Airbus identifica falha industrial em painéis do A320 dias após recall histórico de software

Airbus comunicou um novo contratempo envolvendo a família A320 poucos dias depois de anunciar o maior recall de sua história. A fabricante europeia declarou que identificou uma falha de qualidade em painéis metálicos fornecidos por um único parceiro industrial. Segundo a empresa, a causa já foi determinada, o lote defeituoso foi isolado e os itens produzidos a partir de então obedecem aos requisitos estabelecidos. O episódio não atinge aeronaves atualmente em serviço, mas acrescenta pressão sobre a companhia, que segue empenhada na atualização emergencial de software em cerca de seis mil jatos do mesmo modelo.
Quem está envolvido
A protagonista da ocorrência é a Airbus, responsável pela produção da família A320, hoje o avião comercial mais entregue no mundo. O problema adicional afeta componentes fabricados por um fornecedor cuja identidade não foi revelada. Do lado operacional, companhias aéreas em todos os continentes participam do esforço de corrigir o software vulnerável, enquanto observam a evolução do novo alerta sobre painéis metálicos. Ainda que a falha industrial não envolva aeronaves em operação, o mercado reagiu: as ações da Airbus encerraram o dia com queda de 5,9% em Nova York.
O que aconteceu
Na semana anterior, a Airbus iniciou um recall que alcança mais da metade da frota global da família A320 — cerca de 6,0 mil unidades de um total aproximado de 6,44 mil aeronaves em serviço. A intervenção visa substituir a versão de um software suscetível à radiação solar, falha que se manifestou em um voo comercial da JetBlue entre Cancún (México) e Newark (Estados Unidos) em 30 de outubro. Após perda repentina de altitude, o Airbus A320 envolvido desceu em emergência em Tampa, na Flórida, levando passageiros ao hospital. A partir desse ponto, autoridades de aviação civil de vários países ordenaram a paralisação temporária dos jatos enquanto a correção não fosse aplicada.
O reparo consiste, na maior parte dos casos, na reinstalação de uma versão anterior do programa de controle de voo. A Airbus calcula que o procedimento leva cerca de duas horas por aeronave; menos de 100 unidades exigirão intervenção de software mais complexa ou eventual troca de hardware.
Em paralelo, a companhia comunicou nesta segunda-feira que painéis metálicos fornecidos por um terceiro apresentam defeitos de qualidade. A dimensão exata do lote impactado não foi divulgada, mas a empresa garante ter contido a anomalia antes que chegasse à linha de montagem de aeronaves destinadas a clientes.
Quando e onde o recall mobilizou a aviação
A paralisação preventiva começou na noite de sexta-feira, 28 de novembro, quando reguladoras de tráfego aéreo na Europa, Ásia e América Latina emitiram orientações para manter em solo as aeronaves A320 não atualizadas. Durante o fim de semana, companhias aéreas conduziram mutirões de manutenção em hangares e pátios remotos para aplicar a correção. A retomada gradual dos voos começou na segunda-feira, 1.º de dezembro, com a maioria dos aeroportos registrando níveis de atraso considerados moderados.
No Reino Unido, a Autoridade de Aviação Civil informou que as transportadoras locais trabalharam durante a madrugada, evitando impacto significativo no movimento aéreo. Heathrow não registrou cancelamentos, Gatwick relatou interrupções pontuais, e Manchester não antecipou problemas relevantes. No Austrália, a Jetstar cancelou 90 voos, mas a maior parte da frota já havia sido atualizada antes do início da semana. Na Nova Zelândia, a Air New Zealand manteve seus A320 no solo até concluir o processo, retomando todas as operações em seguida.
Nos Estados Unidos, a American Airlines — maior operadora global da família A320 — declarou que 209 de seus 480 aviões precisavam da correção. A expectativa da empresa era finalizar a maior parte das atualizações até o fim da segunda-feira. Outras companhias norte-americanas listadas entre os maiores usuários do modelo, como Delta, JetBlue e United, também submeteram suas frotas ao procedimento.
Pela Europa continental, a húngara Wizz Air comunicou ter atualizado todas as aeronaves afetadas durante a noite de sábado. A Air France cancelou 38 voos, equivalente a 5% de sua operação diária, para acomodar manutenção, enquanto a Lufthansa anteviu atrasos limitados ao fim de semana. Dados de serviços de rastreamento de tráfego indicaram níveis de pontualidade entre moderados e bons na maioria dos terminais europeus.
No Kuwait, a autoridade de aviação concluiu a atualização em toda a frota nacional. Na Colômbia, a Avianca, cuja frota tem predominância de A320, suspendeu a venda de passagens até 8 de dezembro porque mais de 70% de seus aviões estavam sujeitos ao recall. Na Índia, o regulador identificou 338 aeronaves envolvidas. A IndiGo já havia concluído a correção em 160 de suas 200 unidades, enquanto a Air India atualizou 42 de 113 e alertou para possíveis atrasos.
A Taiwan Civil Aeronautics Administration calculou que dois terços de 67 A320 e A321 em operação precisavam da intervenção. Em Macau, a autoridade local instruiu a Air Macau a reorganizar voos para mitigar impactos. No Japão, a ANA Holdings cancelou 95 voos no sábado, afetando 13,5 mil passageiros; sua principal concorrente, Japan Airlines, não opera A320 e não foi afetada.
No Brasil, apenas Azul e Latam utilizam o modelo. Ambas afirmaram que suas operações nacionais não necessitaram de recall. A Latam observou impacto “muito limitado” em afiliadas de outros países sul-americanos, mas sem reflexo nos voos partindo de aeroportos brasileiros.
Como o conserto está sendo realizado
A Airbus orientou as companhias a reinstalar um software anterior, considerado estável, até que um pacote definitivo seja aprovado pelas agências reguladoras. Equipes de manutenção receberam kits de atualização que incluem mídia física com o programa, instruções detalhadas e checklist de verificação. Quando o módulo de controle de voo é reprogramado, técnicos realizam testes de movimentação de superfícies, calibram sensores e liberam a aeronave para um voo de checagem ou retorno direto à linha comercial, dependendo do regulamento local.
Para os aviões que demandam intervenção de hardware — menos de 100 unidades, segundo a Airbus — a substituição abrange placas eletrônicas adicionais. Esse processo exige remoção do painel de controle, inspeção de cabeamento e reconfiguração do sistema, podendo estender o tempo de permanência em solo além das duas horas previstas para o reparo padrão.
Por que o episódio preocupa o setor
O recall ocorre em um momento em que oficinas de manutenção já enfrentam escassez de mão de obra qualificada e dificuldade para obter peças de reposição. Executivos consultados pelo mercado veem possibilidade de aumento nos custos das companhias aéreas, que precisam reposicionar tripulações, arcar com despesas de passageiros e readequar malha de voos.
Além disso, o caso acontece poucas semanas depois de a família A320 ultrapassar o Boeing 737 em número de entregas acumuladas. A sequência de exigências técnicas — software vulnerável e, agora, painéis com defeito de fabricação — representa um revés de imagem para a fabricante europeia.
Declarações da liderança
Em mensagem distribuída aos clientes, o CEO Guillaume Faury pediu desculpas pelos “desafios e atrasos” gerados tanto pela falha de software quanto pelo problema de painéis metálicos. O executivo assegurou que as equipes de engenharia e produção estão “trabalhando com a máxima rapidez” para mitigar riscos e restabelecer a plena confiança das companhias aéreas e dos passageiros.
Consequências imediatas
Mesmo sem afetar aeronaves em linha de voo, o defeito industrial anunciado nesta segunda-feira intensifica a atenção dos órgãos reguladores sobre as cadeias de suprimento da Airbus. A empresa informou ter reforçado inspeções nos estoques e nos lotes ainda em produção. Paralelamente, a atualização de software prossegue: companhias que iniciaram o processo na sexta-feira já devolvem aeronaves à operação regular, enquanto as que mantiveram aviões no solo no fim de semana buscam recuperar a normalidade da malha ao longo da semana.
Com cerca de 11,3 mil aeronaves da Airbus em serviço globalmente — 6,44 mil somente da família A320 — a conclusão integral do recall permanece como prioridade para a fabricante e para as companhias aéreas. A rápida solução da falha de painéis metálicos recém-detectada será acompanhada de perto por investidores e autoridades, que avaliarão a capacidade da empresa de manter o ritmo de produção diante de inspeções adicionais e de eventuais ajustes na linha de suprimentos.

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