Aplicação de adrenalina na veia: riscos, indicações restritas e lições do caso Benício em Manaus

Uma criança de dois anos morreu em Manaus após receber adrenalina diretamente na veia, fato que levou a Polícia Civil a ouvir a médica responsável pela prescrição e a técnica de enfermagem que aplicou o medicamento. O episódio trouxe à tona uma questão fundamental na medicina de emergência: quando a administração intravenosa de adrenalina é realmente segura e quais perigos estão associados ao uso inadequado dessa substância essencial em situações críticas.
- O que se sabe sobre o caso do menino Benício
- Adrenalina: hormônio natural e medicamento crítico
- Vias de administração reconhecidas no Brasil
- Por que a via intravenosa é a mais arriscada
- Particularidades pediátricas
- Consequências do uso inadequado
- Orientações oficiais para profissionais de saúde
- Diferenças entre administração intramuscular e nebulização
- Lições extraídas da tragédia em Manaus
- Quando a adrenalina intravenosa continua indispensável
- Importância da vigilância pós-administração
- Reflexo sobre políticas públicas e educação em saúde
O que se sabe sobre o caso do menino Benício
De acordo com registros oficiais, o paciente apresentava tosse e suspeita de laringite, quadro habitualmente manejado com terapias menos invasivas, como nebulização ou medicamentos por via oral. Apesar disso, a prescrição emitida determinou a aplicação de adrenalina por via intravenosa. Ainda segundo a documentação, a profissional de saúde reconheceu ter indicado a via incorretamente, ponto que passou a ser investigado para apurar eventual erro de conduta.
A técnica de enfermagem que realizou o procedimento relatou nunca ter administrado o fármaco na corrente sanguínea de uma criança. Ela e a médica prestaram depoimento, e o prontuário médico foi anexado como prova. A investigação busca determinar se houve negligência ou falha no cumprimento de protocolos reconhecidos pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Adrenalina: hormônio natural e medicamento crítico
A adrenalina, também chamada de epinefrina, é produzida naturalmente pelas glândulas suprarrenais e liberada em momentos de estresse ou perigo para preparar o organismo para ação rápida — fenômeno popularmente conhecido como “luta ou fuga”. Além de hormônio, o composto é amplamente utilizado na prática médica para reverter emergências como:
• Reações alérgicas graves (anafilaxia)
• Colapso circulatório
• Parada cardiorrespiratória
Nessas circunstâncias, a droga atua dilatando as vias aéreas, aumentando a força de contração do coração e elevando a pressão arterial, efeitos que podem salvar vidas em questão de segundos.
Vias de administração reconhecidas no Brasil
Documentos técnicos do Ministério da Saúde e orientações da Anvisa descrevem três rotas possíveis para o uso da adrenalina injetável:
• Intramuscular (IM) – considerada a via preferencial em quadros de anafilaxia por garantir absorção rápida, porém controlada.
• Subcutânea (SC) – alternativa menos comum, com absorção ainda mais lenta que a IM.
• Intravenosa (IV) – reservada a emergências críticas, principalmente paradas cardíacas ou choque circulatório refratário, sempre sob monitorização rigorosa.
Por que a via intravenosa é a mais arriscada
Quando injetada diretamente na veia, a adrenalina alcança picos plasmáticos em poucos segundos, desencadeando efeitos cardiovasculares intensos. O risco imediato, descrito em bulas e guias clínicos, inclui taquicardia extrema, arritmias potencialmente fatais, dificuldade respiratória, palidez súbita e, em casos graves, colapso hemodinâmico.
Para minimizar tais efeitos, os protocolos indicam doses pequenas, diluição apropriada e monitorização constante de frequência cardíaca, pressão arterial e saturação de oxigênio. Mesmo em adultos, essa vigilância é mandatória; em crianças, cujo sistema cardiovascular é mais sensível, o cuidado deve ser redobrado.
Particularidades pediátricas
Manuais pediátricos apontam que crianças necessitam doses proporcionalmente menores de adrenalina. Qualquer margem de erro na quantidade administrada ou na escolha da via pode gerar efeito desproporcional, elevando significativamente o perigo de eventos adversos. Por essa razão, recomenda-se, na maioria das situações respiratórias pediátricas, optar pela nebulização ou pela via intramuscular, métodos que entregam o medicamento de forma menos brusca.
Consequências do uso inadequado
Quando a adrenalina entra na circulação a uma velocidade que o organismo não consegue compensar, o resultado pode ser dramático. Documentos oficiais alertam para:
• Arritmias ventriculares, que comprometem a capacidade de bombeamento do coração.
• Hipertensão repentina, capaz de romper vasos frágeis.
• Angina ou infarto em indivíduos suscetíveis, mesmo jovens.
• Lesão tecidual local se a aplicação for repetida na mesma região.
No caso de Benício, a suspeita de laringite não figura entre as indicações clássicas para a via intravenosa. A discrepância entre diagnóstico e escolha da rota reforça a necessidade de auditoria criteriosa nos fluxos de prescrição em unidades de pronto-atendimento.
Orientações oficiais para profissionais de saúde
Tanto o Ministério da Saúde quanto a Anvisa determinam que a adrenalina seja tratada como intervenção crítica. As normas incluem:
• Conferência dupla de dose e via antes da administração.
• Disponibilidade de equipamento de monitorização (cardioscópio, oxímetro) quando usada IV.
• Capacitação contínua da equipe, com ênfase em cenários pediátricos.
• Registro completo em prontuário para rastreamento em caso de eventos adversos.
Diferenças entre administração intramuscular e nebulização
No manejo de alergias severas, a via intramuscular oferece equilíbrio entre rapidez e segurança. A absorção ocorre em minutos, prevenindo queda abrupta de pressão arterial e broncoespasmo sem provocar, na maior parte dos casos, arritmias graves.
Já a nebulização utiliza a forma de adrenalina em solução aerossol, alcançando diretamente as vias aéreas superiores. É indicada para certas obstruções benignas das vias respiratórias — como a laringite — por atuar localmente e exercer impacto limitado sobre o sistema cardiovascular.
Lições extraídas da tragédia em Manaus
O falecimento do menino Benício demonstra que o simples detalhe da via de administração pode definir o desfecho de um atendimento. O episódio impulsionou debates dentro da comunidade médica sobre:
• Adesão a protocolos nacionais – garantindo que condutas estejam alinhadas aos guias vigentes.
• Treinamento de profissionais – especialmente aqueles que atuam em pronto-atendimento pediátrico.
• Revisão de processos de prescrição eletrônica ou manual – para reduzir a possibilidade de selecionar a via errada.
Quando a adrenalina intravenosa continua indispensável
Apesar dos riscos, a via IV permanece insubstituível em cenários específicos. Durante paradas cardiorrespiratórias, por exemplo, a administração rápida é necessária para restaurar a circulação. Nessas circunstâncias, a dose recomendada é cuidadosamente calculada e aplicada com suporte de monitores, desfibrilador e equipe treinada em reanimação.
Importância da vigilância pós-administração
Independentemente da via escolhida, os documentos técnicos salientam que o paciente deve ser observado continuamente por um período variável, a fim de detectar efeitos colaterais tardios. Palidez súbita, sudorese intensa ou alterações no ritmo cardíaco indicam a necessidade de intervenção imediata.
Reflexo sobre políticas públicas e educação em saúde
Casos como o de Manaus instigam gestores a avaliar programas de capacitação e a reforçar campanhas sobre uso racional de medicamentos de alto risco. Uma das estratégias discutidas em instituições de saúde envolve simulações realísticas de emergências, nas quais equipes treinam a seleção correta da dose e da via, reduzindo a chance de erro humano.
Em conclusão factual, a adrenalina é unanimemente reconhecida como um dos pilares da medicina de emergência. Usada nas doses corretas e pela via adequada, salva incontáveis vidas. Entretanto, qualquer desvio de protocolo, sobretudo em pacientes pediátricos, eleva substancialmente o risco de complicações graves. As informações apresentadas têm caráter estritamente informativo e não substituem avaliação presencial de profissionais habilitados.

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