estudo argumentam que moléculas orgânicas podem se formar durante a fase de acreção de pequenos corpos celestes. No caso do triptofano, a síntese pode ocorrer em grãos de gelo e poeira sujeitos a radiação ultravioleta e reações químicas catalisadas por minerais metálicos. Depois, essas partículas se aglutinam, criando asteroides como Bennu que preservam compostos gerados nos estágios iniciais do Sistema Solar.
Uma vez estabelecido esse contexto, impactos em planetas jovens oferecem rota plausível para a transferência de matéria orgânica. A ideia, comumente chamada de “entrega exógena”, propõe que meteoritos tenham fornecido blocos de construção molecular necessários ao surgimento de organismos. O achado do triptofano acrescenta aminoácidos aromáticos à lista de substâncias confirmadas fora da Terra, ampliando a variedade química disponível para reações de polimerização e formando cadeias de proteínas ancestrais.
Perfil orbital e risco potencial do asteroide Bennu para o planeta
Com diâmetro aproximado de 500 metros, Bennu segue órbita que cruza periodicamente a trajetória terrestre. Cálculos da NASA estimam probabilidade de 1 em 1.750 de colisão até o ano 2300, valor significativo em escala astronômica. O momento de maior risco apontado nos modelos atuais recai em 24 de setembro de 2182, quando a distância entre o asteroide e a Terra poderá atingir nível crítico, dependendo de perturbações gravitacionais anteriores.
Além do interesse científico sobre a origem da vida, estudar o asteroide Bennu possui relevância prática na avaliação de ameaças. Análises químicas, estruturais e dinâmicas ajudam a compreender como o objeto se comportaria em eventual aproximação perigosa. Conhecer sua composição, por exemplo, orienta estratégias de desvio, pois densidade e coesão interferem na eficácia de métodos de deflexão.
Enquanto novas fases de pesquisa prosseguem nos laboratórios, a comunidade científica acompanha os desdobramentos orbitais de Bennu. De acordo com as projeções mais recentes, o período de maior atenção permanece marcado para 24 de setembro de 2182, data que servirá de referência para avaliações futuras sobre a trajetória do asteroide e seu potencial impacto na Terra.

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