Acesso à inteligência artificial revela desigualdade global

Acesso à inteligência artificial revela desigualdade global. A velocidade com que a inteligência artificial (IA) avança como motor de produtividade contrasta com a dificuldade de grande parte da população em chegar até ela.
Antes de interagir com robôs de conversação ou algoritmos preditivos, é preciso ter conexão à internet. Hoje, 5,5 bilhões de pessoas estão on-line, enquanto 2,6 bilhões continuam fora da rede – quase um terço do planeta.
Acesso à inteligência artificial revela desigualdade global
O recorte por renda expõe a disparidade: em economias de alta renda, a internet alcança 93% dos habitantes; nas de baixa renda, somente 27%. A lacuna se repete na infraestrutura móvel. O 5G já cobre 51% da população mundial, mas chega a 84% nos países ricos e a apenas 4% nos mais pobres. No campo, 29% dos moradores têm acesso à quinta geração de redes móveis, ante 67% nas cidades.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) calcula que 32% dos trabalhadores urbanos já atuam em funções expostas à IA generativa, proporção que cai para 21% no meio rural. Em determinadas regiões, o salto vai de 45% nas metrópoles a 13% no interior, ampliando diferenças de renda e produtividade dentro do mesmo país.
Nos Estados Unidos, um em cada seis profissionais utiliza IA em parte do trabalho e cerca da metade teme os efeitos futuros da tecnologia nos empregos. No Brasil, mais de 20 milhões de pessoas – quase 10% da população – continuam desconectadas, sobretudo por questões de custo e de percepção de necessidade.
Especialistas apontam caminhos para reduzir o fosso digital. A expansão de redes em áreas de baixo retorno financeiro requer políticas públicas claras, metas consistentes e fiscalização social. Programas de alfabetização digital, voltados especialmente a adultos e idosos, devem oferecer trilhas práticas e certificação reconhecida pelo mercado. Subsídios à compra de dispositivos e à conectividade podem incluir pacotes essenciais de saúde, educação, serviços públicos e trabalho remoto, gerando valor imediato.
No setor privado, práticas responsáveis de desenvolvimento passam pela auditoria sobre representatividade de dados e pela mensuração do impacto em populações vulneráveis, com transparência e participação social. A União Internacional de Telecomunicações (ITU) reforça que o futuro da IA depende de integração efetiva de quem ainda não tem voz na discussão.
Inteligência, portanto, exige escutar usuários à margem, redesenhar produtos a partir da borda e medir sucesso por inclusão real. Somente assim a promessa de “IA para todos” deixa de ser slogan e se torna política pública e estratégia empresarial.
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Crédito: KoSSSmoSSS/Shutterstock

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